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A Voz do Pastor › 09/05/2022

A Virgem Maria na formação Intelectual e Espiritual

Celebramos com alegria o mês de maio. Mês em que lembramos, com carinho e amor, a Mãe de Deus e nossa, a “cheia do Espírito Santo” e de graça. Modelo de vida para todo batizado(a).

Existe um documento da Igreja, de março de 1988, que nos ensina a ver em Maria, mãe de Jesus, um verdadeiro exemplo para nossas vidas.

A VIRGEM MARIA: UM DADO ESSENCIAL DA FÉ E DA VIDA DA IGREJA

A RIQUEZA DA DOUTRINA MARIOLÓGICA

“A história do dogma e da teologia testemunham a fé e a atenção incessante da Igreja em relação à Virgem Maria e à sua missão na história da salvação. Tal atenção manifesta-se já em alguns escritos do novo testamento e em não poucas páginas dos autores da idade subapostólica. Os primeiros símbolos da fé e, sucessivamente, as fórmulas dogmáticas dos Concílios de Constantinopla (a. 381), de Éfeso (a. 431) e de Calcedónia (a. 451) testemunham o progressivo aprofundamento do mistério de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e paralelamente a progressiva descoberta do papel de Maria no mistério da Encarnação; uma descoberta que conduziu à definição dogmática da maternidade divina e virginal de Maria. A atenção da Igreja em relação a Maria de Nazaré continuou em todos os séculos, com muitas declarações. Recordamos apenas as mais recentes, sem com isto querer minimizar o florescimento que a reflexão mariológica conheceu noutras épocas históricas. Pelo seu valor doutrinal não podemos deixar de recordar a Bula dogmática Ineffabilis Deus (8 de Dezembro de 1854) de Pio IX, a Constituição Munificentissimus Deus (1 de Novembro de 1950) de Pio XII e a Constituição dogmática Lumen gentium (21 de Novembro de 1964), cujo capítulo VIII constitui a síntese mais ampla e autorizada da doutrina católica sobre a Mãe do Senhor até agora realizada por um concílio ecuménico. São também de recordar, pelo seu significado teológico e pastoral, outros documentos como a Professio fidei (30 de Junho de 1968) e as Exortações apostólicas Signum magnum (13 de Maio de 1967) e Marialis cultus (2 de Fevereiro de 1974) de Paulo VI, e bem assim a Encíclica Redemptoris Mater (25 de Março de 1987) de João Paulo II. É, além disso, justo recordar a acção desenvolvida por alguns « movimentos » que, tendo suscitado em vários modos e sob pontos de vista diversos um grande interesse pela bem-aventurada Virgem, tiveram uma influência considerável na confecção da Constituição Lumen gentium: o movimento bíblico, que sublinhou a importância primária da Sagrada Escritura para uma apresentação do papel da Mãe do Senhor, conforme à Palavra revelada; o movimento patrístico, que colocando a mariologia em contacto com o pensamento dos Padres da Igreja, lhe permitiu aprofundar as suas raízes na Tradição; o movimento eclesiológico, que contribuiu largamente para a reconsideração e aprofundamento da relação entre Maria e a Igreja; o movimento missionário, que descobriu progressivamente a importância de Maria de Nazaré, a primeira evangelizada (cf. Lc. 1, 26-38) e a primeira evangelizadora (cf. Lc. 1, 39-45), como fonte de inspiração para o seu empenhamento na difusão da Boa Nova; o movimento litúrgico, que instituindo um fecundo e rigoroso confronto entre as várias liturgias, pode documentar como os ritos da Igreja atestem uma veneração cordial em relação à « gloriosa e sempre Virgem Maria, Mãe do nosso Deus e Senhor Jesus Cristo »; o movimento ecuménico, que pediu um esforço para compreender com exatidão a figura da Virgem no âmbito das fontes da Revelação e para determinar o fundamento teológico da piedade mariana.

Na perspectiva de Cristo:

Segundo a doutrina do Concílio a própria relação de Maria com Deus Pai é determinada na perspectiva de Cristo. Com efeito Deus, « quando veio a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho nascido duma mulher … para que recebêssemos a adopção de filhos » (Gal. 4, 4-5). Maria, portanto, que por condição era a « Serva do Senhor » (cf. Lc. 1, 38.48), tendo acolhido « no coração e no corpo o Verbo de Deus » e levado « a Vida ao mundo », torna-se por graça « Mãe de Deus ». Em vista desta singular missão, Deus Pai preservou-a do pecado original, encheu-a da abundância dos dons celestes e, nos seus sapientes desígnios, « quis … que a aceitação da mãe predestinada precedesse a Encarnação ». O Concílio, ilustrando a participação da Virgem na história da salvação, expôs sobretudo as relações múltiplas que existem entre Maria e Cristo:

— como « fruto mais excelente da redenção, tendo sido « redimida dum modo tão sublime em vista dos méritos de seu Filho »; por isso os Padres da Igreja, a Liturgia e o Magistério não hesitaram em chamar a Virgem « filha do seu Filho » na ordem da graça;

— de mãe que, acolhendo com fé o anúncio do Anjo, concebeu no seu seio virginal, pela ação do Espírito e sem intervenção de homem, o Filho de Deus segundo a natureza humana; deu à luz, alimentou-o, guardou-o e educou-o;

—  de serva fiel, que « se consagrou totalmente a si mesma … à pessoa e à obra do seu Filho, subordinada a Ele e com Ele »;

— de associada ao Redentor: « com o conceber Cristo, gerá-Lo, nutri-Lo, apresentá-Lo ao Pai no templo, sofrer com o seu Filho morrendo na cruz, ela colaborou dum modo muito especial na obra do Salvador, com a obediência, a fé, a esperança e a caridade ardente »;

— de discípula que, durante a pregação de Cristo, « recolheu as palavras, com as quais o Filho, exaltando o Reino acima das relações e dos vínculos da carne e do sangue, proclamou bem-aventurados os que ouvem e guardam a palavra de Deus (cf. Mc. 3, 35; Lc. 11, 27-28), como ela fielmente fazia (cf. Lc. 2, 19 e 51) ». Na perspectiva cristológica se devem ler também as relações entre o Espírito Santo e Maria; ela « como plasmada e constituída nova criatura » pelo Espírito e tornada dum modo particular seu templo, pela potência do mesmo Espírito (cf. Lc. 1,35), concebeu no seu seio virginal e deu ao mundo Jesus Cristo. No episódio da Visitação, derramam-se, por meio dela, os dons do Messias Salvador: a efusão do Espírito sobre Isabel, a alegria do futuro Precursor (cf. Lc. 1, 41). Cheia de fé na Promessa do Filho (cf. Lc. 24, 49), a Virgem constitui uma presença orante no meio da comunidade dos discípulos: perseverando com eles na concórdia e na súplica (cf. At. 1, 14), implora « com as suas orações o dom do Espírito, que sobre ela tinha já descido na anunciação ».

Na perspectiva da Igreja

Em vista de Cristo, e, portanto, também na perspectiva da Igreja, desde toda a eternidade Deus quis e predestinou a Virgem. Maria de Nazaré com efeito:

— é « reconhecida como membro supereminente e singularíssimo da Igreja »,  por causa dos dons da graça de que é adornada e pelo lugar que ocupa no Corpo Místico;

—  é mãe da Igreja, pois que ela é « Mãe d’Aquele, que, desde o primeiro instante da encarnação no seu seio virginal, uniu a si como Cabeça o seu Corpo Místico que é a Igreja »;

—  pela sua condição de virgem esposa mãe é figura da Igreja, a qual é também virgem pela integridade da fé, esposa pela sua união com Cristo, mãe pela geração de inumeráveis filhos;

—  pelas suas virtudes é modelo da Igreja, que nela se inspira no exercício da fé, da esperança, da caridade e na atividade apostólica;

—  com a sua multíplice intercessão continua a obter para a Igreja os dons da salvação eterna. Na sua caridade materna cuida dos irmãos do seu Filho ainda peregrinos. Por isso a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogadaauxiliadorasocorromedianeira;

—  assunta ao céu em corpo e alma, é a « imagem » escatológica e a « primícia » da Igreja,  que nela « contempla com alegria … o que ela, toda deseja e espera ser »  e nela encontra um « sinal de segura esperança e de consolação ».

DESENVOLVIMENTO MARIOLÓGICO DO POST-CONCÍLIO

Nos anos imediatamente a seguir ao Concílio o trabalho realizado pela Sé Apostólica, por muitas Conferências Episcopais e por insignes estudiosos, ilustrando o ensino do Concílio e respondendo aos problemas que pouco a pouco iam aparecendo, deu nova atualidade e vigor à reflexão sobre a Mãe do Senhor. Um contributo particular para este despertar mariológico foi dado pela Exortação apostólica «Marialis cultus» e pela Encíclica « Redemptoris Mater ». A exegese bíblica abriu novas fronteiras à mariologia, dedicando cada vez mais espaço à literatura intertestamentária. Não poucos textos do Antigo Testamento e, sobretudo, as páginas neo-testamentárias de Lucas e de Mateus sobre a infância de Jesus e as perícopes joaneias constituíram objeto dum estudo contínuo e aprofundado que, mediante os resultados conseguidos, reforçou a base escriturística da mariologia e enriqueceu-a consideravelmente do ponto de vista temático. No campo da teologia dogmática, a mariologia contribuiu, no debate post-conciliar, para uma ilustração mais idonea dos dogmas: chamada em causa nas discussões sobre o pecado original (dogma da Imaculada Conceição), sobre a encarnação do Verbo (dogma da conceição virginal de Cristo, dogma da maternidade divina), sobre a graça e a liberdade (doutrina da cooperação de Maria na obra da salvação), sobre o destino último do homem (dogma da Assunção), ela teve que estudar criticamente as circunstâncias históricas nas quais aqueles dogmas foram definidos, a linguagem em que foram formulados, compreendê-los à luz das aquisições da exegese bíblica, dum conhecimento mais rigoroso da Tradição, das interpelações das ciências humanas e rejeitar enfim as contestações sem fundamento. Também no campo ecuménico a mariologia foi objeto de particular consideração. Relativamente às Igrejas do Oriente cristão, João Paulo II sublinhou « quanto a Igreja católica, a Igreja ortodoxa e as antigas Igrejas orientais se sintam profundamente unidas pelo amor e louvor à Theotokos »; por seu lado Dimitrios I, Patriarca ecuménico, sublinhou como as « duas Igrejas irmãs mantiveram através dos séculos inextinguível a chama da devoção à venerabilíssima pessoa da Santíssima Mãe de Deus » e fez votos de que « o tema da mariologia ocupe um lugar central no diálogo teológico entre as nossas Igrejas … para o restabelecimento pleno da nossa unidade eclesial ». A mariologia post-conciliar dedicou uma atenção renovada à antropologia. Os Sumos Pontífices apresentaram repetidamente Maria de Nazaré como a expressão suprema da liberdade humana na cooperação do homem com Deus, que « no evento sublime da encarnação do Filho, se confiou ao ministério, livre e ativo de uma mulher ».

Assim, temos todos(as) os motivos necessários para reconhecer em Nossa Senhora, a “Auxiliadora dos Cristãos” e “Mãe da humanidade” os atributos necessários e fundamentais para prestar-lhe o devido culto e louvor.

Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB

Bispo Diocesano

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