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Artigos › 27/05/2020

Sobre túneis e luzes

Dentre tantos acontecimentos na vida, um é bastante presente e valioso. Me refiro às expressões e aos atos de “vir à luz”, “ver a luz”, “dar à luz”.

No livro das origens, o Criador mostra sua identidade e de que lado está, quando trazendo vida à terra, em seu poder, ordena de modo imperativo: “Faça-se a luz!”.  Pronto, as trevas dissipadas não pairam mais sobre o grande abismo, não há mais separação, nem distância.  A terra está às claras.

E o Criador viu que a luz era boa, as trevas, definitivamente, não.

Na vida não nos faltam túneis, labirintos e cavernas. E são, podemos afirmar, cada um mais escuro que o outro, pedindo uma leitura nossa, profundamente   existencial e com sentido. Terapia do existir.

Não faz muito tempo, em 2010, no país vizinho do Chile, no deserto do Atacama, na mina de cobre de San Jose, um acidente com 33 mineiros chamou a atenção e exigiu todo cuidado.  Tratava-se de um soterramento a uma profundidade próxima dos 700 metros, até serem descobertos pelas equipes de engenharia e sondagem.

Da galeria (câmeras de descanso) onde estavam confinados, enviavam sinais vitais (bilhete, vídeo…). Ufa!!!  Que alívio.  A busca e a espera não são vãs, quando feitas com sentido de vida, sacrifício e amor.

Com toda técnica deu-se início ao planejamento e operação de tão esperado resgate. Com tanto empenho e esforços, como resultado, a incontida alegria por cada trabalhador que vinha à luz. Depois de longos e intermináveis 70   dias, enfim!

Na Tailândia, mais recentemente (2018), 12 adolescentes e um adulto, técnico de futebol da equipe “javalis selvagens”, viveram nova desventura. Era o período das monções, fenômeno climático de fortes chuvas e este grupo, em férias, fez uma incursão numa caverna.

Foram tomados pela surpresa desagradável e amedrontadora de uma   enchente alagamento que os ilhou e ficaram sem comunicação.

Com tanta gente procurando, o grupo foi localizado por um mergulhador que comunicara às autoridades. Uma operação delicada e arriscada teve seu início.  Havia a preocupação com o estado de saúde dos meninos, claro. O acesso, a movimentação na caverna por conta dos vários trechos estreitos e inundados e o tempo que gastariam, desenhavam o grau de dificuldades.  Exigia-se uma operação de fôlego, literalmente!

Ao final, depois de 17 dias, o heroico resgate.  Pela esperança de tanta gente, enfim, outro final feliz não fosse a morte de um bombeiro.

Agora, hoje, estamos vivendo um período de quarentena, de recolhimento e isolamento social. Somos atingidos por uma pandemia que exige muitos cuidados e sacrifícios. Nossas políticas de saúde pública não estavam preparadas para enfrentá-las. Esta pandemia fez e faz de todos nós, “reféns”. Uma solução que parece contraditória na semântica, diz que “a saída é ficar”: fique em casa!

Como sacerdote, celebrando a Eucaristia pela internet, pelo meio eletrônico não-presencial, me sinto um pouco como o mineiro que fala, mas não tem resposta; como um dos meninos que gritando, ninguém responde. No  entanto,  embora  pareça um  monólogo  ou  um  exercício   de  fonoaudiologia,  o  mistério  se  dá  e  acontece, verdadeiramente .

É o mistério da nossa fé!  É ação do próprio Cristo Senhor e da Igreja.

O pão e o vinho são consagrados, se transubstanciam no Corpo e Sangue de Cristo. A Palavra nos é dada e nela, está presente o Cristo inteiro a nos chamar para uma vida nova de comunhão com ele.  E sendo ele Luz da Luz, Deus de Deus, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, atualiza o santo mistério, como sacrifício perfeito, eterno e santo que nos mandou celebrar: “Fazei isto em memória de mim!”.

A luz vem a nós por Ele, nossa esperança Ele realiza e dá sentido.

Padre Ivo Demétrio
Paróquia São José Operário – Vila Paiva

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