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A Voz do Pastor › 01/09/2021

Mês da Bíblia: A Santa Palavra de Deus

Todos os anos a Igreja Católica do Brasil, celebra com grande fé e alegria o MÊS DA BÍBLIA, a Santa Palavra de Deus. Neste ano de 2021, celebramos os 50 anos do Mês da Bíblia, lembrando com alegria o documento do Concílio Vaticano II: “DEI VERBUM”.  “O que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos, para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para que nossa alegria seja completa.” (1Jo 1,3-4).

Graças ao Concílio Vaticano II, que conclamou todos os pastores a um efetivo compromisso com a difusão da Bíblia, afirmando a necessidade do amplo acesso do povo de Deus ao texto bíblico (“o acesso às Sagradas Escrituras seja aberto amplamente aos fiéis” – DV 22), aos poucos a Bíblia foi entrando na vida do povo pela porta da experiência pessoal e comunitária. Num esforço permanente na missão de formar pessoas biblicamente animadas, “a Igreja no Brasil, ciente dessa compreensão, assumiu a animação bíblica da vida e da pastoral como urgência de sua ação evangelizadora, por ver nela o caminho indispensável para encontrar a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo” (CNBB, Doc. 97, n. 35).

A “Dei Verbum” e o fruto da pastoral bíblica rumo à animação bíblica da vida e da pastoral da Igreja no Brasil.

“E a Palavra de Deus crescia. O número dos discípulos multiplicava.” (At 6,7) É inegável a grande riqueza e abertura de horizontes que a Constituição Dogmática Dei Verbum trouxe para o avanço da caminhada bíblica, tanto no âmbito da exegese como no uso pastoral, catequético e litúrgico das Sagradas Escrituras. A Igreja, povo de Deus, foi convidada a devolver a Bíblia aos fiéis, favorecendo e facilitando o estudo, as traduções e o diálogo ecumênico. A Bíblia é o livro que une todos os povos, etnias e crenças numa única linguagem: a linguagem da Palavra que é amor, fraternidade e solidariedade.

Passos e conquistas da Igreja no Brasil rumo à animação bíblica da vida e da pastoral.

Fomos vendo avançar, em todo o mundo e no Brasil os passos do Movimento Bíblico:

  1. Difusão do texto bíblico.

Com o terreno preparado desde 1947, mediante os primeiros passos dados pelo Movimento Bíblico, começou a delinear-se vasta difusão da Bíblia entre os fiéis. Segundo Richtmann (1966, p. 86), uma das primeiras tarefas dos membros da Liga de Estudos Bíblicos (LEB) foi a dedicação às traduções da Bíblia. Outra iniciativa da LEB foi a Revista de Cultura Bíblica (RCB). Para os pioneiros dos anos 1950, havia a necessidade de um texto bíblico acessível ao povo. O grande interesse do povo pela Bíblia provocou uma oferta igualmente grande de textos traduzidos diretamente do hebraico e do grego. Daí a importância de percebermos que, a partir da divulgação crescente da Bíblia da Ave Maria (1959), foram surgindo muitas outras traduções, como a Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, da Editora Paulus. Vale destacar o trabalho árduo do biblista frei João José Pedreira de Castro, ofm. Hoje encontramos Bíblias para estudos acadêmicos exegéticos, outras de cunho mais pastoral, para o uso litúrgico-catequético etc.

  1. Semanas Bíblicas Nacionais.

As Semanas Bíblicas Nacionais foram organizadas pelos exegetas brasileiros como resposta ao desafio lançado por Pio XII com sua magistral encíclica Divino Afflante Spiritu, promulgada no dia da festa de São Jerônimo, em 1943. Em 1947, no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, realizava-se a 1ª Semana Bíblica Nacional (SALVADOR, 1975, p. 50-51). Ao encerrar-se o evento, foi redigida uma circular, intitulada “Resoluções da 1ª Semana Bíblica Nacional”, que continha as seguintes conclusões: instituição do Domingo da Bíblia; incentivo à publicação da literatura bíblica nacional; fundação da LEB; tradução literal da Bíblia para a língua portuguesa. Entre as resoluções da 1ª Semana Bíblica Nacional estava a realização, em datas aproximadamente fixas (a cada dois ou três anos), de Semanas Bíblicas. Deste modo, sucederam-se, a partir de 1947, 20 Semanas Bíblicas Nacionais, promovidas pela LEB com apoio dos bispos e de outras entidades. Além das Semanas Bíblicas Nacionais, foram realizadas, na Igreja no Brasil, as Semanas Bíblicas Populares. A 1ª Semana Bíblica de caráter popular ocorreu na diocese de Natal (RN) em 1947, promovida pelo cardeal dom Eugênio Sales e organizada pelos membros da LEB, sobretudo pelo Pe. José Ferreira Neto, sdb, por intermédio do Departamento Diocesano de Defesa da Fé e da Moral (SALVADOR, 1975, p. 50-51).

  1. Círculos bíblicos: um jeito dinâmico de evangelizar.

Com o Concílio Vaticano II, a Bíblia foi ocupando cada vez maior espaço na família, nos grupos de reflexão e nas pequenas comunidades. Movida pelo desejo de crescimento na fé bíblica, a Igreja no Brasil desenvolveu toda uma prática de leitura e reflexão em torno da Bíblia que muito contribui para o sustento da fé e da caminhada das pessoas. Círculos bíblicos, grupos de reflexão, grupos de rua são alguns sinais dessa presença viva da Bíblia no meio do povo, formas criativas de tornar mais próxima a Palavra da Escritura. Juntamente com os círculos bíblicos, as comunidades eclesiais de base (CEBs) têm desempenhado um papel muito importante de animação bíblica. Onde o povo se reúne em torno da Palavra, nascem lideranças fortes; a comunidade resolve seus problemas em conjunto e com maior facilidade; possibilita-se a experiência participativa da Igreja; surge a diversidade de serviços e ministérios, com os leigos assumindo seu protagonismo na missão evangelizadora.

  1. Domingo da Bíblia ou Mês da Bíblia

Com a organização da LEB, desenvolveu-se um trabalho em torno de mobilização bíblica, dando origem ao Mês da Bíblia. Em 1971, 50 anos atrás, a Arquidiocese de Belo Horizonte celebrava seu cinquentenário. As Irmãs Paulinas, na pessoa da Ir. Eugênia Pandolfo, e lideranças que já trabalhavam com a animação bíblica apresentaram por escrito a dom João de Rezende Costa e ao conselho presbiteral a proposta de realizar um vasto e profundo movimento bíblico durante o mês de setembro, que atingisse todos os segmentos da arquidiocese. A proposta foi aceita e, em junho do mesmo ano, o conselho presbiteral nomeou uma equipe para coordenar e impulsionar essa mobilização bíblica. A equipe definiu, assim, os objetivos do Mês da Bíblia, a saber: infundir no povo a convicção de que a Bíblia, Palavra de Deus, é por excelência o livro que deve ser inserido na vida de cada um; fazer que as famílias sintam a necessidade de ter em casa a Bíblia e transformá-la em livro de cabeceira; por ocasião do “Mês da Bíblia”, constituir na arquidiocese de Belo Horizonte um centro bíblico. A equipe contou com a valiosa colaboração do biblista frei Carlos Mesters, que ajudou a elaborar os folhetos para a divulgação e estudo da Bíblia, com o desejo de despertar o gosto pela Palavra de Deus e iniciar uma leitura bíblica permanente. Em 1975 a proposta se estendeu para todo o Regional Leste II e, em 1976, com o slogan “Bíblia, Deus caminhando com a gente”, o Centro Bíblico de Belo Horizonte, em parceria com as Editoras Paulus e Paulinas, lançou o folheto de círculos bíblicos Bíblia-Gente, destinado a todo o Brasil. Assim, o Mês da Bíblia se tornou um marco nacional. Até hoje, a Editora Paulus continua a publicar e distribuir o folheto Bíblia-Gente com os roteiros bíblicos do Mês da Bíblia.

  1. Bíblia e Campanhas da Fraternidade

Um fato marcante de experiência bíblica na Igreja no Brasil é a Campanha da Fraternidade, nascida em 1964 e realizada anualmente, no período da Quaresma, como forma de apelo à conversão, em vista da preparação para a Páscoa. Trata-se de iniciativa da Igreja no campo social para chamar a atenção de toda a sociedade para situações e problemas que atingem a maioria da população ou minorias excluídas e ajudar na busca conjunta de soluções. A reflexão sobre esses temas é feita à luz da Bíblia, com um tema bíblico inspirador que auxilia os cristãos no processo de conversão e compromisso social, celebrando a vida sempre à luz das Sagradas Escrituras.

  1. Mudança de “dimensão catequética” para “dimensão bíblico-catequética”

Outro momento importante da pastoral bíblica na Igreja no Brasil foi a mudança de nomenclatura da Linha 3 de ação pastoral, que, na 29ª Assembleia Geral de 1991, passou de dimensão catequética para dimensão bíblico-catequética, com o desejo de acentuar melhor a centralidade da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. A dimensão bíblico-catequética expressa o chamado feito a toda a Igreja para se fazer permanente ouvinte da Palavra, assimilando-a sempre mais profundamente ao confrontá-la com a vida dentro do mundo e da história. A partir das Diretrizes de 1991 a 1994, a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética tem se empenhado em desenvolver, a cada quadriênio, atividades que contemplem a unidade da Bíblia com a catequese. A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética sentiu a necessidade de um grupo de reflexão bíblica que pudesse ajudar no serviço de animação bíblica junto às dioceses. Nasceu assim o Grebin (Grupo de Reflexão Bíblica Nacional), formado por representantes das instituições que se dedicam ao serviço da animação bíblica. É um espaço de articulação das instituições bíblicas, de intercâmbio de experiências e parceria em torno de ações comuns no campo da formação bíblica. Hoje, chama-se Grebicat (Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética).

  1. Articulação entre a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética e as instituições da pastoral bíblica

Há um diálogo produtivo e uma caminhada conjunta entre a Comissão para a Animação Bíblico-Catequética e as instituições bíblicas, sobretudo no estudo e escolha de temas para o Mês da Bíblia. Há grande empenho em ações comuns no que se refere à formação e à produção de subsídios de animação bíblica da pastoral. As instituições que se dedicam ao serviço da Palavra e formam o Grebin tem seu foco no avanço da questão bíblica na Igreja no Brasil. São elas: Serviço de Animação Bíblica (SAB), Movimento da Boa-Nova (Mobon), Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), Movimento Bíblico Nova Jerusalém, Centro Bíblico Verbo (CBV), Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (Abib), Centro Bíblico PAULUS.

  1. Bíblia no diálogo ecumênico, um fruto do Vaticano II

Nestes anos, o povo católico cresceu bastante na intimidade com a Bíblia, mas uma conquista do Concílio é o diálogo ecumênico. Nossos documentos oficiais pedem insistentemente que se deixe de lado o clima de enfrentamento, de rivalidade, e se busquem caminhos de unidade. A Bíblia é muito importante nessa busca, pois pode contribuir para o encontro de todos os cristãos. Vale a pena ressaltar os empreendimentos ecumênicos lançados aqui em nosso país: as revistas especializadas para agentes de pastoral, entre as quais Estudos Bíblicos e Ribla (Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana), bem como a coleção dos comentários aos livros bíblicos, todos numa perspectiva ecumênica, lançados por diversas editoras. A Igreja no Brasil vem incentivando a produção de textos que aproximem os cristãos das diversas denominações e aprofundem as relações fraternas. Destaques, nesse sentido, são as Campanhas da Fraternidade em nível ecumênico e a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. A intenção é abrir, cada vez mais, caminhos para uma conversa construtiva em prol da unidade na fé, na esperança e na caridade, tornando visível o testemunho do quanto estamos unidos no amor de Jesus. Uma boa leitura bíblica, atualizada, tem papel importante no diálogo sereno e construtivo, o que será enorme benefício para todas as Igrejas envolvidas.

  1. Lectio Divinaou leitura orante da Bíblia

Cada vez é mais notável a leitura orante da Bíblia e da vida nos pequenos grupos, “igrejas domésticas” (LG 30; CIC 1655). Ela contribui também para maior liberdade de expressão, diálogo e comunhão com as culturas e religiões. A Palavra de Deus não é mero material de estudo: é chamado a um diálogo reverente. Nosso povo, com muita sabedoria, valoriza a oração. Com a Bíblia, bem usada, cresce na espiritualidade, em todos os sentidos. A oração centrada na Bíblia é a grande valorização do nosso texto sagrado. Há muito se vem difundindo, com regras simplificadas, a prática do antigo método da leitura orante, que já era utilizado por muitas congregações religiosas e tem um lugar especial na Tradição da Igreja. A divulgação desse método tem trazido profundidade e alegria para a oração do povo, em todas as classes sociais. Intensificar essa prática trará grandes benefícios em nível pessoal e comunitário. O método da leitura orante é uma ajuda valiosa para o aprendizado da vida de oração por meio da Bíblia. Tanto a 5ª Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) como a Verbum Domini acentuam a importância da leitura orante da Bíblia. Desde a Dei Verbum até a Verbum Domini, é possível perceber, na Igreja no Brasil, o esforço criativo para acentuar a Palavra de Deus em sua vida e missão evangelizadora. Com o espírito inovador das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), o povo, cada vez mais, busca ler a Bíblia e encontrar nela uma palavra orientadora e consoladora para a vida. A animação bíblica da vida e da pastoral en­volve toda a atividade da Igreja, no esforço de anunciar com eficácia o Reino de Deus: “é preciso, pois, que, do mesmo modo que a religião cristã, também a pregação eclesiástica seja alimentada e dirigida pela Sagrada Escritura” (DV 21). Contudo, faz-se necessário priorizar uma animação bíblica da vida e da pastoral capaz de formar discípulos de Jesus Cristo, servidores da Palavra. Trata-se de grande tarefa que o novo tempo nos impõe. A Bíblia, sendo assumida pelas comunidades eclesiais missionárias como a fonte e a alma de toda pastoral, será uma das mediações privilegiadas na promoção da pastoral de conjunto, tão essencial para que a comunidade eclesial seja expressão de uma Igreja querigmática, mistagógica e missionária.

Foi o Santo Padre, o Papa Paulo VI, quem, em nome dos Padres Concialiares do Concílio Vaticano II, promulgou, em 18 de novembro de 1965, o documento conciliar DEI VERBUM. Apresento alguns números deste documento para nossa reflexão e oração. Os números, aqui deixados, apresentam o documento como foi organizado para sua publicação. Leiamos com amor:

A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA

Os apóstolos e seus sucessores, transmissores do Evangelho

  1. Deus dispôs amorosamente que permanecesse integro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos. Por isso, Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma (cfr. 2 Cor. 1,20; 3,16-4,6), mandou aos Apóstolos que pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes pelos profetas e por Ele cumprido e promulgado pessoalmente, comunicando-lhes assim os dons divinos. Isto foi realizado com fidelidade, tanto pelos Apóstolos que, na sua pregação oral, exemplos e instituições, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo, como por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação. Porém, para que o Evangelho fosse perenemente conservado integro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os Bispos como seus sucessores, «entregando-lhes o seu próprio ofício de magistério». Portanto, esta sagrada Tradição e a Sagrada Escritura dos dois Testamentos são como um espelho no qual a Igreja peregrina na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face a face tal qual Ele é (cfr. 1 Jo. 3,2).

A sagrada Tradição

  1. E assim, a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão contínua, até à consumação dos tempos. Por isso, os Apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que observem as tradições que tinham aprendido quer por palavras quer por escrito (cfr. 2 Tess. 2,15), e a que lutem pela fé recebida dama vez para sempre (cfr. Jud. 3). Ora, o que foi transmitido pelos Apóstolos, abrange tudo quanto contribui para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé; e assim a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita. Esta tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração (cfr. Lc. 2, 19. 51), quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos séculos, tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de Deus. Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante. Mediante a mesma Tradição, conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente e torna-se incessantemente operante; e assim, Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo – por quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja e, pela Igreja, no mundo – introduz os crentes na verdade plena e faz com que a palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (cfr. Col. 3,16).

Relação entre a sagrada Tradição e a Sagrada Escritura

  1. A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência.

Relação de uma e outra com a Igreja e com o Magistério eclesiástico

  1. A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus, confiado à Igreja; aderindo a este, todo o Povo santo persevera unido aos seus pastores na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e na oração (cfr. Act. 2,42 gr.), de tal modo que, na conservação, atuação e profissão da fé transmitida, haja uma especial concordância dos pastores e dos fiéis. Porém, o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo. Este magistério não está acima da palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido, enquanto, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, a ouve piamente, a guarda religiosamente e a expõe fielmente, haurindo deste depósito único da fé tudo quanto propõe à fé como divinamente revelado. É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a sagrada Escritura e o magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo desígnio de Deus, de tal maneira se unem e se associam que um sem os outros não se mantém, e todos juntos, cada um a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas.

Importância da Sagrada Escritura para a Teologia

  1. A sagrada Teologia apoia-se, como em seu fundamento perene, na palavra de Deus escrita e na sagrada Tradição, e nela se consolida firmemente e sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz da fé, toda a verdade contida no mistério de Cristo. As Sagradas Escrituras contêm a palavra de Deus, e, pelo facto de serem inspiradas, são verdadeiramente a palavra de Deus; e por isso, o estudo destes sagrados livros deve ser como que a alma da sagrada teologia. Também o ministério da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora com a palavra da Escritura.

Leitura da Sagrada Escritura

  1. É necessário, por isso, que todos os clérigos e sobretudo os sacerdotes de Cristo e outros que, como os diáconos e os catequistas, se consagram legitimamente ao ministério da palavra, mantenham um contacto íntimo com as Escrituras, mediante a leitura assídua e o estudo aturado, a fim de que nenhum deles se torne «pregador vão e superficial da palavra de Deus. por não a ouvir de dentro», tendo, como têm, a obrigação de comunicar aos fiéis que lhes estão confiados as grandíssimas riquezas da palavra divina, sobretudo na sagrada Liturgia. Do mesmo modo, o sagrado Concílio exorta com ardor e insistência todos os fiéis, mormente os religiosos, a que aprendam «a sublime ciência de Jesus Cristo» (Fil. 3,8) com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo». Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvavelmente por toda a parte, com a aprovação e estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem; porque «a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos». Compete aos sagrados pastores «depositários da doutrina apostólica», ensinar oportunamente os fiéis que lhes foram confiados no uso reto dos livros divinos, de modo particular do Novo Testamento, e sobretudo dos Evangelhos. E isto por meio de traduções dos textos sagrados, que devem ser acompanhadas das explicações necessárias e verdadeiramente suficientes, para que os filhos da Igreja se familiarizem dum modo seguro e. útil com a Sagrada Escritura, e se penetrem do seu espírito. Além disso, façam-se edições da Sagrada Escritura, munidas das convenientes anotações, para uso também dos não cristãos, e adaptadas às suas condições; e tanto os pastores de almas como os cristãos de qualquer estado procuram difundi-las com zelo e prudência.

Influência e importância da renovação escriturística

  1. Deste modo, pois, com a leitura e estudo dos livros sagrados, «a palavra de Deus se difunda e resplandeça (2 Tess. 3,1), e o tesouro da revelação confiado à Igreja encha cada vez mais os corações dos homens. Assim como a vida da Igreja cresce com a assídua frequência do mistério eucarístico, assim também é lícito esperar um novo impulso de vida espiritual, se fizermos crescer a veneração pela palavra de Deus, que «permanece para sempre» (Is. 40,8; cfr. l Pedr. 1, 23-25).

Roma, 18 de novembro de 1965.

PAPA PAULO VI

Assim, celebremos com grande fé e alegria, neste mês de setembro, a Santa Palavra de Deus em nossa Diocese, comunidades eclesiais e famílias.

Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB

Bispo Diocesano

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