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Artigos › 31/10/2016

Fé Cristã e compromisso Sócio-Político

Muitos não se sentem bem quando a Igreja fala de temas sociais. No entanto existem razões de sobra que justificam que a Igreja não só pode como deve falar destes temas. Desde os Profetas de Israel, o social faz parte da pregação, pois a Palavra de Deus deve iluminar todas as dimensões da vida humana.

Para o cristão o empenho pela transformação da sociedade é expressão daquele amor fraterno, que Cristo colocou como o sinal por excelência daqueles que querem ser identificados como seus seguidores. “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13,35).

Os primeiros cristãos compreenderam que o amor ao Ressuscitado exigia a partilha, por isso foram capazes de iniciativas de solidariedade a ponto de por os seus bens em comum (conferir: Atos dos Apóstolos  2,42-47; 4,32-35).

Hoje, por estarmos numa sociedade mais aberta à participação, além de vivenciar partilhas diretas em situações extremas, o cristão deve refletir também sobre as possibilidades de exercer a sua cidadania de forma transformadora, sendo fermento na massa.

Nas eleições municipais realizadas no dia 2 de outubro, foi assustador o alto índice de votos nulos e em branco. Isto demonstra o quanto o nosso povo está decepcionado com a classe política do nosso País. Frente a tamanha decepção, o voto nulo ou em branco torna-se para muitos, uma forma de protesto.

Mas esta é uma falsa solução, pois o voto nulo ou em branco não significa neutralidade absoluta, pois é uma forma de conivência passiva com aqueles que alcançaram a maioria dos votos válidos, mesmo que não sejam idôneos para tal função. Neste sentido é necessário que cada um faça uma revisão sobre a sua forma de exercício da cidadania, através da corresponsabilidade social e da participação política.

A primeira exigência é exercer de forma ativa e crítica o direito do voto. Mas este direito-dever supõe também acompanhar os que foram eleitos exigindo deles atitudes coerentes. Por outro lado, os que foram eleitos não devem se afastar da base e no caso de cristãos, não se afastarem também do convívio eclesial. Mediante esta inserção, eles se manterão sensíveis as situações que são mais urgentes na busca do bem comum.

É preciso compreender que quando a Igreja fala de honestidade na vida pública e do dever de todos buscarem o bem comum, ela não o faz a partir de ideologias, mas seus ensinamentos emergem da Palavra de Deus. Se a Igreja só falasse do social ou abordasse este tema de forma ideológica seria errado, mas sabemos o quanto ela é equilibrada. Basta pensarmos no equilíbrio do Papa São João Paulo II, do Papa Bento XVI ou do próprio Papa Francisco. No entanto eles fizeram muitos pronunciamentos sobre o social, afirmando também que a política é uma forma privilegiada de se viver a caridade.

É certo que o candidato eleito tem direito a um salário, mas isso não significa que ele possa utilizar da política de modo egocêntrico e muito menos de forma desonesta. Todos os que exercem função de liderança na sociedade, inclusive os que exercem cargos políticos, devem lembrar da resposta que Jesus deu a Pilatos, quando ele afirmou que poderia soltar ou crucificar o Senhor. Diante desta afirmativa triunfalista acerca da sua autoridade, Jesus lhe respondeu: “Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado” (João 19,11). Isto significa que toda função de autoridade tem uma perspectiva transcendente e é daí que emerge o seu imperativo moral de busca do bem comum.

Quanto a Igreja enquanto instituição, não cabe a ela assumir um partido ou um candidato. É parte da sua missão, formar a consciência dos leigos e leigas e exortar todas as pessoas de boa vontade para exercerem a cidadania ou a política partidária com a máxima idoneidade.

Pe. Djalma Lopes Siqueira
Vigário Geral da Diocese de São José dos Campos

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