Brumadinho: um crime que brada aos céus
A tragédia humanitária e ambiental ocorrida em Brumadinho (MG) causa uma indignação ética, ao ver o desrespeito que o grande capital tem para com a vida, pois o que lhe interessa é o lucro.
Em sua Nota sobre esta tragédia, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lembra que o Papa Paulo VI afirmou que “por motivo de uma exploração que não leva em consideração a natureza, o ser humano começa a correr o risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação”, palavras atuais diante deste crime ambiental e humano.
Infelizmente o deus dinheiro tem os seus servidores fieis, insensíveis ao meio ambiente e às pessoas.
A CNBB, em sua Nota, também acentua que “é preciso colocar um limite ao lucro a todo custo que, muitas vezes, faz negligenciar medidas de segurança e proteção à vida das pessoas e do planeta”.
O episcopado brasileiro lembra ainda a afirmação do Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, em seu número 195: “o princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceitual da economia”.
No centro da ideologia neoliberal dominante hoje no país, as questões ambientais são compreendidas como se fossem entraves aos que querem produzir, seja do agronegócio, quanto do setor de mineração, de modo que se anuncia um afrouxamento das leis e da fiscalização, chegando quase a criminalizar o trabalho do IBAMA e de seus fiscais, bem como de entidades ambientais da sociedade civil.
Neste sentido, a CNBB enfatiza ser “urgente que a atividade mineradora no Brasil tenha um marco regulatório que retire do centro o lucro exorbitante das mineradoras ao preço do sacrifício humano e da depredação do meio ambiente, com a consequente destruição da biodiversidade”.
Enquanto se contam as vítimas, a sociedade brasileira e internacional aguardam uma apuração rigorosa e a punição exemplar dos responsáveis por este crime contra a humanidade.
Não se pode tergiversar nesta questão, utilizando eufemismos para se referir ao acontecido, bem como simplesmente aparecer alguém dizendo que a Vale não é culpada e caracterizando o ocorrido como acidente.
Os bispos do Brasil, afirmam em Nota, que “as famílias e as comunidades esperam da parte do Executivo rigor na fiscalização, do Legislativo, responsabilidade ética de rever o projeto do Código de Mineração, e do Judiciário, agilidade e justiça”.
É esperar para ver se essa apuração realmente ocorrerá ou se terá o mesmo desfecho do ocorrido em Mariana há três anos.
Fiel ao Deus da vida, a Doutrina Social da Igreja tem como essência a eminente dignidade da pessoa, bem como a defesa da natureza.
Uma tragédia como esta demonstra como o poder econômico está longe do projeto de Deus para o mundo.
Como disse o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), em seu número 53 “esta economia mata”.
Pe. Antonio Aparecido Alves
Pároco da Paróquia São Benedito, no Alto da Ponte, em São José dos Campos