As portas da misericórdia se fecharam?
O Papa Francisco fechou a Porta Santa no último final de semana. Terminou o Ano Jubilar. Mas a misericórdia fica como sinal forte do ano que vivemos, fica como expressão maior do ser do nosso Deus! Deus é a própria misericórdia. A preocupação de Francisco é que o jubileu se perpetue, em todos os cantos do mundo, por sinais concretos e permanentes.
Assim sendo, o Papa escreveu uma carta apostólica com o nome “Misercordia et misera” ( A misericórdia e a mísera), retomando uma explicação de Agostinho, de João 8, 1-11. Jesus é a própria misericórdia de Deus que veio nos visitar. No encontro com aquela mulher pecadora, a mísera mulher, como a chama Agostinho, Ele nos faz pensar, como fez com os ouvintes da época e naquela situação de opressão. Eles queriam apedrejá-la. Ao ser interrogado sobre o que fazer, ofereceu seu silêncio, enquanto escrevia aleatoriamente no chão. Um silêncio para pensar, para repensar… Após, afirmou: “Quem não tem pecado, atire a primeira pedra…” E eles se retiraram.
Jesus sempre surpreendeu estando entre os pecadores, comendo e bebendo com eles. Veio para os pecadores. Dizia Santo Ambrósio: “Onde há misericórdia, está o Espírito de Jesus; onde há rigidez, estão somente os seus ministros.” O Espírito do Senhor ungiu e enviou Jesus à missão, como lemos no evangelho de Lucas, no capítulo quarto. Portanto, não poderia ter sido diferente com Jesus. Ele age na força do Espírito: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Também eu não te condeno.”
Jesus vive perdoando, morre perdoando… A misericórdia transforma e muda a vida de uma pessoa. De geração em geração, Deus abraça cada pessoa e, com sua misericórdia, devolve alegria ao coração. Foi essa a experiência maravilhosa do Ano Jubilar para milhares, para milhões de pessoas.
O Papa exorta aos sacerdotes que sejam magnânimos de coração, pois são pecadores, mas ministros da misericórdia (cf. Jo 20, 22-23) “Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação”(2 Cor 5,18). A consciência pessoal deve ser iluminada com o amor infinito de Deus, diz Francisco.
Aqui surge uma novidade. O Papa Francisco concede aos sacerdotes a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. Essa faculdade era reservada aos bispos, em virtude da autoexcomunhão que a pessoa incorria. Porém, diz em seguida que “o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente”. Porém, continua o Papa, “não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai.” Que cada sacerdote seja guia, apoio e conforto para o penitente.
Visto que ninguém está imune ao sofrimento, à tribulação e à incompreensão, que a consolação seja uma ação a ser alimentada entre nós. Isso, nas situações em que imperam a maldade, a violência, a traição e o abandono. Que os casais sejam amparados em suas crises. Que a família seja fortalecida como lugar onde se vive a misericórdia. Nos momentos de luto, de fraqueza, de solidão, incerteza e pranto, devemos nos fazer presentes.
Que a Porta da Misericórdia de cada coração esteja sempre aberta! A Porta Santa introduziu-nos no caminho da caridade, na estrada da misericórdia, que é o amor que vai além dos méritos, que vai além da justiça.
Há verdadeiros protagonistas da caridade em nossa cidade. Unamo-nos a eles! Devemos redescobrir a alegria de nos aproximarmos da humanidade ferida. É preciso que tornemos visível a bondade de Deus. Devemos fazer crescer uma cultura de misericórdia, pede o Papa Francisco.
As portas simbólicas das Basílicas, das Catedrais e das Santuários se fecharam, para que as portas de nossos corações se escancarassem! Viva o pastoreio de Francisco!
Pe. Rinaldo Roberto de Rezende
Pároco da Catedral São Dimas