Amazônia: coração da Casa Comum
Na última edição do Jornal Expressão (abril) tivemos alguns artigos que mencionaram a preparação do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, que será realizado em outubro de 2019, em Roma, para se refletir sobre os novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral. O Papa Francisco tem uma grande preocupação com a Amazônia desde a Conferência de Aparecida, em 2007, quando, ainda arcebispo de Buenos Aires, teve contato com relatos das diversas dificuldades da presença da Igreja do território pan-amazônico que é composto além do Brasil, por mais outros oito países: Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana Francesa, Guiana Inglesa e Suriname.
Mas por que a Amazônia deve ser objeto de preocupação da Igreja? Na realidade, não devemos apenas nos preocupar, mas também nos engajar neste convite que o Papa realiza.
Dizer sobre a importância da floresta amazônica e de seus povos não é suficiente. Nossa missão evangelizadora é muito ampla e compreende também denunciar os atentados à integridade da Amazônia.
O modelo de desenvolvimento predatório com a mineração, a extração de madeira e petróleo, a pecuária extensiva e o monocultivo tem como consequências o desmatamento (20% da floresta original já estão desmatados) com a diminuição das chuvas, o envenenamentos do solo e das águas, a concentração de renda, o trabalho escravo, conflitos de ocupação com a expulsão dos povos da floresta, desrespeito às leis, morte de lideranças, ambientalistas e agentes de pastoral.
É preciso pensar um outro modelo de desenvolvimento direcionado aos povos da floresta. Que possa ter como premissa a redistribuição de renda, a preservação da floresta e da biodiversidade, a socialização da terra e dos recursos, a preservação de populações tradicionais, a fixação do “homem” na floresta, com um mercado promissor de frutas, cocos, artesanatos, polpas, fitoterápicos, óleos, castanhas, ecoturismo, entre outros. Este modelo deve ser fortalecido pelos projetos pastorais, que serão discutidos a partir do Sínodo.
Ainda é um desafio estudar e conhecer toda a biodiversidade e o bioma amazônico. Chico Mendes, mártir por defender a floresta, assassinado em 22 de dezembro de 1988 dizia: “A floresta em pé é mais produtiva do que a floresta tombada”. Ou, como diziam os seringueiros da Amazônia, e tantas vezes repetido pela Ir. Dorothy Stang, também mártir, assassinada em 12 de fevereiro de 2005 por defender os povos da floresta: “A morte da floresta é o fim da nossa vida”.
Alinhada a todas estas preocupações nossa diocese irá promover o evento “Pró Sínodo da Amazônia” nos dias 28 e 29 de setembro de 2019, que será antecedido por um seminário, com diversos pesquisadores de nossa região, que investigam as mudanças na cobertura florestal amazônica, os impactos no clima, e as questões sociais que permeiam todas estas discussões, em parceria com a UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba, de 23 a 27 de setembro.
Precisamos cada vez mais entender a complexidade de todas as questões que envolvem a Amazônia e a manutenção de nossas vidas, pois como ressalta o Papa Francisco na Laudato Sì: “Tudo está interligado”!
Luciano Rodolfo de Moura Machado
Educador Ambiental e Coord. da Comissão Socioambiental da Diocese de SJC
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