Vaticano: exposições de artista brasileiro resgatam lutas sociais latino-americanas
“Como diz Papa Leão, na sua exortação apostólica – Dilexi te – , não temos feito ainda o suficiente para iluminar as causas estruturais e sociais da pobreza no mundo. E é sobre isso que Jonathas de Andrade reflete”. As palavras são do cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação ao definir as duas exposições do artista brasileiro – natural de Maceió – que dialogam entre si e retratam a história dos engajamentos coletivos e sociais dos movimentos latino-americanos, conectando-os com arte e a espiritualidade por meio da Teologia da Libertação, corrente católica surgida na América Latina nos anos 1960, com engajamento na luta pelos cuidados com os pobres.
As exposições, presentes no espaço Concilizione 5 e no Macro – Museu da Arte Contemporânea de Roma – fazem parte do programa de arte contemporânea da Santa Sé por ocasião do Jubileu 2025. Elas não apenas resgatam os esforços dos movimentos sociais para o enfrentamento das carências sociais que afligiram a sociedade naquele período – decorrido em meio a regimes totalitários na América Latina-, mas expõem reflexões contemporâneas, reconhecendo que esses mesmos problemas persistem nos dias atuais, dentro das dinâmicas sociais vigentes, necessitando de atenção e confronto constantes em busca de soluções para essas questões, a exemplo da pobreza e toda ausência de acesso aos direitos mais básicos que ela acarreta, como a educação.
“Essa obra fala sobre a dimensão social da conversão. É verdade que cada peregrino faz um percurso individual – nós somos chamados a uma conversão na primeira pessoa do singular – mas, é verdade que devemos também procurar uma conversão comunitária -porque toda causa – pensamos na guerra, na desigualdade, na violência –é também estrutural. E o Jubileu é também uma oportunidade para uma chamada a um debate público, que envolva diversos atores políticos, sociais, culturais, para uma reflexão que ajude a humanizar a nossa sociedade e a reportar o espírito do Evangelho ao dinamismo da nossa vida, a este hoje da história”, ressalta Tolentino.
No espaço Conciliazione 5, Jonathas de Andrade apresenta suas impressões em serigrafia sobre madeira para construir uma narrativa e, a partir dela, restituir o espírito comunitário dos movimentos latino-americanos engajados na luta pelos mais vulneráveis da sociedade, a exemplo da corrente católica da Teologia da Libertação. Em cada tábua, é possível ler palavras em espanhol como “resistencia” (resistência), “caridad” (caridade), “fe audaz” (fé audaciosa), “educación” (educação), “inspiracion cristiana” (inspiração cristã), “ecología” (ecologia), dentre outras. A curadoria é de Cristiana Perrella. Essa exposição foi denominada de “Capela della Liberazione” (Capela da Libertação).
“Talvez a tábua com a palavra ‘educação’ seja uma tábua especial para nós, porque a educação é verdadeiramente uma forma de construção da justiça social, e o Santo Padre Leão XIV também fala abundantemente sobre isso. Para a Igreja, a educação dos pobres não é uma eventualidade, é um dever que a Igreja sempre abraçou, porque essa opção pela educação das classes populares e dos tecidos mais vulneráveis da nossa sociedade é algo que está no coração da Igreja ao longo dos séculos, e também hoje em nosso presente”, expressa o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, idealizador do projeto artístico.
Essa obra se conecta com uma outra – desta vez audiovisual – que retrata a história de uma comunidade de freiras que, nos anos 1960, quando o Brasil estava sob uma ditadura militar, engajou-se com ações políticas e sociais, unindo-as à espiritualidade. A produção, intitulada “Sorelle senza nome” (“Irmãs sem nome”) é um filme de 20 minutos produzido pelo artista brasileiro com apoio da Fundação In Between Art Film e está em exibição no Macro até o dia 6 de abril de 2026.