Um trabalho digno para todos: a mensagem dos três últimos Papas

Na publicação anual das intenções de oração para 2025, o Papa Francisco nos convidou a rezar em maio “Pelas condições de trabalho”. Devido à sua morte, em 21 de abril, o vídeo que acompanha esta intenção de oração muda de formato: para favorecer a reflexão, recorda mensagens sobre o tema dos três últimos Papas – João Paulo II, Bento XVI e Francisco.
O Vídeo do Papa de maio foi realizado com a ajuda da Câmara de Comércio de Roma e da Fondazione PRO Rete Mondiale di Preghiera del Papa, divulgado pela Rede Mundial de Oração do Papa e convida “para que, através do trabalho, cada pessoa se realize, as famílias sejam sustentadas com dignidade e se humanize a sociedade”.
As imagens que acompanham as palavras dos Pontífices reúnem diferentes experiências de vida em torno do mundo do trabalho. Em primeiro lugar, vemos uma oficina de carpinteiro, com uma imagem de São José esculpida à mão no século XIX, em madeira de tília, por mestres escultores de Val Gardena. O vídeo ainda traz as várias realidades da Cidadela de Loppiano – a oficina de cerâmica, a cooperativa agrícola, a empresa de embalamento e acabamento de muitos artigos – em que o trabalho é vivido numa perspectiva de comunhão. E não faltam imagens evocativas da exploração de que são vítimas milhões de trabalhadores em várias partes do mundo.
160 milhões de crianças obrigadas a trabalhar
O mundo do trabalho tem estado muito presente no magistério da Igreja desde o final do século XIX: uma consequência do olhar atento dos Papas sobre a realidade e da sua preocupação com o bem espiritual e material das pessoas. Atualmente, segundo dados da ONU e da OIT, 402,4 milhões de pessoas em todo o mundo estão desempregadas; 160 milhões de crianças são obrigadas a trabalhar; 240 milhões de trabalhadores recebem um salário inferior a 3,65 dólares por dia; e mais de 60% da população ativa mundial trabalha na economia informal, o que significa que cerca de 2 mil milhões de pessoas estão privadas de direitos laborais e de proteção social.
Os Papas e o mundo do trabalho
As palavras de Francisco sublinham que o trabalho confere “uma unção de dignidade”: ganhar o pão dá dignidade à pessoa. O próprio Jesus trabalhou como carpinteiro, “um ofício bastante duro” que “não assegurava grandes rendimentos”, e que partilhou com todos os trabalhadores ao longo da história.
Algumas das frases de Bento XVI sublinham a importância primordial do trabalho “para a realização humana e o desenvolvimento da sociedade”. Por conseguinte, o trabalho deve ser “organizado e realizado no pleno respeito da dignidade humana e ao serviço do bem comum”. Ao mesmo tempo, o homem não deve deixar-se “escravizar pelo trabalho (…) pretendendo encontrar nele o sentido último e definitivo da vida”, que só se encontra em Deus.
Por fim, as palavras de São João Paulo II exortam a enfrentar os desequilíbrios económicos e sociais e as situações de injustiça que existem no mundo do trabalho, colocando em primeiro lugar “a dignidade do homem e da mulher que trabalha, a sua liberdade, responsabilidade e participação”. Tudo isto, sem esquecer “aqueles que sofrem por falta de emprego, por salários insuficientes, por falta de meios materiais”. São precisamente estes desequilíbrios e situações de injustiça que tornam necessário rezar para que o centro do trabalho e da vida económica e social seja o ser humano e não o lucro.
Um bem-estar partilhado
“O trabalho”, comenta Lorenzo Tagliavanti, presidente da Câmara de Comércio de Roma, “é como o ar: apercebemo-nos do seu valor quando nos falta. Segundo a Doutrina Social da Igreja, o trabalho é um direito humano fundamental e um elemento decisivo para a realização pessoal de cada um e para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e solidária: tudo aspetos sobre os quais procuramos dar o nosso melhor todos os dias, como instituição de referência da comunidade económica de Roma e da sua Província, ao lado das empresas e dos trabalhadores. Esta intenção de oração, que acompanha o Jubileu dos Trabalhadores e o Jubileu dos Empresários, oferece-nos, portanto, a oportunidade de reafirmar o compromisso assumido em 1831, quando precisamente um Papa – Gregório XVI – fundou a Câmara de Comércio de Roma com decreto do Cardeal Bernetti, Secretário de Estado: prosseguir um modelo de desenvolvimento baseado na cooperação e na atenção ao interesse comum”. “Permita-me”, conclui Tagliavanti, “recordar as palavras do Papa Francisco em 2023 a um grupo de empresários franceses: ‘se é verdade que o trabalho enobrece o homem, é ainda mais verdade que é o homem que enobrece o trabalho’. É precisamente esta atenção ao homem que motiva o nosso trabalho quotidiano, na busca de um modelo de desenvolvimento orientado para um bem-estar partilhado por todos”.
Trabalho e dignidade
“Outro conceito sublinhado pelos Pontífices é que o valor do trabalho vai muito além do seu aspeto económico. Se perguntarmos a dez crianças o que gostariam de fazer quando crescerem”, comenta Stefano Simontacchi, membro fundador e membro do conselho de administração da Fondazione PRO Rete Mondiale di Preghiera del Papa, “provavelmente obteremos dez respostas diferentes, porque as aspirações de cada um são diferentes: como na parábola dos talentos, de facto, a cada um foi dado o seu, e o trabalho é a possibilidade de o fazer frutificar, de realizar a sua personalidade. No trabalho, de facto, há muito mais do que a independência económica, que também é importante: há o contributo que se dá à sociedade e, para nós, crentes, também a participação na criação divina. O Papa Francisco usou uma expressão muito bonita para definir tudo isto: chamou ao trabalho a “unção da dignidade”, e esta unção da dignidade é o que realmente faz a diferença nas nossas vidas”. Ainda mais nesta era de grandes mudanças, como a inteligência artificial, que nos deve levar a promover sistemas solidários como forma de coesão social. A gratidão, o respeito e a solidariedade devem ser a nossa bússola”.
Trabalho digno, um objetivo prioritário
O diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, Pe. Cristóbal Fones, explica que, para São João Paulo II, o ser humano é chamado ao trabalho exatamente “porque é feito à imagem e semelhança de Deus”: é precisamente o Senhor que lhe dá a possibilidade de participar na sua obra criadora através do trabalho. Na sua encíclica Laborem exercens, João Paulo II diz-nos que, através do nosso trabalho, a dignidade humana, a união fraterna e a liberdade devem multiplicar-se na terra. O trabalho do cristão, unido à sua oração, faz progredir o mundo e, mais importante ainda, contribui para o desenvolvimento do Reino de Deus”.
“Nesta base” – continua o Pe. Fones – “o seu sucessor, Bento XVI, afirma na encíclica Caritas in Veritate que a dignidade da pessoa exige que as escolhas económicas não aumentem a desigualdade e que o trabalho digno para todos seja um objetivo prioritário. Bento XVI assegura que a pobreza é, em muitos casos, o resultado da violação da dignidade do trabalho humano: por vezes as possibilidades da pessoa são limitadas, como no caso do desemprego ou do subemprego; e outras vezes o direito a um salário justo ou à segurança do trabalhador e da sua família não é respeitado”.
Neste sentido, o Pe. Fones sublinha a continuidade do magistério do Papa Francisco com o dos seus antecessores: “o Papa Francisco diz-nos que o trabalho é sagrado. É o meio que temos para construir uma sociedade mais humana: se queremos uma sociedade mais justa, temos de promover o emprego digno, estável, realizado em ambientes saudáveis e com medidas de segurança adequadas, o que implica o respeito pelos direitos fundamentais e a proteção social, bem como um salário que permita às famílias manter uma boa qualidade de vida”.
Isso será possível “se recuperarmos o verdadeiro valor do trabalho, se abandonarmos a lógica do lucro a qualquer custo e colocarmos ao centro as pessoas, especialmente aquelas que hoje não conseguem viver de forma humanamente digna”.
Finalmente, no contexto do Ano Santo de 2025, O Vídeo do Papa adquire uma relevância especial, porque nos dá a conhecer as intenções de oração pontifícia. Para obter a graça da indulgência jubilar, é necessário rezar por estas intenções.
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