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Artigos › 18/09/2017

Sociedade em decadência: culpa de quem?

A cada dia que passa o povo brasileiro se depara com notícias e imagens que o fazem sentir-se mais decepcionado com a situação em que se encontra a sua pátria.

Nos noticiários, desde o amanhecer até altas horas, só se fala em delações premiadas, malas de dinheiro transportadas na surdina ou escondidas em apartamentos, desvio de recursos das áreas essenciais, escárnio da população por parte de quem só pensa nos próprios interesses, mentiras deslavadas e tudo mais que fere a dignidade das pessoas, tanto das que praticam tais atos e de seus familiares, quanto das que são prejudicadas por eles.

Tais conteúdos, reflexo de uma sociedade sem ética, sem princípios e sem respeito pela verdade geram nas pessoas um sentimento de desânimo, vergonha e revolta. Parece que atrás de cada escândalo e denúncia há sempre situações mais complicadas. Tem-se a impressão de que esta situação não terá fim e não deixará ninguém de fora.

Um grande perigo dentro desse quadro é pensar que a situação social, política e econômica que se vive nestes tempos significa a chegada ao fundo do poço. Em ambiente tão vazio de valores e referências positivas não falta quem se valha desta premissa para viver de qualquer jeito, assumindo a mentalidade do “salve-se quem puder”, “leve vantagem você também”, “todo mundo faz assim” ou do “isso é normal”, sem se importar em dar sua contribuição para que a situação, ao menos não fique pior.

É certo que o estado a que chegou a pátria mãe gentil dos brasileiros se deve, em grande parte, à responsabilidade de muitas lideranças políticas que ao invés de servirem o povo, servem-se dele para a satisfação de seus interesses. Entretanto, deve-se dizer em alto e bom som que há também a responsabilidade devida a cada pessoa, desde o lugar que ocupa e do papel que é chamada a desempenhar na sociedade, para renová-la.

Se as dificuldades semeiam um clima de decepção e revolta, também abrem caminho para uma séria reflexão acerca da contribuição que cada pessoa pode e deve dar em vista de novos tempos, não somente para si, mas também para os seus semelhantes.

A corrupção que estraga o Brasil não se mostra só nas ações de políticos que desviam dinheiro público, recebem propinas em troca de favores ou usam da mentira em vista de resultados favoráveis a si próprios ou ao seu grupo. Revela-se também nos pequenos atos das pessoas comuns que procuram vantagens de modo desonesto: colar na prova, cortar fila, estacionar na vaga do idoso ou da pessoa com deficiência sem sê-los, não devolver o troco a mais recebido no comércio, apresentar atestado médico falso para justificar falta ao trabalho ou à escola, oferecer dinheiro para conseguir isenção de multa ou obter algum benefício e por aí afora.

Enquanto não houver uma tomada de consciência que leve cada qual a assumir sua responsabilidade frente à construção de uma sociedade nova, o Brasil estará longe de um tempo sem miséria, injustiça e violência. Na verdade, não pode haver governantes honestos se o povo for corrupto. Tampouco se pode justificar a desonestidade do povo por causa da corrupção que impera em ambientes políticos.

Cada qual, em seu lugar e desde a sua responsabilidade pessoal deve dar sua contribuição.

No período da ditadura militar, compuseram uma música cuja letra, a certa altura dizia: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Se o verdadeiro significado desta frase era o incentivo à luta armada, diante dos desmandos da ditadura, não se sabe. Mas, com certeza, esse pensamento fazia referência à responsabilidade que cada pessoa tem na construção de uma sociedade pautada na ética e no respeito aos direitos individuais e sociais.

Quem sabe que pela estrada da verdade e da ética se chega à paz, à justiça e à igualdade, dá o melhor de si em atitudes de honestidade, respeito e compromisso com a dignidade de todos e não fica à espera de um milagre que pode ou não acontecer.

Pe. Edinei Evaldo Batista
Pároco da Paróquia Santa Teresinha, em São José dos Campos

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