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Sete conceitos e ideias centrais da encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da Casa Comum

CNBB

No próximo dia 24, a encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da Casa Comum, do Papa Francisco, completa cinco anos. Dentro do espírito da Semana Laudato Si’, o Portal da CNBB revisita o documento papal, uma “encíclica social”, como gosta de salientar o Papa, para relembrar sete dos grandes conceitos e ideias contidos na publicação.

Sete conceitos e ideias centrais da encíclica Laudato Si’

1. Casa Comum

Já no título do documento, Francisco apresenta uma ideia forte, chama o planeta de Casa Comum. Recordando o cântico das criaturas de São Francisco de Assis, de onde se extrai o termo Laudato Si’ (Louvado sejas), o Papa sublinha que o santo italiano “recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços” (LS, 1). No planeta, habitam os seres humanos e todo o conjunto da criação em profunda relação com o ser humano: “O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos” (LS, 2).

2. Ecologia Integral

A ideia de Ecologia integral considera que “tudo está intimamente relacionado e que os problemas atuais requerem um olhar que tenha em conta todos os aspectos da crise mundial”. Francisco propõe em sua reflexão os diferentes elementos duma ecologia integral, que inclua claramente as dimensões humanas e sociais (LS 137). No quarto capítulo do texto, onde desenvolve a ideia de ecologia integral, o Papa abrange as dimensões da Ecologia ambiental, econômica e social; da Ecologia cultural e da Ecologia da vida quotidiana; além de explica sobre a inseparável relação com a noção de bem comum, “princípio este que desempenha um papel central e unificador na ética social”, e com a compreensão sobre “justiça intergeneracional”.

3. Tudo está interligado

A máxima repetida por Francisco na encíclica é devidamente explicada por argumentos científicos: “O tempo e o espaço não são independentes entre si; nem os próprios átomos ou as partículas subatómicas se podem considerar separadamente. Assim como os vários componentes do planeta – físicos, químicos e biológicos – estão relacionados entre si, assim também as espécies vivas formam uma trama que nunca acabaremos de individuar e compreender. Boa parte da nossa informação genética é partilhada com muitos seres vivos. Por isso, os conhecimentos fragmentários e isolados podem tornar-se uma forma de ignorância, quando resistem a integrar-se numa visão mais ampla da realidade” (LS, 138).

Daí também a compreensão do meio ambiente como uma relação: “a relação entre a natureza e a sociedade que a habita. Isto impede-nos de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida. Estamos incluídos nela, somos parte dela e compenetramo-nos” (LS, 139).

4. Ser humano como guardião da Criação

O ser humano é o guardião da Criação e isso Francisco faz questão de ressaltar aos cristãos, a partir, por exemplo, da fonte de luz e motivação que vêm da Eucaristia. Diferentemente da ideia do ser humano como dominador autorizado a saquear a criação de Deus, Francisco apresenta como paradigma de conversão ecológica a visão da superioridade do ser humano em relação às outras criaturas como “uma capacidade […] que lhe impõe uma grave responsabilidade derivada de sua fé” (LS, 220).

“Se o ser humano se declara autónomo da realidade e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a própria base da sua existência, porque «em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba por provocar a revolta da natureza» (LS, 117).

“Se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza, ou o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência, nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar” (LS, 200).

Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa (LS, 217).

5. A crise Ecológica e sua raiz humana

O problema neste cenário de globalização do paradigma tecnocrático é “o modo como realmente a humanidade assumiu a tecnologia e o seu desenvolvimento juntamente com um paradigma homogêneo e unidimensional. Neste paradigma, sobressai uma concepção do sujeito que progressivamente, no processo lógico-racional, compreende e assim se apropria do objeto que se encontra fora. Um tal sujeito desenvolve-se ao estabelecer o método científico com a sua experimentação, que já é explicitamente uma técnica de posse, domínio e transformação. É como se o sujeito tivesse à sua frente a realidade informe totalmente disponível para a manipulação” (LS, 106).Para o Papa Francisco, “há um modo desordenado de conceber a vida e a ação do ser humano, que contradiz a realidade até ao ponto de a arruinar”. O pontífice refere-se ao “paradigma tecnocrático dominante” .

6. A conversão ecológica

Aqui é a grande proposta do Papa Francisco contida na encíclica Laudato Si’: “A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior”, mas também uma conversão comunitária, pressuposto para “criar um dinamismo de mudança duradoura” (LS, 219).

Temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa” (LS, 217).

7. Do consumismo a um novo estilo de vida

O Papa Francisco afirma que a humanidade precisa mudar, tomando consciência “duma origem comum, duma recíproca pertença e dum futuro partilhado por todos”. Isto permitiria “o desenvolvimento de novas convicções, atitudes e estilos de vida. Surge, assim, um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará longos processos de regeneração”.

O consumismo obsessivo é o reflexo subjetivo do paradigma tecno-econômico. A proposta aqui é de um novo início deixando para traz o consumismo que destrói: “Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar duma nova reverência face à vida, pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida” (LS, 207).

“A espiritualidade cristã propõe uma forma alternativa de entender a qualidade de vida, encorajando um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo (LS 222)” […] “ A sobriedade, vivida livre e conscientemente, é libertadora. Não se trata de menos vida, nem vida de baixa intensidade; é precisamente o contrário. Com efeito, as pessoas que saboreiam mais e vivem melhor cada momento são aquelas que deixam de debicar aqui e ali, sempre à procura do que não têm, e experimentam o que significa dar apreço a cada pessoa e a cada coisa, aprendem a familiarizar com as coisas mais simples e sabem alegrar-se com elas” (LS, 224).

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