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Reconhecidas virtudes heroicas de Guido Schäffer; padre Beotti será beato

A Igreja terá em breve um novo beato, o sacerdote de Piacenza Giuseppe Beotti, morto pelos nazistas em 20 de julho de 1944. Durante a audiência deste sábado, 20 de maio, concedida ao cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério das Causas dos Santos, o Papa Francisco autorizou a promulgação do Decreto que reconhece o martírio do sacerdote italiano. Também foram reconhecidas as virtudes heroicas de 8 Servos de Deus que, assim, se tornaram Veneráveis: são dois sacerdotes (o camaronês Simon Mpeke e o espanhol Pedro de la Virgen del Carmen), duas religiosas (a brasileira Tereza Margarida do Coração de Maria e a italiana Edda Roda) e quatro leigos (o jovem seminarista brasileiro Guido Vidal França Schäffer, o catequista italiano Arnaldo Canepa e duas italianas, Maria Cristina Ogier e Lorena D’Alessandro, que morreram ainda jovem devido a um tumor).

Testemunha de Jesus entre os doentes, os jovens e no esporte

O cuidado com os pacientes com Aids, a ajuda, o serviço médico e o trabalho de evangelização oferecido aos pobres e marginalizados nas favelas do Rio de Janeiro caracterizaram os anos de juventude de Guido Vidal França Schäffer, um jovem médico nascido em 1974 que, na década de 1990, junto com sua noiva e um padre, iniciou o grupo de oração Fogo do Espírito Santo na paróquia. Mais tarde, depois de participar, em 1997, do encontro das famílias por ocasião da visita de São João Paulo II ao Rio de Janeiro e, em 2000, de uma viagem à Europa para a beatificação dos protomártires brasileiros, ele decidiu entrar para o Seminário.

Ao mesmo tempo em que estudava, Guido se dedicava com entusiasmo à evangelização e à prática médica. Aqueles que o conheceram recordam sua profunda amizade com Jesus, sua familiaridade com os textos bíblicos e o entusiasmo com que falava do Senhor. Por amor a Deus, ele praticava o jejum e a penitência com simplicidade e discrição. Mesmo quando dava aulas de surfe, seu esporte favorito, iniciava o treinamento com oração. Em 2009, quando estava no mar, na praia do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, foi atingido na cabeça por sua prancha de surfe e morreu afogado.

Ajuda para aqueles que fugiam do nazismo

Giuseppe Beotti nasceu em 1912 em uma família de agricultores e tornou-se padre diocesano em 2 de abril de 1938. Ele se destacou imediatamente por sua assídua obra de caridade em favor dos necessitados e por seu compromisso com a educação dos jovens. Ele ofereceu sua ajuda a todos: resistentes, judeus, soldados e feridos. Durante a ocupação alemã, defendeu os direitos de seus paroquianos e, por isso, foi submetido a um processo penal que não deu em nada.

Ele abrigou e socorreu soldados em fuga, prisioneiros que haviam escapado de guerras, pessoas perseguidas, incluindo cerca de cem judeus que ele escondeu em casebres com a ajuda de seus paroquianos. Diante do perigo de prisões e represálias nazistas, ele não fugiu, mas permaneceu como um ponto de referência em sua igreja em Sidolo, na província de Parma, assíduo nas orações. Ele foi preso e fuzilado em 20 de julho de 1944 em Sidolo, juntamente com um padre e um seminarista que haviam se refugiado na igreja com ele.  Seu assassinato foi motivado pelo ódio dos nazistas contra os transgressores de sua lei antissemita criminosa.

O Evangelho nas montanhas da República de Camarões

Entre os fundadores da União Sacerdotal Jesus Caritas de São Charles de Foucauld, em Camarões, está o Servo de Deus Simon Mpeke, nascido no início do século passado em uma família de camponeses pagãos do grupo étnico Bakoko. Fascinado pelo cristianismo quando jovem, ele se converteu, deixou sua noiva e entrou no seminário para se tornar padre em 1935. Ele se destacou pela profundidade de sua vida espiritual e dedicação pastoral. Conhecedor de vários idiomas, foi o primeiro missionário fidei donum camaronês no norte do país, era habitado por pessoas de origem sudanesa, que estava sob a influência de muçulmanos e cujos povos das montanhas eram ligados a religiões tradicionais.

Ele era chamado de “Baba (pai) Simon” pela população local: viajando pelas montanhas, pregava o Evangelho para o povo indígena Kirdi. Fascinado por seu exemplo, uma comunidade cristã fervorosa nasceu graças a ele. Próximo aos pobres e doentes, ele evangelizou por meio de obras como a pregação e a construção de escolas. Em Cristo, o padre Simon Mpeke viu a realização de esperanças também presentes em outras denominações religiosas: com essa convicção, promoveu a lenta passagem dos não cristãos para o conhecimento de Jesus. Ele também se comprometeu com a promoção humana, superando muitos preconceitos, como o que considerava a doença um castigo divino.

O Evangelho na escola e entre os doentes

Formado pelos Escolápios, primeiro na escola do beato Manuel Segura, mártir da perseguição religiosa na Espanha, e depois na do beato Faustino Oteiza, Pedro de la Virgen del Carmen, sacerdote da Ordem dos Clérigos Regulares Pobres da Mãe de Deus das Escolas Pias, viveu no país ibérico entre 1913 e 1983. Enviado para o front como capelão militar, permaneceu lá até o fim da guerra. De volta a Zaragoza, viveu em profunda união com o Senhor, contemplado na Eucaristia, desenvolvendo intensa atividade na escola, visitando os doentes, ouvindo confissões e na Conferência de São Vicente de Paulo. Ponto de referência para seus alunos, devoto da Virgem Maria, foi uma autêntica testemunha do Evangelho. Seu compromisso com o ensino foi premiado com uma homenagem civil do Estado. Sofreu gravemente de uma úlcera estomacal desde sua juventude, o que o levou à morte na década de 1980.

Apóstola da Consolação

Um testemunho de perseverança na fé, apesar do sofrimento é o oferecido pela Serva de Deus Edda Roda, uma religiosa do Instituto das Irmãs Capuchinhas de Madre Rubatto, que viveu em Bergamo, na Itália, entre 1940 e 1996. Ela sofria de “síndrome astênica”, que lhe causava colapsos físicos e queda de humor, mas jamais se cansava de levar um sorriso às famílias que visitava, organizando encontros de oração ou acompanhando com dedicação pessoas em situações dolorosas.

Durante uma das Missões Populares que realizou entre 1980 e 1995 na Itália, a irmã Edda foi espancada e estuprada por três homens. A irmã Edda carregou esse acontecimento dramático em segredo, o que não a impediu de continuar sua atividade missionária. No último ano de sua vida, foi diagnosticada com câncer uterino avançado. Ela suportou seus sofrimentos sem nunca se queixar, mas transfigurando-os em uma oferta de amor. Como testemunham seus diários, a doença se tornou para ela um caminho de purificação.

Um ponto de referência na fé

Do Brasil vem o testemunho da Serva de Deus Tereza Margarida do Coração de Maria, monja da Ordem dos Carmelitas Descalços que viveu entre 1915 e 2005. No Carmelo próximo ao Santuário de Aparecida, foi vice-mestra das noviças e subpriora. Juntamente com sete irmãs, fundou um mosteiro em Três Pontas, onde se tornou um ponto de referência para as irmãs e para os fiéis que recorriam a ela, chamando-a de Nossa Mãe, para pedir conselhos, direção espiritual e ajuda. Empenhou-se em viver com a Comunidade os Decretos do Concílio Vaticano II e cuidou da formação bíblica, espiritual e litúrgica das irmãs. Uma doença pulmonar, vivida em incansável oração, levou-a à morte.

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