Presidência da CNBB apresenta o Ano da Paz e nota pós-eleições
“A paz é fruto da justiça. É importante superarmos as diferenças sociais em nosso país”, disse o arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Raymundo Damasceno Assis, durante entrevista coletiva à imprensa, realizada hoje, 20, em Brasília. O cardeal referia-se ao Ano da Paz, que será lançado pela Conferência no primeiro domingo do Advento, 30 de novembro, e se estenderá até o Natal de 2015.
A iniciativa foi aprovada, por unanimidade, pelos bispos do Brasil na 52ª Assembleia Geral da CNBB, em maio deste ano. “A proposta é que o Ano da Paz seja um período de reflexão e ação para a superação da violência”, explicou dom Damasceno.
O bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, informou que alguns eventos previstos no calendário da Igreja poderão reforçar a iniciativa como, por exemplo a Campanha da Fraternidade 2015, que terá como tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e trará elementos de reflexão sobre a paz.
Segundo dom Leonardo, a proposta é articular ações em âmbito nacional, como caminhadas em favor da paz, em todas as dioceses e cidades do Brasil. “Também há sugestões de iniciativas nas escolas e universidades, com o objetivo de despertarmos nossos jovens para a importância da paz”, acrescentou.
Dom Damasceno disse que a CNBB vai procurar envolver todas as organizações da sociedade. “Precisamos ajudar a reconstruir relações de harmonia, amor, fraternidade e respeito”, disse dom Damasceno.
Eleições e reforma política
Durante a coletiva, foi divulgada a nota “Brasil pós-eleições: compromissos e desafios”, aprovada na reunião do Conselho Episcopal Pastoral, reunido em Brasília, nos dias 18 e 19 de novembro.
O texto, lido pelo arcebispo de São Luís (MA) e vice-presidente da CNBB, dom José Belisário, recorda aos eleitos em outubro deste ano a responsabilidade que possuem “de não frustrar as expectativas no exercício do seu mandato, bem como o dever de governar para todo o povo brasileiro”.
Os bispos reafirmam a importância da participação da Igreja na Política como auxílio “na construção de uma sociedade justa e fraterna”. A Conferência destaca a urgência da reforma política, como medida contra a corrupção no país.
De acordo com dom Leonardo, já foram coletadas cerca de 600 mil assinaturas em apoio ao Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. Entretanto, são necessárias 1 milhão e 500 mil assinaturas.
“A reforma política é outra urgência inadiável. Convicta disso, a CNBB se empenhará ainda mais na coleta de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular proposto pela Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. À reforma política, entretanto, é necessário unir outras reformas igualmente urgentes como a tributária e a agrária. O Brasil não pode mais conviver com tanta omissão em relação a estas e outras matérias que lhe são vitais”, afirmam os bispos na nota.
Segundo dom Damasceno, a intenção é entregar o Projeto de Lei de Iniciativa Popular ao Congresso Nacional na próxima legislatura, em fevereiro ou março. “Esperamos que o congresso seja sensível a esse apelo da sociedade e coloque na pauta, como prometeram todos os candidatos. A reforma política foi compromisso de todos”, disse o presidente da CNBB.
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Brasil pós-eleições: compromissos e desafios
O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília nos dias 18 e 19 de novembro de 2014, saúda a nação brasileira pela democracia e cidadania vivenciadas nas eleições de outubro deste ano. Cumprimenta a todos que participaram do processo eleitoral e os eleitos. Recorda-lhes a responsabilidade colocada sobre seus ombros de não frustrar as expectativas de quem os elegeu e seu compromisso com a ética, a verdade e a transparência no exercício de seu mandato, bem como o dever de servir a todo o povo brasileiro.
A campanha eleitoral deste ano ratificou o processo democrático brasileiro no qual partidos, candidatos e eleitores puderam debater suas ideias e projetos. Tornou mais visíveis, no entanto, graves fragilidades de nosso sistema político: sua submissão ao poder econômico financiador das campanhas; o descompromisso de partidos e candidatos com programas, favorecendo debates com ataques pessoais; a prevalência da imagem dos candidatos produzida pelos marqueteiros; o desrespeito, em alguns casos, às leis que combatem a corrupção eleitoral.
Passadas as eleições, urge ao País recompor sua unidade no respeito às diferenças e à pluralidade, próprias da democracia. Nada justifica a disseminação de uma divisão ou de ódio que depõe contra a busca do bem comum, finalidade principal da Política. O bem de todos coloca a pessoa humana e sua dignidade acima de ideologias e partidos.
A construção do bem comum desafia, especialmente, os eleitos em outubro deste ano. A corrupção na Petrobras reforça a sensação de que é um mal que não tem fim. Vemos aqui, claramente, as consequências do financiamento de campanhas por empresas, porta e janela de entrada da corrupção. Nenhum país prospera com corrupção que, no caso do Brasil, lamentavelmente já vem de muitos anos e não se limita à Petrobras.
A reforma política é outra urgência inadiável. Convicta disso, a CNBB se empenhará ainda mais na coleta de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular proposto pela Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. À reforma política, entretanto, é necessário unir outras reformas igualmente urgentes como a tributária e a agrária. O Brasil não pode mais conviver com tanta omissão em relação a estas e outras matérias que lhe são vitais.
“A política, tão desacreditada, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (Papa Francisco. Evangelii Gaudium, n.205). Nesse espírito, a CNBB reafirma que a sua participação na vida Política é tão importante quanto necessária para ajudar na construção de uma sociedade justa e fraterna. Afinal, “ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos. Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela” (Papa Francisco. Evangelii Gaudium, n.183).
Nossa Senhora Aparecida abençoe o Brasil e os que foram eleitos a fim de que sejam fieis ao seu compromisso com o bem comum.
Cardeal Raymundo Damasceno Assis Arcebispo de Aparecida Presidente da CNBB |
Dom José Belisário da Silva, OFM Arcebispo de São Luís do Maranhão Vice Presidente da CNBB |
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília Secretário Geral da CNBB |
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