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Papa no Encontro Inter-religioso: “Somos chamados a construir juntos um futuro de paz”

Rádio Vaticano

A breve visita do Papa Francisco ao Azerbaijão teve um forte caráter inter-religioso. Neste sentido, este domingo teve seu ponto alto com o Encontro Inter-religioso na Mesquita H. Aliyev, de Baku, reunindo o Xeique dos muçulmanos do Cáucaso, Allahshukur Pashazadeh, e representantes das outras comunidades do país.

Antes do proferir seu discurso, o Santo Padre teve um encontro privado com o Xeique, com a troca de dons, para então encontrar os demais representantes religiosos.

Ao se pronunciar antes de Francisco, o Xeique desejou a ele, em nome seu e de todo o Azerbaijão, as mais sinceras felicitações pelo transcurso dos 80 anos, proximamente”.

Ao iniciar seu pronunciamento, o Papa destacou o grande sinal que era o encontro – em fraterna amizade – realizar-se naquele local de oração. “Um sinal que manifesta aquela harmonia que as religiões, em conjunto, podem construir, a partir das relações pessoais e da boa vontade dos responsáveis”, e da qual o Azerbaijão se beneficia, pois “é a colaboração e não a contraposição que ajudam a construir sociedades melhores”, frisou o Pontífice.

O presente encontro – recordou o Papa –  está em continuidade aos numerosos encontros que se realizam em Baku “para promover o diálogo e a multiculturalidade”:

“A fraternidade e a partilha que desejamos incrementar não serão apreciadas por aqueles que querem salientar divisões, reacender tensões e enriquecer à custa de conflitos e contrastes; mas são imploradas e esperadas por quem deseja o bem comum, e sobretudo são agradáveis a Deus, Compassivo e Misericordioso, que quer os filhos e filhas da única família humana unidos e sempre em diálogo entre si”.

“Abrir-se aos outros – diz Francisco –  não empobrece, mas enriquece, porque nos ajuda a ser mais humanos”:

“A reconhecer-se parte ativa dum todo maior e a interpretar a vida como um dom para os outros; a ter como alvo não os próprios interesses, mas o bem da humanidade; a agir sem idealismos nem intervencionismos, sem realizar interferências prejudiciais nem ações forçadas, mas sempre no respeito das dinâmicas históricas, das culturas e das tradições religiosas”.

Para o Papa, as próprias religiões “têm a grande tarefa de acompanhar os homens em busca do sentido da vida, ajudando-os a compreender que as limitadas capacidades do ser humano e os bens deste mundo nunca se devem tornar absolutos”:

“As religiões são chamadas a fazer-nos compreender que o centro do homem está fora dele, que tendemos para o Outro infinito e para o outro que está próximo de nós. Aí o homem é chamado a encaminhar a vida rumo ao amor mais sublime e, simultaneamente, mais concreto: este não pode deixar de estar no cume de toda a aspiração autenticamente religiosa”.

As religiões, neste sentido, têm também “uma tarefa educativa: ajudar a tirar fora do homem o seu melhor. E nós, como guias, temos uma grande responsabilidade que é dar respostas autênticas à busca do homem, hoje frequentemente perdido nos paradoxos vertiginosos do nosso tempo”.

O Papa observa, que nos nossos dias avança, por um lado, “o niilismo daqueles que não acreditam em nada mais senão nos seus próprios interesses, benefícios e lucros, daqueles que jogam fora a vida acomodando-se ao ditado «se Deus não existe, tudo é permitido» e por outro, “emergem cada vez mais as reações rígidas e fundamentalistas daqueles que, com a violência da palavra e dos gestos, querem impor atitudes extremas e radicalizadas, as mais distantes do Deus vivo:

“As religiões, pelo contrário, ajudando a discernir o bem e a pô-lo em prática com as obras, a oração e o esforço do trabalho interior, são chamadas a construir a cultura do encontro e da paz, feita de paciência, compreensão, passos humildes e concretos. É assim que se serve a sociedade humana”.

A sociedade, por sua vez – chama a atenção Francisco – está sempre obrigada a vencer a tentação de se servir do fator religioso: as religiões não devem jamais ser instrumentalizadas e nunca se podem prestar a apoiar conflitos e confrontos”. Pelo contrário, “é fecunda uma ligação virtuosa entre sociedade e religiões, uma aliança respeitosa que deve ser construída e preservada”, a qual o Papa simboliza com as preciosas janelas artísticas, presentes há séculos naquelas terras, “feitas apenas de madeira e vidros coloridos (Shebeke)”, sem o uso de colas, nem pregos, “mas encaixados entre si com um trabalho longo e cuidadoso”, em que um material sustenta o outro.

“Da mesma forma – observou o Papa –  é dever de cada sociedade civil sustentar a religião, que permite a entrada duma luz indispensável para viver: para isso é necessário garantir-lhe uma efetiva e autêntica liberdade”.

“Deus não pode ser invocado para interesses de parte nem para fins egoístas; não pode justificar qualquer forma de fundamentalismo, imperialismo ou colonialismo. Mais uma vez deste lugar tão significativo, levanta-se o grito angustiado: nunca mais violência em nome de Deus! Que o seu Santo nome seja adorado, e não profanado nem mercantilizado por ódios e conflitos humanos”, disse com veemência Francisco.

Oração e diálogo – dever para os cristãos e condição para a paz – estão profundamente relacionados entre si, disse o Pontífice. “Partem da abertura do coração e tendem para o bem dos outros; por isso se enriquecem e reforçam mutuamente”.

Nos passos do Concílio Vaticano II – disse o Papa – a Igreja exorta  ao diálogo e colaboração com seguidores de outras religiões. “Não se trata de qualquer «sincretismo conciliador», nem de «uma abertura diplomática que diga sim a tudo para evitar problemas» mas de dialogar com os outros e rezar por todos: estes são os nossos meios para mudar as lanças em foices, para fazer surgir amor onde há ódio e perdão onde há ofensa, para não nos cansarmos de implorar e percorrer caminhos de paz”:

“Uma paz verdadeira, fundada sobre o respeito mútuo, o encontro e a partilha, sobre a vontade de ultrapassar os preconceitos e as injustiças do passado, sobre a renúncia à duplicidade e aos interesses de parte; uma paz duradoura, animada pela coragem de superar as barreiras, de debelar a pobreza e as injustiças, de denunciar e deter a proliferação de armas e os ganhos iníquos obtidos à custa da pele dos outros. A voz de demasiado sangue clama a Deus a partir do solo da Terra, nossa casa comum”.

O Papa afirmou que “somos desafiados a dar uma resposta, sem mais adiamentos, para construir um futuro de paz”:

“Não é tempo de soluções violentas e bruscas, mas o momento urgente de empreender processos pacientes de reconciliação. A verdadeira questão do nosso tempo não é como promover os nossos interesses, mas que perspetiva de vida oferecer às gerações futuras, como deixar um mundo melhor do que aquele que recebemos”.

“Deus – disse o Papa – e a própria história, interrogar-nos-ão se hoje nos gastamos pela paz; já no-lo perguntam instantemente as gerações jovens, que sonham com um futuro diferente”.

“Na noite dos conflitos que estamos a atravessar, as religiões sejam alvorecer de paz, sementes de renascimento por entre devastações de morte, ecos de diálogo que ressoam incansavelmente, caminhos de encontro e reconciliação para se chegar mesmo lá onde as tentativas das mediações oficiais parecem não ter êxito. Especialmente nesta amada região caucásica, que muito desejei visitar e à qual cheguei como peregrino de paz, as religiões sejam veículos ativos para a superação das tragédias do passado e das tensões atuais”.

Que “as riquezas inestimáveis destes países – concluiu o Papa – sejam conhecidas e valorizadas: os tesouros antigos e sempre novos de sabedoria, cultura e religiosidade dos povos do Cáucaso são um grande recurso para o futuro da região e, em particular, para a cultura europeia, bens preciosos a que não podemos renunciar”.

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