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Papa e prefeitos reunidos no Vaticano assinam declaração conjunta

CNBB

Cerca de 70 prefeitos de várias partes do mundo estão reunidos nesta terça e quarta-feira, 21 e 22 de julho, no Vaticano, para discutir as mudanças climáticas, as novas formas de escravidão moderna e o desenvolvimento sustentável, em evento realizado pela Pontifícia Academia das Ciências.

O workshop “Escravidão Moderna e Mudanças Climáticas” contou com a participação de sete prefeitos brasileiros, que prepararam uma carta relatando os principais desafios enfrentados pelos governos locais e pedindo o reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU) como atores fundamentais na promoção da sustentabilidade e do desenvolvimento humano. Os prefeitos também solicitam por meio do documento que haja uma transferência de recursos e tecnologias dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, e que este repasse seja feito diretamente às cidades, considerando o consumo de recursos naturais dos países.

Periferia e crescimento desenfreado. Em seu discurso improvisado que encerrou o primeiro dia do encontro, Francisco falou que “o trabalho mais sério e mais profundo se faz da periferia até o centro”. “Se o trabalho não vem das periferias até o centro, não tem efeito”, afirmou ele ao apontar as responsabilidades dos prefeitos e os motivos pelos quais eles participam do evento.

Mais uma vez ele pode falar ao mundo sobre suas expectativas de que a comunidade internacional chegue a um consenso e produza um documento final com propostas concretas durante a cúpula sobre o clima, a ser realizada em novembro, em Paris. Segundo ele, “as Nações Unidas precisam se envolver mais fortemente nesses problemas, especialmente com o tráfico de seres humanos, provocado por este fenômeno ambiental, a exploração das pessoas”.

O papa apontou que o inchaço das grandes cidades é provocado pelas consequências de um movimento de desenvolvimento tecnocrático de exclusão, no qual as pessoas no campo têm seu acesso à terra diminuído e migram para os centros urbanos, e que este problema está ligado à maneira como se cuida do ambiente. “É um fenômeno mundial. As grandes cidades crescem cada vez mais, e junto com elas, os bolsões de pobreza e miséria, onde as pessoas sofrem as consequências das negligências com o planeta”, conclui.

Encíclica Social. Sobre a Laudato si’, Francisco afirmou que ela não é uma “encíclica verde, mas sim uma encíclica social”, pois dentro dela, assim como da vida social do homem, não é possível separar o cuidado com o meio ambiente. “O problema do ambiente é uma atitude social, que nos socializa”, refletiu.

Ele enfatizou que a cultura do cuidado pelo ambiente não é apenas uma “atitude verde, é muito mais”. “Cuidar do ambiente significa uma atitude de ecologia humana. Já não podemos dizer a pessoa está aqui e a criação e o ambiente estão ali. A ecologia é total, é humana. Foi o que eu quis expressar na Laudato si’, que não se pode separar o homem do resto. Existe uma relação de incidência mútua, seja do ambiente sobre a pessoa, seja da pessoa no modo como trata o ambiente. E, também, o efeito de ‘rebote’ contra o homem, quando o ambiente é maltratado”, explicou.

Compromissos. Nesta terça-feira, 21, ao final do Simpósio sobre “Prosperidade, população e planeta”, o papa e os prefeitos reunidos assinaram uma Declaração conjunta, que menciona de modo especial a Conferência sobre o Clima de Paris (COP21) como a última efetiva possibilidade de negociar acordos que possam manter o aquecimento global provocado pelo homem em um limite seguro.

“Os líderes políticos de todos os Estados-membros das Nações Unidas têm uma responsabilidade especial em concordar na COP21 para um ambicioso acordo sobre o clima, que limite o aquecimento global a um nível seguro para toda a humanidade, protegendo os pobres e os vulneráveis do perigo mortal constituído pelas mudanças climáticas em andamento. Os países de alta renda deveriam contribuir para financiar as despesas com a finalidade de atenuar as mudanças climáticas nos países de baixo renda, como prometeram fazer”, diz trecho do texto.

No documento, os prefeitos afirmam se empenharem “em favorecer a emancipação dos pobres e dos que vivem em condições de vulnerabilidade, reduzindo sua exposição a eventos extremos e catastróficos derivantes de profundas alterações de natureza ambiental, econômica e social, que criam terreno fértil para o tráfico de seres humanos e as migrações forçadas”.

Lutar pelo fim dos abusos, da exploração, do tráfico de pessoas e de órgãos, além da prostituição e servidão doméstica também estão entre os compromissos assumidos. “Queremos que as nossas cidades e centros urbanos se tornem sempre mais socialmente inclusivos, seguros, flexíveis e sustentáveis. Todos os setores e as partes interessadas devem fazer sua parte e nós nos empenhamos plenamente neste sentido, como prefeitos e como pessoas”, desejam.

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