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O Papa: calúnia, “câncer diabólico” que destrói a reputação de uma pessoa

“Estevão evangeliza com força e parresia, mas sua palavra encontra resistências. Não encontrando outra maneira de fazê-lo desistir, os seus adversários escolhem a solução mais mesquinha para aniquilar um ser humano: a calúnia ou falso testemunho”, disse Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira.

Estevão «repleto do Espírito Santo» entre  diakonia e martyria. Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (25/09), realizada na Praça São Pedro, com milhares de fiéis e peregrinos.

O Pontífice deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos para “seguir a viagem do Evangelho no mundo”. O evangelista Lucas mostra, com realismo, a fecundidade dessa viagem e o surgimento de alguns problemas na comunidade cristã.

Como harmonizar as diferenças que existem dentro da comunidade cristã sem que ocorram contrastes e divisões?

“A comunidade não acolhia somente os judeus, mas também os gregos, ou seja, pessoas provenientes da diáspora, não judeus, com suas culturas e sensibilidades. Também de outra religião. Nós, hoje, dizemos “pagãos”. Eles eram acolhidos. Essa coexistência determina equilíbrios frágeis e precários, e diante das dificuldades emerge o “joio”. E qual é o joio que destrói a comunidade? O joio da murmuração, o joio da fofoca. Os gregos murmuram pela falta de atenção da comunidade em relação às viúvas.”

“Como os Apóstolos agem diante desse problema?”, perguntou o Papa.

Oração e pregação da Palavra de Deus

“Iniciam um processo de discernimento que consiste em considerar bem as dificuldades e procurar soluções em conjunto. Encontram uma saída ao dividir as tarefas por um crescimento sereno de todo o corpo eclesial e para não transcurar a “corrida” do Evangelho e a atenção aos membros mais pobres.”

Segundo Francisco, “os Apóstolos estão cada vez mais conscientes de que a sua vocação principal é a oração e a pregação da Palavra de Deus: rezar e anunciar o Evangelho, e resolvem o problema instituindo um grupo de «sete homens de boa fama, repletos do Espírito Santo e de sabedoria», que depois de receberem a imposição das mãos, se encarregam de servir às mesas. Os diáconos são criados para isso, para o serviço. O diácono, na Igreja, não é um segundo sacerdote. Não, não. É outra coisa”.

O diácono não é para o altar, não: é para o serviço. Ele é o guardião do serviço na Igreja. Quando um diácono gosta muito de ir para o altar, ele está errado. Este não é o seu caminho. Essa harmonia entre serviço à Palavra e serviço à caridade é um fermento que faz crescer o corpo eclesial.

Veja um trecho da catequese do Santo Padre

“Criam sete diáconos”, frisou o Papa, e dentre eles destacam-se Estevão e Felipe. “Estevão evangeliza com força parresia (audácia), mas sua palavra encontra resistências. Não encontrando outra maneira de fazê-lo desistir, os seus adversários escolhem a solução mais mesquinha para aniquilar um ser humano: ou seja, a calúnia ou falso testemunho. Nós sabemos que a calúnia mata. Sempre.”

Calúnia, câncer diabólico

“ Esse “câncer diabólico” que é a calúnnia, nasce do desejo de destruir a reputação de uma pessoa, também agride o resto do corpo eclesial e o danifica seriamente quando, devido a interesses mesquinhos ou para encobrir as próprias falhas, se aliam para difamar alguém. ”

“Levado ao Sinédrio e acusado de falso testemunho, fizeram o mesmo com Jesus e o mesmo farão com todos os mártires: falsos testemunhos, calúnias”, frisou o Papa.

Estêvão proclama uma releitura da história sagrada centrada em Cristo, para se defender.

“A Páscoa de Jesus morto e ressuscitado é a chave de toda a história da Aliança. Estêvão denuncia corajosamente a hipocrisia com a qual os profetas e o próprio Cristo foram tratados. «A qual dos profetas os pais de vocês não perseguiram? Eles mataram aqueles que anunciavam a vinda do Justo, do qual agora vocês se tornaram traidores e assassinos». Não usa meio termo, Estêvão fala claro, diz a verdade. Isso causa a reação violenta dos ouvintes, e Estêvão é condenado à morte, à lapidação”, sublinhou o Pontífice. Ele coloca “a sua vida nas mãos do Senhor e a sua oração é linda naquele momento: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito» e morre como filho de Deus perdoando: «Senhor, não os condenes por este pecado.»”

A Igreja de hoje é rica de mártires

Segundo Francisco, “essas palavras de Estevão nos ensinam que não são os bonitos discursos que revelam a nossa identidade como filhos de Deus, mas apenas o abandono da vida nas mãos do Pai e o perdão aos que nos ofendem nos mostram a qualidade da nossa fé”.

“A Igreja de hoje é rica de mártires – hoje existem mais mártires do que no tempo do início da Igreja, e os mártires estão por toda parte; a Igreja é irrigada pelo seu sangue que é a “semente de novos cristãos” e garante crescimento e fecundidade ao povo de Deus. Os mártires não são “santinhos”, mas homens e mulheres de carne e osso que, como diz o Apocalipse, “lavaram suas vestes, tornando-as brancas no sangue do Cordeiro”. Eles são os verdadeiros vencedores”, concluiu o Papa.

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