Vinde, Espírito Santo!
Celebramos neste mês de junho a Solenidade do Divino Espírito Santo: a festa de Pentecostes. No credo Niceno-Constantinopolitano rezamos: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: ele que falou pelos profetas…” Assim cremos e anunciamos a ação da terceira pessoa da Santíssima Trindade.
Existem várias referências, diretas e indiretas, à Solenidade de Pentecostes no Antigo Testamento (Êxodo 23, 16; Levítico 23, 15-22; Números 28, 26-31 e Deuteronômio 16, 9-16). Essa festa aparece no Antigo Testamento com outros nomes, como: Festa das Semanas, referindo-se à sete semanas após a oferta das primícias (Êxodo 34, 22; Deuteronômio 16, 10.16; 2 Crônicas 8, 13). Festa da Colheita, referindo-se à colheita dos grãos (Êxodo 23, 16). O Dia das Primícias, referindo-se às primícias de uma colheita (Números 28, 26). Essa festa era entendida como uma santa convocação, de modo que no dia de Pentecostes nenhum trabalho servil poderia ser executado (Levítico 23,21). Nesse dia, dois pães assados deveriam ser trazidos dos lares dos judeus, juntamente com as ofertas de sacrifício animal para a expiação dos pecados e oferta pacífica. Mais tarde, o Pentecostes passou a ser considerado pelos judeus como o aniversário da transmissão da Lei à Moisés no Sinai. Eles calcularam, com base em Êxodo 19, 1, que esse evento ocorreu no quinquagésimo dia depois do êxodo, e por isso tal entendimento se tornou uma tradição.
Pentecostes é mencionado no Novo Testamento em três passagens diferentes. A primeira, e mais significativa, faz referência ao dia em que o Espírito Santo foi derramado sobre os cristãos em Jerusalém (Atos 2). A segunda referência trata de quando o apóstolo Paulo estava decidido a não se demorar na Ásia a fim de poder estar em Jerusalém até o dia do Pentecostes (Atos 20, 16). A terceira referência mostra Paulo disposto a permanecer em Éfeso até o Pentecostes, devido a uma “porta grande e eficaz” que lhe tinha sido aberta (1 Coríntios 16, 9).
A maioria das pessoas que se perguntam o que é o Pentecostes tem em mente a descida do Espírito Santo narrada pelo evangelista Lucas no livro de Atos dos Apóstolos (Atos 2).
Cinquenta dias depois da morte e ressurreição do Senhor Jesus, o Espírito Santo foi derramado sobre os cristãos se cumprindo uma série de promessas desde o Antigo Testamento. Dentre as profecias, a mais direta e explicita foi aquela profetizada pelo profeta Joel, ao dizer que haveria o dia em que Deus derramaria o seu Espírito sobre toda a carne (Joel 2, 28-32). No dia do Pentecostes o apóstolo Pedro apontou para o cumprimento da profecia de Joel (Atos 2, 16-21).
Já no Novo Testamento, João Batista falou sobre o Messias que batizaria com Espírito Santo (Marcos 1, 8), e depois o próprio Jesus prometeu que o Espírito Santo seria enviado (João 14) e deu ordens claras para que os discípulos aguardassem em Jerusalém até que isso ocorresse (Lucas 24, 49; Atos 1, 4,5).
Os apóstolos esperaram em Jerusalém conforme Jesus havia ordenado, e quando o dia de Pentecostes chegou a promessa foi cumprida (Atos 2, 1). O texto grego original diz literalmente “quando o dia do Pentecostes estava sendo cumprido”, no sentido de expressar a ideia de que o quinquagésimo dia havia chegado e o período de espera terminado.
Lucas escreve que os cristãos estavam reunidos num lugar, numa casa, no Pentecostes.
A Descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes foi acompanhada de três sinais que serviram para atestar a autoridade daquele acontecimento. A Bíblia diz que de repente um ruído como de um vento soprando violentamente encheu a casa, e apareceram línguas como que de fogo que pousaram sobre cada um dos que estavam ali, e todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas à medida que o Espírito Santo lhes ia dando habilidade (Atos 2, 3.4). Vejamos:
“Som de um vento forte”: é importante entender que não houve um vento literalmente, mas o ruído de um vendaval. Esse sinal é muito significativo porque tanto no hebraico como no grego, uma única palavra é utilizada para transmitir o sentido de vento e espírito.
“Línguas como que de fogo”: também é importante entender que os cristãos ali reunidos não tiveram uma ilusão, mas viram realmente línguas como que de fogo pousando sobre a cabeça deles. Na Bíblia o fogo em várias ocasiões aparece sendo usado como símbolo da presença Divina enfatizando especialmente à santidade e o juízo de Deus.
“Começaram a falar em outras línguas”: ao serem repletos do Espírito Santo, os cristãos começaram a falar outras línguas conforme o Espírito lhes ia concedendo. A palavra grega traduzida como língua nesse texto expressa o conceito de idioma falado.
O resultado disso é que pessoas de diferentes partes ouviram os cristãos falarem cada um em sua própria língua. Nesse caso não se tratam de línguas ininteligíveis, mas de idiomas que eram falados desde a Pérsia até Roma (Atos 2, 7-11).
Então alguém poderia perguntar: Quem é o Espírito Santo? Segundo o Catecismo da Igreja Católica, o Espírito Santo é a “Terceira Pessoa da Santíssima Trindade”. Quer dizer, havendo um só Deus, existem nele três pessoas diferentes: Pai, Filho e Espírito Santo. Esta verdade foi revelada por Jesus em seu Evangelho.
O Espírito Santo coopera com o Pai e o Filho desde o começo da história até sua consumação, quando o Espírito se revela e nos é dado, quando é reconhecido e acolhido como pessoa. O Senhor Jesus no-lo apresenta e se refere a Ele não como uma potência impessoal, mas como uma Pessoa diferente, com seu próprio atuar e um caráter pessoal.
“Deus é Amor” (Jo 4,8-16) e o Amor que é o primeiro Dom, contém todos os demais. Este amor “Deus o derramou em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Pelo Espírito Santo nós podemos dizer que “Jesus é o Senhor”, quer dizer para entrar em contato com Cristo é necessário ter sido atraído pelo Espírito Santo.
Mediante o Batismo nos é dado a graça do novo nascimento em Deus Pai por meio de seu Filho no Espírito Santo. Porque os que são portadores do Espírito de Deus são conduzidos ao Filho; mas o Filho os apresenta ao Pai, e o Pai lhes concede a incorruptibilidade. Portanto, sem o Espírito não é possível ver ao Filho de Deus, e sem o Filho, ninguém pode aproximar-se do Pai, porque o conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho de Deus se alcança pelo Espírito Santo.
O Espírito Santo com sua graça é o “primeiro” que nos desperta na fé e nos inicia na vida nova. Ele é quem nos precede e desperta em nós a fé. Entretanto, é o “último” na revelação das pessoas da Santíssima Trindade.
O Espírito Santo coopera com o Pai e o Filho desde o começo do Desígnio de nossa salvação e até sua consumação. Somente nos “últimos tempos”, inaugurados com a Encarnação redentora do Filho, é quando o Espírito se revela e nos é dado, e é reconhecido e acolhido como Pessoa.
O Paráclito é anunciado por Jesus. A palavra vem do grego “parakletos”, o mediador, o defensor, o consolador. Jesus nos apresenta o Espírito Santo dizendo: “O Pai vos dará outro Paráclito” (Jo 14,16). O advogado defensor é aquele que, pondo-se de parte dos que são culpáveis devido a seus pecados os defende do castigo merecido, os salva do perigo de perder a vida e a salvação eterna. Isto é o que Cristo realizou, e o Espírito Santo é chamado “outro paráclito” porque continua fazendo operante a redenção com a que Cristo nos livrou do pecado e da morte eterna.
Ele é o Espírito da Verdade: Jesus afirma de si mesmo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). E ao prometer o Espírito Santo naquele “discurso de despedida” com seus apóstolos na Última Ceia, diz que será quem depois de sua partida, manterá entre os discípulos a mesma verdade que Ele anunciou e revelou.
O Paráclito, é a verdade, como o é Cristo. Os campos de ação em que atua o Espírito Santo são o espírito humano e a história do mundo. A distinção entre a verdade e o erro é o primeiro momento de tal atuação. Permanecer e atuar na verdade é o problema essencial para os Apóstolos e para os discípulos de Cristo, desde os primeiros anos da Igreja até o final dos tempos, e é o Espírito Santo quem torna possível que a verdade sobre Deus, o homem e seu destino, cheguem até nossos dias sem alterações.
Celebremos com alegria e festa a grande Solenidade de Pentecostes, a presença do Espírito Santo na Igreja e em cada um de nós, pelos sacramentos que recebemos e peçamos sua presença e acompanhamento em todos os momentos de nossa vida. Vinde Espírito Santo…
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Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB
Bispo Diocesano de São José dos Campos
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