O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA
Celebramos no mês de maio, deste ano, a SOLENIDADE DE PENTECOSTES.
A celebração da Solenidade de Pentecostes nos estimula a revisitar e meditar o mistério da identidade do Espírito Santo e sua missão. É Ele quem impulsiona a Igreja e a mantém em permanente estado de missão para ir ao encontro das “Galileias” nos tempos atuais e a estarmos atentos às novas demandas do Reino de Deus.
É o Espírito quem dá e alimenta a coesão eclesial, a sua comunhão, solidez, sensibilidade, renovação; é Ele quem a faz superar a polarização, a fragmentação, as divisões, a frieza pastoral, o comodismo paralisante, o fechamento, o mundanismo.
É também o mesmo Espírito quem redimensiona a Igreja suscitando novos carismas, vocações, estruturas pastorais, nova sensibilidade e critérios de discernimento, e compreensão daquilo que, no passado, parecia oculto. Desse jeito o Espírito promove a fidelidade dinâmica e criativa da Igreja ao seu Senhor.
O Espírito Santo defende a Igreja
“Quando vier o Defensor que eu vos mandarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo…” (Jo 15,26;16,4).
Foi por obra do Espírito Santo que o Filho de Deus se encarnou no útero de Maria; movido pelo mesmo Espírito, Jesus iniciou a sua missão: “Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. Ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam” (Lc 4,14).
Foi dinamizado pelo Espírito Santo que os apóstolos saíram de Jerusalém em missão anunciando o Evangelho (a vida de Jesus) por toda parte! É o mesmo Espírito Santo quem conduz e sustenta a Igreja também hoje com seus mais variados serviços.
O Espírito Santo alimenta, anima e sustenta a missão da Igreja. Ele é chamado o “advogado”, o defensor, o consolador porque Satanás se opõe ao Reino de Deus e persegue os discípulos de Cristo. Mas o Espírito ampara, fortalece, fideliza!
O Espírito Santo inspira à fidelidade e defende os discípulos de Jesus contra o Maligno. Satanás intervém tentando desviar os discípulos de Jesus da obediência à Verdade; os incita ao egoísmo, os provoca à fuga do sacrifício, os estimula à frieza afetiva e à mediocridade religiosa; os convida à inércia (paralisia) para que não avancem na Evangelização e Jesus Cristo não seja conhecido, amado e nem seguido.
O momento mais delicado da obediência à Verdade é a hora da cruz, do sofrimento, das dificuldades! Nessa hora o Espírito Santo nos fortalece, nos consola e nos anima à perseverança. Ele vem ao encontro da nossa fragilidade (cf. Rm 8,26). Dessa forma a fé dos discípulos de Jesus não é abalada e a Igreja continua sua missão (cf. Jo 16,1).
O Espírito Santo dá sabedoria à Igreja capacitando-a para dar testemunho da Verdade, independente da discordância da moral mundana que a agride e a persegue (cf. Jo 16,2). Convictos de que estamos sendo assistidos pelo mesmo Espírito que acompanhou Jesus Cristo, não nos sentimos solitários e à deriva das convenções humanas!
O Espírito Santo educa e rejuvenesce a Igreja
“Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade… Coisas futuras vos anunciará… Receberá do que é meu e vo-lo anunciará” (cf. Jo 16,12-15).
Jesus declara que a missão do Espírito Santo é também conduzir a Igreja à experiência da profunda compreensão e vivência do conteúdo do Evangelho. Esse verbo conduzir nos sugere a ideia de processo de desenvolvimento do Reino de Deus! Nada é automático!
Jesus Cristo anunciou a essência dos valores e da dinâmica do Reino de Deus, mas a sua realização em cada contexto, depende do processo de evangelização nas mais variadas situações humanas, da assimilação e maturação da fé dos novos discípulos. Esse processo de amadurecimento da fé vai tomando forma progressivamente nas mais variadas culturas e povos.
Por isso, não há espaço para a paralisia, moral, nem pastoral; a fidelidade coerente com o Evangelho deve ser dinâmica, porque dinâmico é o Espírito Santo que conduz a Igreja! Portanto, coisas futuras ele sempre nos anunciará e revelará. A fé não é espera passiva do Céu! Se o Paraíso é a plenitude, então devemos estar a caminho, em processo.
O Espírito Santo educa a Igreja e a acompanha garantindo-lhe a retidão do dinamismo e das atitudes dos discípulos diante da evolução dos tempos, da ciência, das circunstâncias históricas, da consciência da identidade humana, conservando-os na fidelidade ao mandamento do amor. O que evolui não é o Evangelho, mas é a nossa compreensão. A consciência eclesial não deve ser a mesma, deve evoluir sempre, mas na fidelidade a Jesus Cristo. A Igreja não pode desconectar-se do autêntico dinamismo evolutivo da humanidade.
Jesus fala da continuidade da sua missão, iluminada pelo Espírito, mas dentro da perspectiva de processo. A Igreja guiada pelo Espírito Santo, segue a evolução da humanidade naquilo que é autêntico. A Igreja, assistida pelo Espírito Santo, é dinâmica, em contínuo crescimento, em estado de amadurecimento permanente! O tradicionalismo faz mal à Igreja, porque a amarra ao passado, deixando-a ancorada, congelada. Isso nega o dinamismo do homem, da Fé e do Espírito Santo. A Igreja vive no esforço constante de assimilação das insondáveis riquezas do Evangelho (cf. Rm 1,5; Ef 3,19).
Assim, a Igreja assistida pelo Espírito Santo, jamais se tornará uma comunidade estática, obsoleta, fossilizada. O Espírito Santo a livra de cair na caduquice, de ficar antiquada, ultrapassada e anacrônica (fora da história). Temos como responsabilidade, então, dar atenção e discernir o que Espírito Santo nos diz diante de cada realidade da história (cf. Ap 2,7). Estamos em constante evolução da compreensão das riquezas provocadores das palavras, gestos e atitudes de Jesus.
É função do Espírito de Cristo nos comunicar realidades novas! A Igreja é sempre jovem porque o Espírito a rejuvenesce, diz o Papa Francisco! Mas se nos fecharmos em nossos esquemas rígidos, estáticos, arcaicos e frios, no comodismo e na mentalidade fixa, sem relação com o dinamismo da história, deixamos de ser “sal da terra” e “luz do mundo”.
Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB
Bispo Diocesano
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