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A Voz do Pastor › 04/05/2020

Maio: mês de Maria, Mãe de Deus

Maria, Mãe de Jesus, ocupa um lugar de destaque entre os discípulos e discípulas do Senhor. No concílio de Éfeso a Igreja a proclamou “THEOTOKOS” = MÃE DE DEUS. Assim, quero neste artigo, retomar um documento precioso do Magistério da Igreja sobre a sublime Mãe de Deus. É uma Exortação Apostólica do Papa Paulo VI, do ano de 1967, chamada: “SIGNUM MAGNUM”, em português “SINAL GRANDIOSO”.

Diz o Santo Papa Paulo VI que Maria é MÃE DA IGREJA E MODELO DE TODAS AS VIRTUDES. Leia e aproveite para sua formação pessoal e para ensinar a todos aqueles que você puder, esta maravilhosa página do Magistério da Igreja.

Diz o Papa: O «sinal grandioso» que o Apóstolo S. João viu no Céu: «uma Mulher revestida com o sol» (cfr. Ap 12,1), não sem fundamento o interpreta a Sagrada Liturgia como referindo-se à Santíssima Virgem Maria, Mãe de todos os homens pela graça de Cristo Redentor.

Está ainda viva, veneráveis irmãos, no nosso ânimo a recordação da grande emoção sentida ao proclamar a augusta Mãe de Deus como Mãe espiritual da Igreja e portanto de todos os fiéis e sagrados Pastores, a coroar a terceira sessão do Concílio Ecumênico Vaticano II, após ter solenemente promulgado a Constituição Dogmática «Lumen Gentium».

Grande foi também a exultação, quer de muitíssimos padres conciliares, quer dos fiéis presentes ao sagrado rito na Basílica de S. Pedro e de todo o povo cristão espalhado pelo mundo. Espontânea tornou então à mente de muitos a recordação do primeiro grandioso triunfo alcançado pela humilde «Serva do Senhor» (cfr. Lc 1,38) quando os Padres do Oriente e do Ocidente, reunidos no Concílio Ecumênico em Éfeso, no ano de 431, saudaram Maria como «Theotokos»: Mãe de Deus.

A exaltação dos padres associou-se com jubiloso ímpeto de fé a população cristã da ilustre cidade, que os acompanhou com archotes às suas residências. Oh! com que maternal complacência, naquela hora gloriosa para a história da Igreja, a Virgem Maria terá observado Pastores e fiéis, reconhecendo, nos hinos de louvor que se elevavam em honra principalmente do Filho e depois em sua honra, o eco do cântico profético que Ela própria, por impulso do Espírito Santo, tinha elevado ao Altíssimo: «enaltece a minha alma ao Senhor … porque olhou para a humilde condição da sua Serva. De fato, desde agora me hão-de chamar ditosa todas as gerações, porque me fez grandes coisas o Onipotente» (Lc 1,46,48-49).

Aproveitando a ocasião das cerimônias religiosas que têm lugar nestes dias em Fátima (Portugal) em honra da Virgem Mãe de Deus, onde Ela é venerada por numerosas multidões de fiéis, pelo seu coração «maternal e compassivo», desejamos mais uma vez chamar a atenção de todos os filhos da Igreja para o inseparável nexo tão amplamente ilustrado na Constituição Dogmática « Lumen Gentium», existente entre a maternidade espiritual de Maria e os deveres dos homens remidos para com Ela, como Mãe da Igreja.

Uma vez admitido, com efeito, perante os numerosos testemunhos oferecidos pelos textos sagrados e dos Santos Padres, e recordados na mencionada Constituição, que Maria, «Mãe de Deus Redentor» (cfr. Lumen Gentium, 53) foi a ELE unida por «vínculo estreito e indissolúvel» (ibid.) e que teve uma especialíssima «função… no Mistério do Verbo Incarnado e do Corpo Místico» (L.G. 54), quer dizer na «economia da salvação» (L.G. 55), parece evidente que a Virgem, não só «por ser a Mãe Santíssima de Deus, e como tal haver interferido nos mistérios de Cristo» (L.G. 66), mas também por ser «Mãe da Igreja», é pela mesma Igreja venerada «com culto especial» (cfr. L.G. 66), particularmente litúrgico (cfr. L.G. 67).

Nem é de temer que a reforma litúrgica, se efetuada segundo a fórmula: «a lei da fé deve estabelecer a lei da oração» possa vir em detrimento do culto «de todo singular» (cfr. L.G. 66) devido a Maria Virgem pelas suas prerrogativas, entre as quais ressalta a dignidade de Mãe de Deus. E nem mesmo se deve temer que o incremento do culto, tanto litúrgico como privado, a Ela dedicado, possa ofuscar ou diminuir o «culto de adoração, que é prestado ao Verbo Encarnado e do mesmo modo ao Pai e ao Espírito Santo» ( L.G. 66).

Portanto, sem querer aqui, veneráveis Irmãos, apresentar no seu conjunto a doutrina tradicional respeitante à função da Mãe de Deus no plano da salvação e às Suas relações com a Igreja, julgamos fazer algo de grande utilidade para as almas dos fiéis, se nos detivermos a considerar duas verdades muito importantes para a remodelação da vida cristã.

  1. A primeira verdade é esta: Maria é Mãe da Igreja não apenas por ser Mãe de Jesus Cristo e Sua muito íntima colaboradora na «nova economia, quando o Filho de Deus assume d’Ela a natureza humana, para libertar o homem do pecado» mediante os mistérios da Sua carne (L.G. 55), mas também porque «refulge em toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtude» (cfr. L.G. 65 também o n. 63). Esta é uma consoladora verdade, que por ser livre beneplácito de Deus sapientíssimo faz parte integrante do mistério da salvação humana; por isso ela deve ser considerada como de fé por todos os cristãos.
  2. Mas de que modo coopera Maria no crescimento dos membros do Corpo Místico na vida da graça? Em primeiro lugar mediante a sua incessante súplica, inspirada por uma ardente caridade. A Virgem Santa, embora feliz pela visão da augusta Trindade, não esquece os seus filhos que caminham como Ela outrora na «peregrinação da fé» (L.G. 58). Contemplando-os em Deus e vendo bem as suas necessidades, em comunhão com Jesus Cristo que está «sempre vivo a interceder por eles» (Hb 7,25), deles se constitui Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira (cfr. L.G. 62).

Desta sua ininterrupta intercessão junto do Filho pelo Povo de Deus, tem estado a Igreja desde os primeiros séculos persuadida, como testemunha esta antiquíssima antífona que, com algumas ligeiras diferenças, faz parte da oração litúrgica tanto no Oriente como no Ocidente: «à tua proteção nos acolhemos ó Mãe de Deus; não desprezes as nossas súplicas nas necessidades, mas salva-nos de todos os perigos ó (tu) que só (és) a bendita». Nem se pense que a intervenção maternal de Maria traga prejuízo à eficácia predominante e insubstituível de Cristo, nosso Salvador; pelo contrário, ela tira a sua força da mediação de Cristo e é dela uma prova luminosa (cfr. L.G. 62).

Não se esgota, porém, no patrocínio junto do Filho a cooperação da Mãe da Igreja no desenvolvimento da vida divina nas almas. Ela exerce sobre os homens remidos uma outra influência: a do exemplo. Influência, na verdade, importantíssima, segundo a conhecida máxima: «As palavras movem, mas o exemplo arrasta». Realmente, tal como os ensinamentos dos pais adquirem eficácia bem maior se são apoiados pelo exemplo duma vida dentro das normas da prudência humana e cristã, assim também a suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem de maneira irresistível os ânimos para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais fiel imagem. Por isso o Concílio declarou: «A Igreja, refletindo piedosamente sobre Maria e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, cheia de respeito penetra mais e mais no íntimo do altíssimo mistério da Encarnação e vai tomando cada vez mais a semelhança do seu Esposo» (L.G. 65).

É bom, além disso, ter presente que a eminente santidade de Maria não foi apenas um dom singular da liberalidade divina: foi também o fruto da contínua e generosa correspondência da sua livre vontade às moções interiores do Espírito Santo. É por motivo da perfeita harmonia entre a graça divina e a atividade da sua natureza humana que a Virgem rendeu suprema glória à Santíssima Trindade e se tornou honra insigne da Igreja, que como tal a saúda na Sagrada Liturgia: «Tu (és) a glória de Jerusalém, tu (és) a alegria de Israel, tu (és) a honra do nosso povo».

Nas páginas do Evangelho admiramos os testemunhos de tão sublime harmonia. Maria, logo que obteve a certeza pela voz do Anjo Gabriel que Deus a elegia para Mãe do seu Filho Unigênito, sem qualquer hesitação, deu o seu consentimento para uma obra na qual teria de empregar todas as energias da sua frágil natureza, declarando: «Eis a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). Desde esse momento, Ela consagrou-se inteiramente ao serviço, não apenas do Pai celeste e do Verbo Encarnado, tornado seu Filho, mas também de todo o gênero humano, pois compreendeu bem que Jesus, além de salvar o Seu povo da escravidão do pecado, seria o Rei de um Reino messiânico, universal e eterno (cfr. Mc 1,21; Lc 1,33).

Por este motivo, a vida da Imaculada Esposa de José, virgem «no parto e depois do parto» — como sempre acreditou e professou a Igreja Católica e como convinha Aquela que tinha sido elevada à dignidade incomparável da maternidade divina —, foi uma vida de perfeita comunhão com o Filho, partilhando com Ele alegrias, dores e triunfos. E mesmo depois de Jesus subir ao céu, ficou unida a Ele por um ardentíssimo amor, enquanto cumpria com fidelidade a nova missão de Mãe espiritual do discípulo predileto e da Igreja nascente. Pode afirmar-se, assim, que toda a vida da humilde Serva do Senhor, desde o momento em que foi saudada pelo Anjo até à sua assunção em alma e corpo à glória celeste, foi uma vida de amoroso serviço. Associando-nos, portanto, aos Evangelistas, aos Padres e aos Doutores da Igreja, recordados pelo Concílio Ecumênico na Constituição Dogmática « Lumen Gentium» (cap. VIII), cheios de admiração, contemplamos Maria, firme na fé, pronta na obediência, simples na humildade, exultante no louvor do Senhor, ardente na caridade, forte e constante no cumprimento da sua missão até ao holocausto de si própria, em plena comunhão de sentimentos com o seu Filho, que se imolava na Cruz para dar aos homens uma vida nova.

Pois bem, perante tanto esplendor de virtudes, o primeiro dever de quantos reconhecem na Mãe de Cristo o modelo da Igreja é o de, em união com Ela, render graças ao Altíssimo por ter realizado em Maria tão grandes obras em benefício da humanidade inteira. Mas não basta. É igualmente dever de todos os fiéis tributarem à fidelíssima Serva do Senhor um culto de louvor, de reconhecimento e de amor, uma vez que, segundo a sapiente e suave disposição divina, o seu livre consentimento e a sua generosa cooperação nos desígnios de Deus tiveram e continuam a ter uma grande influência na realização da salvação humana (cfr. L.G. 56).

Por este motivo, cada cristão pode fazer sua a invocação de S. Anselmo: «Ó gloriosa Senhora, faz com que por ti mereçamos chegar até Jesus, teu Filho, que por teu intermédio se dignou descer até nós». Façamos desta palavra do Santo Papa Paulo VI um tesouro de amor e de veneração à Santa Mãe de Deus, Mãe da Igreja e nossa Mãe.

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Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB
Bispo Diocesano de São José dos Campos

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