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A Voz do Pastor › 01/02/2021

Ano de São José

Neste ano de 2021 a Diocese de São José dos Campos celebra, com muita alegria, os quarenta anos de sua instalação. Essa celebração solene, que será realizada em diversos eventos e promoções durante o ano, foi engrandecida e solenizada com a convocação, pelo Papa Francisco, de um Ano de São José: um presente para toda a Igreja.

A convocação do “Ano de São José” nasce do coração paternal de Francisco, que deseja chegar ao coração de todos os católicos, convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua importância no plano salvífico de Deus.

Porque um ano de São José? Em comemoração aos 150 anos da proclamação de São José como guardião universal da Igreja, pelo Papa Pio IX, o Papa acaba de dar um grande presente à Igreja, o “Ano de São José” através da Carta Apostólica Patris Corde “Coração de Pai”. Esta Carta, como o próprio título sugere, é cheia de afeto.

A Tradição Cristã sempre teve uma especial atenção à importância do sim de Maria, mas nem sempre reconheceu com a mesma consciência a importância do sim de José, o carpinteiro de Nazaré, a quem Maria estava prometida em casamento. Foi crucial a aceitação de José para que o plano divino da salvação pudesse ser realizado.

A Sagrada Escritura não esconde as dificuldades pessoais que São José precisou enfrentar ao receber o anúncio de que sua futura esposa, sem ter contato com homem algum, estava grávida. O Evangelho dá a José o título de justo (Mt 1,19), termo raríssimo e concedido a pouquíssimos personagens na Sagrada Escritura, justamente porque equivale à palavra santo que, no Antigo Testamento, é um atributo reservado somente a Deus (Ecl 7,20).

Isso revela muito sobre a integridade, os valores e a santidade de vida de José. Era um homem fiel à Lei, observador dos mandamentos e preceitos da Torah. Por isso, com sua obediência a Deus, escuta a voz do anjo e não teme aceitar Maria como esposa e assumir o Filho de Deus como seu próprio filho.

A vida de São José e de Maria não foi nada fácil. Tiveram de enfrentar as dificuldades das mais diversas. Eram pobres. O termo que conceitua a profissão de José em grego é “tekton” que não significa simplesmente carpinteiro, mas aquele que constrói, uma espécie de artesão.

José, na verdade, era um artista. Ganhava pouco e, como muitos pais de família, viveu a angústia de não poder dar conforto e segurança aos seus. Esta tristeza José sentiu na pele, principalmente quando viu sua esposa dando à luz em lugar paupérrimo, no frio e na pobreza.

Sabemos que as dificuldades de José não terminaram na gruta de Belém. Imediatamente após o nascimento de Jesus, obedeceu ao anjo e conduziu sua família ao Egito para proteger o recém-nascido das ambições perversas de Herodes. Assim, tornaram-se migrantes. Podemos imaginar o pobre José, buscando um emprego, tentando oferecer o mínimo para sua família nas terras estrangeiras do Egito.

O Papa Francisco lembra, em sua Carta “Patris Corde” de tantos pais que, infelizmente, não conseguem oferecer nem mesmo o básico aos seus filhos. José retorna a Nazaré e lá, ensina o menino Jesus a trabalhar, a entender a dura realidade da vida, será um pai presente.

A carta do Papa também traz uma belíssima constatação. O fato de Jesus ser tão respeitoso com as mulheres, homem de oração e próximo aos mais sofredores, pode nos revelar tanto da figura do pai que teve, com quem aprendeu tudo isso.

Às vezes imaginamos Jesus como se já tivesse nascido pronto. Mas, na verdade, a própria Escritura revela que Jesus teve de aprender gradualmente. O episódio do encontro de Jesus aos doze anos no Templo de Jerusalém nos revela que ele retornou a Nazaré e era obediente ao Pai e à Mãe. E ainda nos revela que ele crescia em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52).

Assim, José, a partir de sua própria obediência a Deus, e na escuta atenta de Deus, cria o filho. Obediência que se dá na acolhida, no acompanhamento. José é um pai presente. O papa recorda da carência que temos de esposos e pais como José. Ele não compreendeu tudo. Ele acolheu tudo. José não se impôs na vida do filho, mas acompanhou Jesus na escolha de seu próprio caminho. E assim, a figura de São José se oculta e não temos mais informações sobre ele na Bíblia. Mas o pouco que temos já nos é suficiente para reconhecer a sua importância ímpar na vida de Jesus e no plano da Salvação.

O Papa Pio IX, então, ao declarar São José patrono universal da Igreja, estava dizendo que assim como o guardião da família de Nazaré foi capaz de proteger o Filho de Deus, também segue protegendo a Igreja que é extensão do Corpo Místico de Cristo.

A missão de José no escondimento e na missão oculta tem tanto a dizer aos homens de hoje. O Papa Francisco recorda de tantos homens e mulheres que, de maneira especial, durante a pandemia, arriscam suas vidas para cuidar e proteger as pessoas vítimas desta enfermidade.

A Carta Apostólica “Patris Corde” e o Ano de São José são um convite a cada um de nós para conhecer e imitar aquele homem justo e santo, que mesmo sem compreender tudo, acolheu tudo.

Diz o Papa Francisco: “Eu também gostaria de lhes dizer uma coisa muito pessoal. Eu amo muito São José, porque é um homem forte e silencioso. E tenho em meu escritório uma imagem de São José dormindo. E dormindo cuida da Igreja. Sim, pode fazer isso. Nós, não. E quando tenho um problema, uma dificuldade, eu escrevo um bilhetinho e o coloco debaixo de São José para que o sonhe. Isto significa para que reze por esse problema”.

Diz ainda o Papa no documento: “José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo. «A nobreza do seu coração fá-lo subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus ajudou-o a escolher iluminando o seu discernimento».

Na nossa vida, muitas vezes sucedem coisas, cujo significado não entendemos. E a nossa primeira reação, frequentemente, é de desilusão e revolta. Diversamente, José deixa de lado os seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misterioso que possa aparecer a seus olhos, acolhe-o, assume a sua responsabilidade e reconcilia-se com a própria história.

Se não nos reconciliarmos com a nossa história, não conseguiremos dar nem mais um passo, porque ficaremos sempre reféns das nossas expectativas e consequentes desilusões. A vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe. Só a partir deste acolhimento, desta reconciliação, é possível intuir também uma história mais excelsa, um significado mais profundo.

Parecem ecoar as palavras inflamadas de Jó, quando, desafiado pela esposa a rebelar-se contra todo o mal que lhe está a acontecer, responde: «Se recebemos os bens da mão de Deus, não aceitaremos também os males?» (Jo 2, 10).

José não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte. O acolhimento é um modo pelo qual se manifesta, na nossa vida, o dom da fortaleza que nos vem do Espírito Santo. Só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões.

A vinda de Jesus ao nosso meio é um dom do Pai, para que cada um se reconcilie com a carne da sua história, mesmo quando não a compreende totalmente. “Assim como São José, uma vez que ouvimos a voz de Deus, devemos despertar, levantar-nos e agir. Na família, é preciso levantar e agir. A fé não nos distancia do mundo, mas, ao contrário, introduz-nos mais profundamente nele. É muito importante”.

 

 

Rezemos a São José: “Salve, guardião do Redentor e esposo da Virgem Maria! A vós, Deus confiou o seu Filho; em vós, Maria depositou a sua confiança; convosco, Cristo tornou-Se homem. Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós e guiai-nos no caminho da vida. Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem, e defendei-nos de todo o mal. Amém”.

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Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB

Bispo Diocesano

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