A Palavra de Deus nos ministérios ordenados
Neste mês de setembro, com toda a Igreja Católica do Brasil, escutamos, rezamos, meditamos e anunciamos, ainda com maior empenho, a SANTA PALAVRA DE DEUS.
Celebramos o MÊS DA BÍBLIA com todas as nossas comunidades e pessoalmente. Em nossa Diocese de São José dos Campos teremos a alegria da ordenação diaconal de muitos novos Diáconos Permanentes e para o final do ano, a ordenação de Novos Presbíteros para o nosso Clero. Assim, achei importante uma reflexão sobre a “Palavra de Deus nos ministérios dos ministros ordenados”.
“Todo homem tem o direito de buscar a palavra do Deus vivo na boca dos sacerdotes” (Pr. Ord. 4. Articulo esta exposição em torno de três palavras: encontro, que fala da mentalidade e a dinâmica, caminhos, ou seja, os caminhos que levam ao encontro, procedimentos ou a metodologia de um bom caminho.
O ENCONTRO (e sua dinâmica) É a categoria com a qual devemos apresentar a fé cristã e, portanto, sobretudo as Escrituras. O encontro – como aparece na própria Bíblia, em particular nos Evangelhos (Emaús, Samaritana…) – não é feito de fórmulas doutrinais que se repetem, mas sobretudo é um fato existencial interpessoal, uma experiência religiosa profunda e transformadora. Crer é uma relação forte com Cristo, que comunica uma potência de vida: “Vivo na fé do Filho de Deus – dizia São Paulo – que me amou e se entregou por mim”. A sua vida baseou-se na relação com Cristo, no conhecimento de Cristo, no conhecimento do poder da sua ressurreição, na comunhão nos seus sofrimentos. O ministério de Paulo foi um ministério de comunicação da relação com Cristo”. Aqui captamos a dinâmica segundo a qual a Palavra de Deus chega até nós e nos oferece a totalidade da sua graça. Tecnicamente é chamado de encontro com as Escrituras na Tradição viva. É importante mencioná-lo, porque ainda hoje existe a mentalidade do confronto suspeito entre a Palavra de Deus e o Magistério, entre a Bíblia e a catequese… Comecemos por dizer que está no “aqui e agora” da comunidade que se reúne (e do indivíduo cristão em comunhão com a sua comunidade) que a Palavra acontece. Concretamente, isto leva a Igreja, iluminada pelo seu Senhor, a realizar três atos que constituem a sua “lectio divina”: o anúncio que suscita a escuta e a compreensão, a celebração que dá graças e adora, a diaconia ou serviço de caridade que traduz a Palavra em obras, em experiência de vida. Então aqui estão as etapas da jornada para alertar os fiéis. A Palavra de Deus deve ser proclamada-ouvida: aqui a Bíblia tem o papel de fonte, mas incluindo essa inteligência como um aprofundamento da Palavra bíblica que é reflexão teológica e sobretudo aquela comunicação pastoral da qual a catequese é o formato clássico; da escuta que acolhe o Senhor que fala, surge a celebração, que adora e dá graças, da qual a liturgia, sobretudo a Eucaristia e os sacramentos, são precisamente “sacramentos” da Palavra, e não meros sinais. Todo o horizonte da oração os acompanha; a escuta e a celebração conduzem a decisões de vida, na linha do “ágape”, da diaconia. Para que o ‘canto’ da Palavra seja completo, o animador bíblico nos três momentos deverá iniciar os fiéis. Sabemos como em relação à catequese isto está relativamente mais resolvido e poderia sê-lo ainda mais introduzindo uma catequese de iniciação com inspiração catecumenal. Das palavras à Palavra nesta escuta alargada a Palavra de Deus, na escuta da voz central, o solo inesquecível, não se pode perder: no centro (“no coração”) da Palavra de Deus encontramos “o mistério de Cristo e da Igreja”. Isto leva a consequências muito profundas, sublinhadas com força pelo “Jesus de Nazaré” de Bento XVI, que nos convida a renovar a antiga tradição da busca do sentido espiritual ou pneumático, que é afinal o sentido de Cristo. “A Sagrada Escritura é essencial para conhecer Cristo, para aderir a Cristo, para investigar todas as dimensões do mistério de Cristo”. «A Bíblia é um texto que exprime a fé. Para aceitá-lo de forma séria e profunda é preciso estar na corrente que o produziu. Portanto, é essencial abordar o texto inspirado com uma atitude de fé”. Mas como criar um clima de fé? Corresponde às questões de fé da pessoa e do ambiente aqui e agora. Pode-se dizer que todos têm as suas fraquezas de fé: pensemos na relação conturbada entre fé e cultura, fé e dor, fé e futuro. É necessário partir daquele gesto de boa vontade de uma pessoa para participar no caminho, um caminho que, portanto, deve permanecer aberto também aos “distantes”. Aqui se abre uma séria tarefa ao animador bíblico: com a graça intrínseca da Palavra que penetra nas juntas (cf. Hb 4,12), ele é chamado a transformar a experiência bíblica num caminho de fé a partir do qual começar, pelo qual lutar, progressivamente. Recordamos Jesus nos Evangelhos: “Tens fé? …você confia?” (ver Mt 8,10.26; 9,28; Mc 9,33-34). Porque basicamente o resultado do encontro com a Palavra de Deus é sempre um pouco mais de confiança em Deus e nos acontecimentos por vezes dramáticos da vida. Quanto à Eucaristia dominical: aqui a Palavra tem literalmente o lugar vital privilegiado e preferencial, pois Aquele de quem falamos está presente e junto com a comunidade com a qual fala. Aquele de quem falam os textos torna-se presente no sacrifício total de si mesmo ao Pai… Será dada a máxima atenção à liturgia da Palavra, com a proclamação clara e compreensível dos textos, com a homilia que ressoa com a Palavra. Isso implica ter leitores capazes e preparados. Nesta perspectiva de melhor compreensão da Palavra de Deus na Missa, parecem úteis breves admoestações que apresentem o sentido das leituras a proclamar. «É claro que para um cristão é preciso começar pelo Evangelho. Tomar o Evangelho, aprofundá-lo na meditação, na oração, aplicando-o na própria vida. Esta é a primeira coisa essencial. Mas o próprio Evangelho refere-se ao Antigo Testamento. Jesus é o messias prometido. Portanto, é útil ler textos proféticos, especialmente aqueles que são messiânicos e tantos que a Bíblia nos oferece.
Sejamos ouvintes, praticantes e “missionários” da Palavra de Deus.
Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB
Bispo Diocesano
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