A figura do Papa na Igreja Católica
“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18)
Celebramos no final de junho a solenidade de São Pedro e São Paulo. E nesta celebração solene lembramos a figura do Sucessor de Pedro, o Santo Padre, o Papa. Hoje, o Papa Francisco.
O novo Testamento nos traz uma série de ensinamentos sobre a figura do Papa, sucessor de Pedro como guia e mestre da Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo, que prometeu que estaria presente conosco até o fim dos tempo e que “as portas do inferno não haveriam de prevalecer contra ela….”.
A doutrina católica do Papado está baseada na Bíblia e é derivada da evidente primazia de São Pedro entre os Apóstolos de Cristo. Como todas as doutrinas cristãs, esta também experimentou um desenvolvimento através dos séculos, mas não perdeu seus componentes essenciais que já existiam na liderança e prerrogativas de São Pedro. Tudo isto foi dado a ele pelo próprio Senhor Jesus Cristo, como reconheceram seus contemporâneos e foi aceito pela Igreja primitiva.
Os dados bíblicos petrinos são evidentes e convincentes pela virtude do seu peso cumulativo.
Vamos ver o que nos diz o Novo Testamento:
Em Mateus 16, 18 encontramos “também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela”. A pedra (“petra”, em grego) aqui se refere ao próprio São Pedro e à sua fé em Jesus Cristo. Cristo aparece aqui não como o fundamento, mas como o arquiteto que “edifica”. A Igreja é edificada não sobre confissões, mas sobre confessores – homens vivos (1Pedro 2,5).
Hoje, o consenso comum da grande maioria dos pesquisadores e comentaristas bíblicos favorece esta dedução católica tradicional. É dito aqui que São Pedro é a pedra-fundamental da Igreja, tornando-o cabeça e chefe da família de Deus (isto é, a semente da doutrina do papado).
Além disso, “pedra” expressa uma metáfora aplicada a ele por Cristo em um sentido análogo ao do Messias sofredor e desprezado (1Pedro 2,4-8; cf. Mateus 21,42).
Sem um fundamento sólido qualquer casa desaba. São Pedro é o fundamento, mas não o fundador da Igreja; é o administrador, não o Senhor da Igreja. O Bom Pastor (João 10,11) nos dá outros bons pastores (Efésios 4,11).
Em Mateus 16,19 lemos “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus…”. O “poder das chaves” expressa a autoridade administrativa e disciplinar eclesiástica com relação às necessidades da fé, como em Isaías 22,22 (cf. Isaías 9,6; Jó 12,14; Apocalipse 3,7). É deste poder que surge o uso de censuras, excomunhão, absolvição, disciplina batismal, imposição de penas e poderes legislativos.
No Antigo Testamento, o comissário ou primeiro-ministro era aquele homem que estava acima da assembleia (Gênesis 41,40; 43,19; 44,4; 1Reis 4,6; 16,9; 18,3; 2Reis 10,5; 15,5; 18,18; Isaías 22, 15.20-21).
Em Mateus 16, 19 encontramos “… e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado no céu”. “Ligar” e “desligar” são termos técnicos usados pelos rabinos e que têm o significado de “permitir” e “proibir” com relação à interpretação da lei e, secundariamente, “condenar”, “desproibir” ou “liberar”.
Assim, a São Pedro e aos papas é dada a autoridade para determinar as regras de doutrina e vida, por virtude da Revelação, orientados pelo Espírito Santo (João 16,13), e para exigir obediência por parte da Igreja. “Ligar” e “desligar” representam os poderes legislativo e judicial do papa e dos bispos (Mateus 18,17-18; João 20,23).
Porém, São Pedro foi o único Apóstolo que recebeu nominal e singularmente estes poderes, tornando-o preeminente. O nome de Pedro aparece em primeiro lugar em todas as listas que enumeram os apóstolos (Mateus 10,2; Marcos 3,16; Lucas 6,14; Atos 1,13). Mateus até o chama de “o primeiro” (Mateus 10,2). Já Judas Iscariotes é invariavelmente mencionado por último. Pedro é quase sempre mencionado em primeiro lugar, mesmo quando aparece ao lado de outros. A (única) exceção está em Gálatas 2,9, onde ele (“Cefas”) é listado após Tiago e João, mas, mesmo assim, o contexto coloca-o em preeminência (p.ex.: Gálatas 1,18-19; 2,7-8).
Pedro é o único entre os Apóstolos que recebe um novo nome, “Pedra”, solenemente conferido (João 1,42; Mateus 16,18). Da mesma forma, Pedro é estimado por Jesus como o Pastor chefe, logo após Ele mesmo (João 21,15-17), de forma especial pelo nome, e sobre a Igreja universal, apesar dos demais Apóstolos terem uma função similar, embora subordinada (Atos 20,28; 1Pedro 5,2).
Pedro é o único Apóstolo mencionado pelo nome quando Jesus Cristo orou para que “a sua fé (a de Pedro) não desfalecesse” (Lucas 22,32).
Pedro é o único Apóstolo a ser exortado por Jesus para que “confirmasse os seus irmãos” (Lucas 22,32).
Pedro foi o primeiro a confessar a divindade de Cristo (Mateus 16,16). Apenas de Pedro diz-se que recebeu conhecimento divino através de uma revelação especial (Mateus 16,17).
Pedro é respeitado pelos judeus (Atos 4,1-13) como líder e porta-voz dos cristãos. Pedro é respeitado pelas pessoas comuns da mesma maneira (Atos 2,37-41; 5,15). Jesus Cristo associa-se a Pedro no milagre da obtenção de dinheiro para o pagamento do tributo (Mateus 17,24-27). Cristo ensina as multidões de cima do barco de Pedro e o milagre que se segue, apanhando peixes no lago de Genesaré (Lucas 5,1-11), podem ser interpretados como um metáfora do Papa como “pescador de homens” (cf. Mateus 4,19).
Pedro foi o primeiro Apóstolo a correr e entrar no túmulo vazio de Jesus (Lucas 24,12; João 20,6). Pedro é reconhecido pelo anjo como o líder e representante dos Apóstolos (Marcos 16,7). Pedro lidera a pescaria dos Apóstolos (João 21,2-3.11). O “barco” de Pedro tem sido respeitado pelos católicos como uma figura da Igreja, com Pedro no leme.
Apenas Pedro se lança e anda sobre o mar para encontrar Jesus (João 21,7). As palavras de Pedro são as primeiras a serem registradas, bem como são as mais importantes, no discurso anterior a Pentecostes (Atos 1,15-22).
Pedro toma a liderança na escolha do substituto para o lugar de Judas Iscariotes (Atos 1,22). Pedro é a primeira pessoa a falar (e a única a ser registrada) após o Pentecostes, tendo sido ele, portanto, o primeiro cristão a “pregar o Evangelho” na Era da Igreja (Atos 2,14-36).
Pedro realiza o primeiro milagre da Era da Igreja, curando um aleijado (Atos 3,6-12). Pedro lança a primeira excomunhão (anátema) sobre Ananias e Safira, enfaticamente confirmada por Deus (Atos 5,2-11)! Até a sombra de Pedro realiza milagres (Atos 5,15).
Pedro é a primeira pessoa após Cristo a ressuscitar um morto (Atos 9,40). Cornélio é orientado por um anjo a procurar Pedro para ser instruído no Cristianismo (Atos 10,1-6). Pedro é o primeiro a receber os gentios após receber uma Revelação de Deus (Atos 10,9-48). Pedro instrui os outros Apóstolos sobre a catolicidade (universalidade) da Igreja (Atos 11,5-17). Pedro é o objeto da primeira mediação divina na Era da Igreja (um anjo o liberta da prisão, cf. Atos 12,1-17).
Toda a Igreja (como está fortemente indicado) oferece “fervorosa oração” para Pedro enquanto este se encontra preso (Atos 12,5). Pedro preside e abre o 1º Concílio, de Jerusalém, que estabelece princípios que serão posteriormente aceitos (Atos 15,7-11). Paulo distingue as aparições do Senhor (após sua ressurreição) a Pedro daquelas que ocorreram aos demais Apóstolos (1Coríntios 15,4-8). Os dois discípulos no caminho de Emaús fazem a mesma distinção (Lucas 24,34), nesse momento mencionando apenas Pedro (“Simão”), ainda que eles mesmos tenham visto a Jesus ressuscitado momentos antes (Lucas 24,31-32).
Muitas vezes Pedro é diferenciado dos demais Apóstolos (Marcos 1,36; Lucas 9, 28.32; Atos 2,37; 5,29; 1Coríntios 9,5). Pedro é sempre o porta-voz dos demais Apóstolos, especialmente durante os momentos decisivos (Marcos 8,29; Mateus 18,21; Lucas 9,5; 12,41; João 6,67ss).
Nos Evangelhos, o nome de Pedro é sempre listado em primeiro no “círculo íntimo” dos discípulos (Pedro, Tiago e João – Mateus 17,1; 26, 37.40; Marcos 5,37; 14,37). Pedro é muitas vezes a figura central em relação a Jesus, nas cenas dramáticas tal como o fato de andar sobre as águas (Mateus 14,28-32; Lucas 5,1ss; Marcos 10,28; Mateus 17,24ss).
Pedro é o primeiro a reconhecer e refutar a heresia de Simão Mago (Atos 8,14-24). O nome de Pedro é mencionado muito mais do que os nomes dos demais discípulos em conjunto: 191 vezes (162 como Pedro ou Simão Pedro; 23 como Simão; e 6 como Cefas). A seguir, João aparece em segundo lugar com apenas 48 menções, sendo que Pedro está presente em 50% das vezes em que encontramos o nome de João na Bíblia! […] Todos os demais discípulos em conjunto são mencionados 130 vezes.
A proclamação de Pedro no dia de Pentecostes (Atos 2,14-41) contém uma interpretação autoritária da Escritura, além de uma decisão doutrinária e um decreto disciplinar a respeito dos membros da “Casa de Israel” (Atos 2,36): um exemplo de “ligar e desligar”.
Pedro foi o primeiro a pregar o arrependimento cristão e o batismo (Atos 2,38). Pedro (presumivelmente) tomou a liderança no primeiro batismo em massa (Atos 2,41). Pedro comandou o batismo dos primeiros cristãos gentios (Atos 10,44-48).
Pedro foi o primeiro missionário itinerante e foi o primeiro a exercitar o que chamamos hoje de “visita às igrejas” (Atos 9,32-38.43). Paulo pregou em Damasco imediatamente após sua conversão (Atos 9,20), mas não foi para aí com esse objetivo (Deus alterou os seus planos). Sua jornada missionária inicia-se em Atos 13,2. Paulo foi para Jerusalém especificamente para ver Pedro durante 15 dias, no início do seu ministério (Gálatas 1,18); e foi encarregado por Pedro, Tiago e João (cf. Gálatas 2,9) a pregar para os gentios.
Pedro age (como está fortemente indicado) como o Bispo/Pastor chefe da Igreja (1Pedro 5,1), exortando todos os outros Bispos ou “anciãos”. Pedro interpreta profecia (v. 2Pedro 1,16-21). Pedro corrige aqueles que distorcem os escritos de Paulo (2Pedro 3,15-16). Pedro escreve a sua primeira epístola a partir de Roma, conforme atesta a maioria dos estudiosos, como Bispo dessa cidade e como Bispo universal (= Papa) da Igreja primitiva. “Babilônia” (1Pedro 5,13) é o codinome de Roma.
Assim, quis apresentar alguns passos das Escrituras para alicerçar nosso amor ao Papa e ao sucessor de Pedro, em todos os tempos.
Que a oração que fazemos em todas as missas pelo Papa e a oração que fazemos sempre na “bênção do Santíssimo” sejam verdadeiras e nos façam reverenciar e amar o Papa, sucessor de Pedro.
Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB
Bispo Diocesano de São José dos Campos
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