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Artigos › 14/05/2020

Meditar e profetizar

No mês de maio, os cristãos de tradição católica veneram de modo especial a Mãe de Jesus, Maria de Nazaré. É uma oportunidade para meditar um pouco mais os textos evangélicos que a ela fazem menção que, apesar de sucintos, são riquíssimos.

Em duas passagens, o evangelho segundo Lucas afirma que Maria guardava os acontecimentos e meditava-os em seu coração (cf. Lc 2,19.51). Maria não compreendia todas as coisas de imediato, algumas situações a deixavam um tanto desconcertada.

Assim também acontece conosco não raras vezes. Não temos resposta para tudo, principalmente, quando passamos por momentos de crise como este da pandemia.

Guardar no coração e meditar… Não se trata, obviamente, de uma receita mágica, mas, quanta sabedoria nesse gesto. Diante do inédito, devemos exercitar a humildade de contemplar as coisas sem juízo precipitado e sem a pretensão de dar uma resposta absoluta para todas as questões que nos são impostas.

Quando nos detemos sobre um assunto, um acontecimento ou um discurso para realmente meditá-los, sem pressa e preconceitos, as chances de elaborarmos um juízo mais adequado são, sem sombra de dúvidas, mais altas. Esse é um caminho válido até mesmo para superarmos determinados achismos e a praga das fake news, que fazem tão mal à sociedade.

A postura de Maria está longe de legitimar qualquer tentativa de omissão e conformismo. Em um momento oportuno demonstrou, além da sabedoria do silêncio, a sabedoria das palavras certas na hora certa, através do canto do Magnificat (cf. Lc 1,46-55). Trata-se de um canto no qual transborda a gratidão e a alegria, como também o anúncio vigoroso de que Deus está ao lado dos injustiçados, rejeitando uma situação que se verifica em diversos lugares e tempos. É, verdadeiramente, um canto profético. Como faz falta a profecia lúcida e corajosa, fundamentada e cheia de verdade!

Este é, portanto, um dos vários ensinamentos que podemos contemplar no testemunho de Maria, Mãe de Jesus de Nazaré: a profecia nasce de um coração atento à realidade e capaz de meditar com atenção o que se passa ao redor.

Em tempos de pandemia e quarentena, busquemos meditar mais, perceber melhor o que está acontecendo com o mundo e a humanidade para redescobrir o sentido profundo das coisas, que nos desvela o essencial e nos abre o caminho da felicidade, recordando uma vez mais que a misericórdia do Senhor “se estende, de geração em geração” (Lc 1,50).

Pe. Éverton Machado dos Santos
Pároco da Paróquia São João Batista, em Jacareí.

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