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Artigos › 27/10/2015

Humanizar o ser humano

| Padre Edinei Evaldo Batista, coordenador diocesano de pastoral

As diversas crises pelas quais passa a humanidade, em nosso tempo, são consequências de uma crise mais profunda que muitos ousam chamar “crise antropológica”.

Em outras palavras seria dizer que, no fundo, no fundo o ser humano está perdendo gradativamente o sentido de sua identidade caracterizada por uma altíssima dignidade, que lhe foi dada com sabedoria e como dom pelo Criador. Daí que tudo seja válido para o próprio indivíduo, tudo seja permitido em relação aos outros e nenhum questionamento a essa mentalidade e prática seja considerado legítimo.

Tanto as barbaridades defendidas, assumidas ou cometidas cotidianamente em relação aos seres humanos, em todos os âmbitos, quanto a frieza com que se vai aceitando-as, e justificando-as até, são indícios fortes dessa “crise antropológica”.

Os motivos que explicam tal crise são vários. Só para citar alguns: as tentativas de destruição da família, lugar por excelência onde se dão as condições de humanização das pessoas; o materialismo gerador da ganância e de suas derivantes (competição, desonestidade, desrespeito pelos direitos dos outros, violência etc); a rebelião do ser humano contra Deus, consequência de uma autonomia defendida pela modernidade como libertação, mas que, na verdade é oposição aberta e causa de destruição daquela que é a obra prima do Criador.

Mesmo que pareça absurdo afirmar isso, há que se concordar que o ser humano está se desumanizando a cada dia e é preciso atentar para essa triste realidade que, embora desastrosa, não é caminho sem volta.

Humanizar o ser humano é a ordem do dia para nosso tempo, em vista de evitar que consequências mais danosas ainda sejam sentidas pelos indivíduos, pela sociedade e pela natureza.

Frente a esta situação, a sabedoria e a sensibilidade do Papa Francisco tem apresentado, em palavras e gestos, caminhos para que o mundo tome uma nova direção e avance rumo àquela plenitude que está inscrita em seu íntimo, como vocação. Um dos caminhos apontados pelo Papa é o ano da Misericórdia que terá início no dia 08 de dezembro deste ano.

Será um Jubileu extraordinário, porque diferentemente dos outros jubileus, celebrados a cada 25 ou 50 anos, não se prestará a comemorar um acontecimento, mas sim um atributo divino. Contudo, a celebração do Ano da Misericórdia se dá num contexto: a comemoração dos cinquenta anos de conclusão do Concílio Vaticano II, que teve como alma inspiradora a postura misericordiosa diante do mundo e das pessoas. Este Concílio não se preocupou em condenar erros doutrinais, mas em abrir a Igreja para uma nova visão de si mesma, para o diálogo com o mundo, para o compromisso com os pobres e sofredores, enfim, para uma missão mais eficaz. Não erraria quem afirmasse que o Vaticano II quis humanizar a Igreja para que ela seja presença que faz diferença, no mundo.

O Ano da Misericórdia irá repropor aos cristãos católicos, mas também convidar todas as outras pessoas a um caminho novo, gerador de relações humanas e humanizantes.

A misericórdia é a palavra que melhor define Deus, pois o seu significado é dado pelos dois termos que a formam: miséria e coração. Pode-se afirmar que misericórdia significa “colocar as misérias do outro no próprio coração” ou “debruçar o coração sobre as misérias alheias”.

Em primeiríssimo lugar é Deus que coloca seu coração sobre as misérias humanas, seja ao criar, salvar ou conduzir as pessoas por seus caminhos. Ele também coloca as misérias dos seres humanos em seu coração ao acolher a todos e perdoar sempre e tudo.

Entretanto, cada ser humano, exatamente porque criado à imagem e semelhança de Deus e porque destinatário da misericórdia divina, tem a indispensável tarefa de abrir seu coração às misérias dos outros. Se não para eliminá-las, ao menos para oferecer solidariedade e impedir que sejam muito agressivas.

Misericórdia é, portanto, o remédio para humanizar o ser humano em nossos dias.

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