Francisco e a questão ambiental
Encerra-se em Paris a COP 21, o encontro sobre mudanças climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas), conhecido pela sigla COP, que em inglês significa “Encontro das partes”, isto é, os signatários dos tratados internacionais sobre o clima e a biodiversidade.
Este encontro é anual, sendo que o primeiro deles, a COP 1, aconteceu em 1995, na cidade de Berlim (Alemanha) e de lá para cá vem se repetindo anualmente em diversas cidades do mundo.
Sabemos da importância que tem a questão das mudanças climáticas e o cuidado que devemos ter pela nossa casa comum, o planeta Terra, como recentemente afirmou o Papa Francisco na encíclica social “Laudato Si”.
A origem deste comportamento predatório da natureza pode ser encontrada nos inícios da idade moderna.
Neste período, tem-se o nascimento de uma razão instrumental, tendo contribuído para isso pensadores como Galileu Galilei (1564-1662) e Francis Bacon (1561-1622).
O físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei postulou como importante para a ciência as propriedades dos corpos, como formas, quantidades e movimentos, que podem ser medidas e quantificadas.
O político, filósofo e ensaísta inglês Francis Bacon, por sua vez, modificou a natureza da investigação científica, ao postular que o conhecimento tem a finalidade de dominar e controlar a natureza como o macho domina a fêmea.
A concepção de mundo muda radicalmente a partir disto, resultando em uma razão instrumental.
A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual é substituída pela ideia do mundo como um relógio, que funciona com cada parte independente e que é necessário desmontar para compreender.
Aliás, essa metáfora do relógio foi desenvolvida por duas grandes figuras, René Descartes (1596-1650) e Isaac Newton (1643-1727).
Temos, então, um novo paradigma epistemológico: “conhecer para transformar”.
A Igreja Católica afirma que na origem da questão ambiental está também a pretensão da humanidade de exercer um domínio incondicional sobre as coisas, através de uma exploração inconsiderada dos recursos da criação.
Em sua encíclica “Laudato Si”, o papa Francisco chama esse comportamento de “antropocentrismo despótico”.
Isto é, uma incorreta interpretação do mandamento do Criador ao homem e mulher de “dominar a terra” (segundo o que está escrito em Gn 1,28).
Contra esse tipo de comportamento, baseado em uma razão instrumental, o papa Francisco afirma que o mundo não é um problema a resolver, mas um mistério gozoso que contemplamos na alegria e louvor.
A encíclica “Laudato Si” foi chamada pela imprensa internacional de “encíclica verde”, mas o papa Francisco fez questão de enfatizar que essa é uma encíclica social, porque ela fala da questão ambiental enquanto relacionada com a questão social.
Aqui está a grande contribuição dessa reflexão, isto é, a indissociabilidade das agendas social e ambiental.
Tanto a experiência comum da vida cotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres (LS 48).
Por isso, Paz, Justiça e Conservação da criação são três questões absolutamente ligadas, que não se poderão separar, tratando-as individualmente sob pena de cair em um reducionismo (LS 92).
Dentre as propostas levantadas pelo papa Francisco está o apelo a uma mudança no estilo de produção e consumo atualmente determinadas pelo mercado e gerador de necessidades artificiais, o que o papa João Paulo 2º chamou de “conversão ecológica”.
No que tange às instituições, o atual pontífice pede um compromisso internacional em torno da questão ambiental, para salvaguardar a vida do Planeta e também o direito dos mais pobres.
Esperamos que as conclusões da COP 21 cheguem a bom termo, porque a Terra, nossa irmã, não pode mais esperar, nem tampouco os filhos e filhas do Criador!
Pe. Antonio Aparecido Alves
Pároco da Paróquia São Benedito, no Alto da Ponte,
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Gregoriana/Roma e
Doutor em Teologia pela PUC-Rio