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Artigos › 07/08/2018

Essa tal de vocação cristã: perder para ganhar

Agosto é o mês em que os cristãos católicos do Brasil aproveitam para refletir um pouco mais sobre a vocação, isto é, sobre o chamado que Deus faz a cada um. Certamente, se reflete sobre a vocação para o matrimônio ou para o ministério ordenado, como os padres, ou ainda a vocação para a vida consagrada, como as freiras, os monges etc. No entanto, o sentido primeiro quando se fala em vocação cristã diz respeito ao chamado para seguir Jesus de Nazaré (cf. Mc 1,17; 2,14). Todas as vocações específicas são, na verdade, desdobramentos do batismo. É ele que sacramenta a opção fundamental por Jesus Cristo, portanto, nos insere numa dinâmica de compromisso.

Acontece, pois, que num dado momento de seu ministério público, Jesus ensina o seguinte: “se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho a salvará” (Mc 8,34-35). Esse ensinamento pode causar à primeira vista mais repulsa do que atração: renunciar a si, assumir a cruz e perder a vida não parece sugerir boas ideias… Em um mundo como o nosso, no qual o imperativo é ganhar sempre, levar vantagem em tudo e ter uma vida de sucesso, a proposta de Jesus soa um tanto anacrônica.

Jesus poderia ser cognominado “o amigo da vida”, Ele mesmo disse que veio para nos conceder “vida em abundância” (Jo 10,10). Isto nos dá pistas de que o que Jesus propõe está numa linha de realização pessoal, cujo sentido está no encontro com o outro, ou seja, nos relacionamentos saudáveis que tornam o ser humano verdadeiramente humano. Então, a renúncia de si mesmo nos levar a entender que Cristo nos adverte sobre a autossuficiência. Somente nos realizamos com e para os outros. A assunção da cruz nos aponta senão um compromisso sincero que gera fidelidade mesmo nas horas de dificuldades.

E a tal história de perder a vida? A realização plena só acontece quando há disposição para gastar-se. Imaginemos uma vela: ela se realiza como vela somente quando se deixa queimar, iluminando e aquecendo o que está ao redor com sua chama. Se não há a queima do pavio, não há cera derretida, mas também não temos a vela cumprindo o seu papel e ela passa a ser, no máximo, um enfeite. Em nossa vida tem de ser diferente, o ser humano não foi criado para viver apagado, para ser enfeite, mas para iluminar e aquecer o mundo. Segundo o padre e filósofo mineiro, Juvenal Arduini, “perder a vida não é vida perdida. Perder o tempo não é tempo perdido. Perder a existência não é existência perdida. Perder a vida é um gesto consciente e criador”, ao contrário, “vida perdida é existência não assumida, irresponsável”.

A respeito do amor, dizem que quanto mais ele é partilhado, mais ele cresce. Em outras palavras, quanto mais se perde, mais se ganha. Sem dúvidas, essa é a direção para a qual Jesus nos orienta. Em última instância, a vocação cristã é o amor que se verifica em incontáveis testemunhos, como o próprio Mestre fez saber: “nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros” (Jo 13,35).

Pe. Éverton Machado dos Santos
Vigário da Paróquia Coração de Jesus

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