É preciso falar de suicídio!
O Grupo Geração João Paulo II, da Catedral São Dimas, realizou no dia 15 de abril, uma palestra sobre a prevenção do suicídio, ministrada pelas psicólogas Nilsy Quintino e Edilene Jesus.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o suicídio um caso de saúde pública. Segundo pesquisas da própria OMS, 90% dos casos são tratáveis e preveníveis. A tendência é de crescimento das mortes por suicídio entre jovens, especialmente nos países em desenvolvimento. Somente entre os brasileiros, nos últimos vinte anos, a taxa de suicídio cresceu 30% na faixa etária entre os 15 e 29 anos, tornando-se a terceira principal causa de morte de pessoas em plena vida produtiva no País.
No mundo, cerca de um milhão de pessoas morrem anualmente por essa causa. A OMS estima que haverá 1,5 milhão de vidas perdidas por suicídio em 2020, representando 2,4% de todas as mortes. Assim sendo, quanto mais discutirmos sobre o tema, maiores chances teremos de desmistificarmos e diminuirmos o preconceito sobre ele, e assim ampliarmos a atenção dos familiares, o estabelecimento de políticas públicas de prevenção ao suicídio e as redes de proteção ao jovem em situação de risco de suicídio.
De acordo com dados de 2017 do Ministério da Saúde, no Vale do Paraíba, uma pessoa se suicida a cada três dias. Nos anos 1980, a taxa era de 3,21 vítimas de suicídio por 100 mil habitantes. Em 2015, o índice saltou para 5,16 por 100 mil.
O JE conversou com a psicóloga Nilsy Quintino sobre o assunto. Confira a entrevista:
Jornal Expressão: Qual a importância de debater esse assunto? Ainda existe o preconceito em abordar esse tema na sociedade?
Nilsy Quintino: É importante, pois percebemos nestes últimos anos o aumento do quadro, principalmente entre os jovens. Trata-se da terceira causa de morte no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Um aumento de 60% de 1980 para cá. O debate propicia conhecimento e orientação às famílias, aos jovens, aos educadores, e contribui para que possamos lutar pela vida. Importante: qualquer pessoa que deseja ajudar nesta questão deve ter conhecimento sobre o assunto, e de preferência, ser da área da saúde. E também, é preciso ter cuidado para trabalhar com este tema, a fim de não mobilizar o jovem para o ato do suicídio. Nos EUA, anos 80, numa época de aumento do quadro do suicídio, num período de 6 semanas, os índices caíram repentinamente e depois deste período voltaram a subir com a mesma intensidade. Foi constatado que nestas semanas ocorrera uma greve dos jornais, e por conta disso, não foi falado do tema suicídio naqueles dias, o que provocou de imediato a diminuição do suicídio. Por isso, a responsabilidade dos meios de comunicação. Quanto ao preconceito em relação ao tema, não é isso que percebemos na nossa área.
Os pais sempre buscam proteger seus filhos e sentem-se muito culpados, desorientados e envergonhados diante da situação. Mas, por outro lado, vemos jovens sem rumos e carentes de uma luz no fim do túnel, pedindo ajuda, e gritando por uma saída – mas não preconceito.
Jornal Expressão: Quais os motivos mais comuns que levam os jovens e adolescentes a entrarem em depressão?
Nilsy Quintino: O suicídio não é um ato isolado, mas se dá por uma junção de fatores. Atualmente, percebemos que o aumento do fluxo de informações que acomete o jovem, de forma intensa e desorientada, assim como a desestruturação familiar, a globalização, a tecnologia (celular, jogos, mídia, etc) podem ser grandes responsáveis. O jovem é uma pessoa dinâmica, criativa, alegre, esperançosa que se encontra numa fase muito especial da vida. Mas, infelizmente, por conta de conflitos familiares, próprios da idade, dificuldades com a sexualidade, e sentimento de inferioridade, muitos estão embotados, experimentando um vazio existencial e uma grande falta de sentido na vida.
Jornal Expressão: Quais os sinais para que a família, professores, amigos possam redobrar a atenção sob suspeita de depressão? Existem “comportamentos suicidas”?
Nilsy Quintino: Nem todas as pessoas dão sinal, mas os que são demonstrados precisam ser identificados. Bilhetes, cartas nas redes sociais de despedidas, falas mencionando datas específicas, etc. Quanto ao comportamento do jovem, na maioria das vezes, é de embotamento e fechamento. Ele se afasta das companhias e amigos, evita sair para encontros e se relacionar. Em alguns casos podem ser irritáveis e agressivos.
Jornal Expressão: Podemos encarar essas “recaídas” como momentos de crise? Como enfrentá-los? Comunicar alguém próximo pode ajudar no tratamento preventivo?
Nilsy Quintino: O suicídio, ou suas “recaídas” são a maior crise existencial do homem, pois ele está diante de um confronto de vida ou morte. A prevenção é a melhor forma de proteção. Precisamos de pessoas que acompanhem este jovem, precisamos de presença. A família é fundamental para o tratamento e tem que estar envolvida no processo, assim como a psicóloga, o psiquiatra, parentes e amigos. Em Viena, Áustria, o psiquiatra Viktor Frankl elaborou Centros de Aconselhamento para jovens em função do alto número de suicídio no local. Ele mobilizou grupos de pessoas que acompanhassem esses jovens minimizando as possibilidades de suicídio e conseguiu zerar o número de casos na sua cidade. Portanto, ser presença é um sinal de ajuda. Para alguém que esbarra na vida com o vazio existencial, somente o sentido pode ser resposta. Por isso, nossos jovens precisam ser orientados para a realização de sentido na vida. O ato do suicídio é como se o jovem estivesse diante de um tabuleiro de xadrez, diante de sua última jogada, e ao invés de fazer a jogada, ele resolvesse virar o tabuleiro no chão. Quem garante que no próximo momento da vida, ela não lhe configure um sentido afinal? Prevenção, “presença” é lutar pela vida. Todos podemos ajudar a fazer algo em favor da vida daqueles que estão em risco.
Infelizmente os jovens (em geral) estão tendo que lidar com uma grande quantidade de informação que chega até eles, sem nenhum filtro, eles não conseguem processar e acabam “ingerindo” muita coisa que só prejudica sua formação.
Ficam em vários momentos se comparando com “influencers”, uma vida Virtual…
O nível de ansiedade que se gera nos jovens com esta “tempestade” de informações, os leva a questionamentos que eles ainda não têm respostas e isto acaba desencadeando uma frustração muito grande…
Nós, pais, temos que estar muito atentos e próximos e se necessário, temos sim que buscar ajuda profissional, para que muitas vezes não seja tarde demais.
Fiquemos atentos aos sinais e comportamentos.