E a saga da Família Sagrada continua…
Para quem leu o texto “É José, e agora?” às vésperas do Natal, percebeu que se tratava de um acontecimento real: uma família que tenta sobreviver olhando carros nas ruas. O encontro com aquela família naquele dia de dezembro durou cerca de seis horas e daí nasceu aquele texto.
No dia seguinte surgiu-me uma questão: que mais posso eu fazer por eles? Alimentos! Sim, certamente precisavam de comida. Contatei algumas pessoas e organizamos uma cesta básica e também algumas guloseimas, daquelas que não vêm em cesta básica, mas que crianças e adolescentes gostam muito (balas, chocolates, leite condensado, iogurte, etc). Quando fui com um amigo levar as coisas que conseguimos, foi grande a alegria do reencontro. Perguntei a eles se tinham comido algumas frutas daquela feira em que passamos no dia anterior e disseram que ficaram ate às cinco da manhã acordados, comendo-as. Comer frutas até às cinco da manhã certamente é para os que, há muito tempo, não comiam bem!
Bem, o Natal estava às portas e o que mais necessitavam e que já haviam me pedido era o Batismo para a filha, Leticia Gabriela. Mas como seria possível sendo que alguns já haviam se recusado a serem padrinhos e eles ainda não haviam feito curso em preparação ao sacramento? Em meio a tantos problemas, dos males o menor: eu me ofereci como padrinho, já que ao menos o Batismo eu poderia administrar à menina. E nada melhor do que ser na significativa data do Natal.
A preparação ao Batismo foi dentro do carro e entre perguntas, respostas e reflexões, pude perceber, ao menos em teoria, que estavam preparados. Pois quando o coração deseja fortemente, a própria mente descobre seus caminhos, resgata aprendizagens e valores do passado e os traz vigorosamente ao presente e em meio ao simbólico e os resignifica.
Com roupas novas e convidados para a Missa, eles estavam radiantes na Igreja e numa celebração batismal muito íntima, saímos todos revigorados e agradecidos, pois o Natal havia, de fato, acontecido de forma especial para nós. Mas a vida continua e na semana seguinte, a primeira do ano, começamos a correr atrás dos documentos, pois é este o primeiro passo para a cidadania. Acompanhamos de perto este processo e posso afirmar: quanta burocracia!!! Foram três semanas entre telefonemas, idas e vindas ao Poupatempo, cartório eleitoral e civil, receita federal, defesa civil, UBS, CRAS, assistência social e Vicentinos.
Fico pensando: inúmeras vezes dizemos aos menos favorecidos que eles têm direitos e os orientamos que os procurem. E quando se deparam com informações truncadas ou desencontradas, com a má vontade de agentes públicos e com exigências descabidas, a primeira reação é: “deixa pra lá” ou “não vou conseguir!” Nasce um desânimo e uma sensação de impotência porque, além de tudo isto, eles têm que perfazer a pé os trechos, com sol ou chuva, ou se tiver algum dinheiro, vão de ônibus e, diga-se de passagem: não somente uma vez. A surpresa ainda estava por vir: quando a assistente social expôs os programas sociais para esta população, deixou claro que, dentre os muitos programas, apenas dois estão funcionando e que não há previsão de quando retornarão com os demais. Decepcionados, saímos do encontro chamado Acolhida, fazendo o possível para não perder ao menos a esperança.
Este é um pouco da realidade em que sobrevivem nossos irmãos e irmãs. Dar as mãos, ir com eles, tentar sentir o que sentem partilhando com eles a VIDA, dom para todos. Talvez aí esteja mais uma frente pastoral na Igreja a que devamos nos atentar e propagar em nossas comunidades, pois será uma prestação de serviço inigualável. E continua o Pe. Zezinho em sua canção: “mas o pobre meu irmão, para ele a chuva fria vai entrando em seu barraco e faz lama pelo chão. Como posso ter sono sossegado, se no dia que passou os meus braços eu cruzei? Como posso ser feliz se ao pobre meu irmão, eu fechei meu coração, meu amor eu recusei?”.
Padre Rodolfo D. Vasconcelos
Diocese de São José dos Campos
Padre Rodolfo, sinto muito a sua falta, adorava sua homilias, sempre foram os conselhos, as vezes os puxões de orelhas que estava precisando, ver esse texto lindo, fortalece. obrigada por vc existir. Continue dando esse previlegio de ler.
poxa Pe Rodolfo, isso mexeu bastante comigo. Deus age nos pobres e necessitados. Um grande abraço
É isso ai Pe. Rodolfo…sua benção…nada pior que ser tomado pelo desanimo, desesperança…Esta ai uma ideia no artigo de se criar talvez uma pastoral para socializar esses menos favorecidos…como mesmo disse, seria uma prestação de serviço inigualável…obrigado pelo testemunho e exemplo de missão…Deus abençoe ainda mais sua vocação.
Pe. Rodolfo, graça e paz!
Fiquei feliz com seu retorno. E emocionada com o a sua atuação em meio às famílias menos favorecidas, que sofrem a dura realidade deste nosso País.
Continue sendo presença de Jesus através de seu sacerdócio ministerial.
“A maior riqueza que podemos dar a este pobre mundo, é Jesus Cristo, Caminho ,Verdade e Vida”(Bem-aventurado Pe. Alberione,ssp).
Com afeto, meu abraço. Ir. Noemia,pddm