Diante de Pedro – o encerramento do Ano da fé
Serão expostas pela primeira vez
as relíquias atribuídas ao apóstolo
«Adoração! Fala-se pouco de adoração!». Esta consideração, pronunciada pelo Papa Francisco com um tom de tristeza e preocupação, poderia fazer compreender o sentido de um dos sinais conclusivos do Ano da fé. Para o confirmar, poderíamos acrescentar outro pensamento do Papa dirigido aos seminaristas e às noviças na conclusão dos dias da sua peregrinação. Deixando de lado também neste caso o texto escrito, disse: «Um dos vossos formadores dizia-me outro dia: évangéliser on le fait à genoux, a evangelização faz-se de joelhos. Escutai bem: “a evangelização faz-se de joelhos”. Sede sempre homens e mulheres de oração. Sem a relação constante com Deus a missão torna-se ocupação».
Palavras que são música para os ouvidos de quantos, como eu, cresceu na escola de von Balthasar. O grande teólogo do século passado criticava o movimento de algumas escolas que passaram de uma «teologia feita de joelhos» para uma «teologia escrita abstractamente», e estimulava a recuperação da espiritualidade e da santidade como forma coerente da vida cristã.
A união entre ação e contemplação é um dos pontos principais que a fé exprime e tem sempre necessidade de afirmar. É por isso que, para a conclusão do Ano da fé, o Papa Francisco decidiu ir no próximo dia 21 de Novembro a um mosteiro de clausura para um momento de oração. A fé vive principalmente de adoração. De facto, o encontro com Cristo exige que a resposta do crente brote da contemplação do seu Rosto. O dia «pro orantibus» eleva-se como um sinal de que a fé ajuda na busca do essencial.
De resto, diante do mistério no qual cremos a oração é a primeira e mais realista atitude que deveríamos assumir. Contudo, a contemplação não nos afasta dos compromissos e das preocupações diárias, pelo contrário. Ela permite-nos dar sentido e suportar o esforço de cada dia. A alegria que provém daquele encontro não é artificial nem limitada a um momento emotivo, mas condição para olhar em profundidade e compreender pelo que vale a pena viver.
Só uma visão teológica pouco atenta pôde criar o estrabismo entre o amor a Deus, típico de quem reza, e o amor ao próximo, próprio de quem age. Porventura a contemplação do Pai não era para o próprio Jesus um momento propedêutico para realizar a sua acção evangelizadora? Portanto, dar novamente vigor à fé equivale a verificar a reciprocidade entre a contemplação e a acção cristã. A primeira é pressuposto para uma acção evangélica coerente, enquanto esta é a condição necessária para que a contemplação seja genuína.
A vida contemplativa soube conjugar os dois momentos. «Ora et labora» permanece na Igreja como a síntese mais feliz à qual a fé conduz. O mosteiro das Monjas Camáldulas, no Aventino, que o Papa Francisco visitará, apresenta esta dimensão de modo peculiar. A sua abertura à cidade no serviço dalectio divina e do refeitório para os pobres, faz emergir o objectivo ao qual conduz a contemplação: a partilha do que se possui. Com efeito, não é possível contemplar a face de Cristo sem o reconhecer na sua «carne» mais necessitada porque mais sofredora.
Através deste sinal preparamo-nos também para celebrar o epílogo de um ano rico de graça. Ele foi marcado em particular pela profissão de fé que os milhões de peregrinos fizeram diante do túmulo de Pedro.
Neste contexto, um último sinal culminante consiste na exposição pela primeira vez das relíquias que a tradição reconhece como as do Apóstolo que aqui deu a sua vida pelo Senhor. A fé de Pedro, portanto, confirmará mais uma vez que a «Porta» para o encontro com Cristo está sempre aberta e espera para ser atravessada com o mesmo entusiasmo e convicção dos primeiros crentes. Um caminho que os cristãos de hoje sabem que devem perseguir sem trégua, porque são fortalecidos e animados pela contemplação da face de Cristo.
Dom Salvatore Fisichella
Presidente do Pontifício Conselho
para a Promoção da Nova Evangelização