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Artigos › 11/10/2018

Diálogo pela paz, um legado de Paulo VI

No dia 14 de outubro, o Papa Francisco canonizou no Vaticano, dentre outros, seu antecessor Paulo VI. Nascido Giovanni Battista Montini, em 1897, na província italiana de Bréscia, liderou a Igreja Católica de 1963 até sua morte em 1978. Seu pontificado já começou com a missão de levar ao termo o Concílio Vaticano II, iniciado por João XXIII, algo que fez com maestria.

No entanto, seu grande desafio foi justamente o período do pós-Concílio, já que deveria implementar uma série de reformas na Igreja. Entre suas cartas encíclicas, destacam-se a Populorum Progressio (1967) – sobre o progresso dos povos, que consagrou a ideia de desenvolvimento integral que consiste em “promover todos os homens e o homem todo” – e a Humanae Vitae (1968) – sobre a regulação da natalidade, muito criticada na época. Aliás, críticas não lhe faltaram. De um lado, era acusado pelos conservadores de modernizar demais a Igreja, de outro, pelos progressistas de frear demais determinadas reformas.

Por essas e outras, já no início de seu pontificado, o Papa Montini teve de assumir o diálogo como uma espécie de “programa de governo”, ressaltando que “o diálogo não é orgulhoso, não é pungente, não é ofensivo. O diálogo é pacífico, evita os modos violentos; é paciente e generoso”. Assim afirmava aos fiéis, exortando a uma justa e saudável interpretação do Concílio, e às nações, que experimentavam a Guerra Fria. Talvez, seja esse um dos grandes ensinamentos e testemunhos desse personagem que entra para o rol dos santos católicos, oportuno, inclusive, para a situação em que o nosso país se encontra.

Sabemos bem que, nos últimos anos, tem crescido uma nociva polarização política no Brasil, que, por sinal, já respingou nos ambientes religiosos. Tal polarização explodiu com o pleito eleitoral que terá seu desfecho no fim deste mês.

Cresce o discurso de ódio alimentado pela falta de um debate razoável de ideias e propostas e, não raras vezes, pelo fanatismo religioso. Nota-se, com frequência, ofensas gratuitas e ataques fundamentados em informações superficiais ou, pior, pela praga social das fake news. Nas comunidades cristãs, o discurso de ódio tem conduzido a uma espécie de “guerra civil” entre os fiéis.

Não é pecado pensar diferente, ter visões variadas para o país, mas, impor uma ideia de modo violento, literalmente aos berros, com agressões verbais e, às vezes, até físicas, e negar a liberdade de consciência dos outros constitui um grave desacordo com os princípios evangélicos.

Em uma carta ao Cardeal Roy, presidente do Conselho dos Leigos e da Pontifícia Comissão “Justiça e Paz”, denominada Octogesima Adveniens, Paulo VI advertia que “nas diferentes situações concretas e tendo presentes as solidariedades que cada um vive, é necessário reconhecer uma variedade legítima de opções possíveis. Uma mesma fé cristã pode levar a assumir compromissos diferentes”.

O diálogo não significa perda de identidade, dado que apenas quem sustenta uma identidade pode dialogar. Na verdade, o diálogo sincero contribui para uma identidade mais consciente; o diálogo também não significa abdicação de valores, ao contrário, reafirma o respeito como valor essencial.

“Aos cristãos que parecem à primeira vista opor-se entre si, em virtude de opções diferentes – continua o Papa –, ela [a Igreja] pede um esforço de compreensão recíproca das posições e das motivações uns dos outros; um exame leal dos seus comportamentos e da sua retidão sugerirá a cada um uma atitude de caridade mais profunda, a qual, reconhecendo muito embora as diferenças, não acredita menos nas possibilidades de convergência e de unidade. ‘Aquilo que une os fiéis é de fato mais forte do que aquilo que os separa’”.

Enfim, nossa referência última é o Evangelho: “Tudo quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles” (Mt 7,12).

Pe. Éverton Machado dos Santos
Vigário da Paróquia Coração de Jesus, em São José dos Campos

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