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Artigos › 13/02/2017

Cuidar do uso das palavras

Palavras são veículos portadores de ideias, experiências, desejos, sonhos, emoções. Em suma, daquilo que está no coração. São realidades necessárias, próprias dos seres humanos. São oportunidades, valores e riscos. Podem ser instrumentos de vida ou de morte. Responsabilidades, portanto.

Há palavras carregadas de sabedoria e inteligência que edificam tanto quem as pronuncia quanto quem as ouve. Há palavras doces e animadoras que ficam gravadas para sempre nos corações. Há palavras carinhosas que dão segurança e fazem crescer. Mas, há também palavras vazias e inúteis que poderiam não ser pronunciadas. E, infelizmente, há palavras ciumentas, mentirosas, agressivas, frias, enganadoras, interesseiras, carregadas de ódio, destruidoras.

Em todos os lugares e circunstâncias da vida as palavras pronunciadas ou escritas são presença e significado. Transmitem conteúdos, mas também revelam a qualidade interior de quem as utiliza. Se ditas cara a cara tem uma intensidade, mas à distância podem mudar de tonalidade. Em algumas circunstâncias podem até mesmo perder sua conexão com a verdade, a realidade, o respeito e o compromisso com o bem, servindo à decepção, ao sofrimento e à tristeza.

Parece que esse seja o caso do uso das palavras nas redes sociais, onde transitam com facilidade e longo alcance, mas nem sempre de forma construtiva. A quase inexistência de leis para o uso desses meios comunicativos populares e altamente acessíveis deixa aberta uma brecha para que a enxurrada das interioridades humanas venha fora por meio das palavras, que neste lugar tornam-se mais perigosas para quem as escreve do que para os que as leem.

O que mais causa espanto é ver o nome de pessoas de participação eclesial e, portanto, de comprovada vivência cristã, “assinando” ou compartilhando textos cujas palavras propagam inverdades, causam sensacionalismo, destilam ódio e semeiam divisão.

Rejeitando as práticas de pureza ritual dos fariseus e as suas consequências separatistas, Jesus disse que “nada que, de fora, entra na pessoa pode torna-la impura. O que sai da pessoa é que a torna impura. (…) Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e insensatez” (cf. Mc 7, 15-23). Com essas palavras Ele alertou os seus ouvintes a cuidarem também do uso das palavras, pois o que está dentro do coração do ser humano, na maior parte das vezes, vem fora por meio delas.

O Evangelho incentiva os seus leitores ao emprego dos sentimentos e atitudes próprios dos seguidores de Jesus.

Não se pode negar que nas relações familiares e cotidianas existem motivos para tristeza, desânimo, lágrimas, desafios a serem superados e que frente a isso não é possível ficar indiferente.

O Brasil passa por uma grave crise política, econômica e social, diante da qual as pessoas não devem permanecer caladas e passivas.

De fato há no mundo muitos males, frutos da desonestidade, da ganância e da irresponsabilidade, que afligem as pessoas e precisam ser combatidos e vencidos com justiça.

Mas, para enfrentar essas questões não são as palavras que devem ser utilizadas em primeiro lugar e sim os gestos e as atitudes novas. Contudo, quando as palavras também forem úteis a esse objetivo, não podem ser usadas de modo irresponsável, inconsequente, mentiroso e odioso pois só tornarão as coisas mais graves e difíceis.

As palavras sábias, bem escolhidas e combinadas, carregadas de esperança, ternura e poesia são bálsamo que cura, energia que transforma, vida que renova. Tais palavras são geradas no silêncio, na escuta, na leitura, na reflexão e na oração e, somente deste modo, portadoras dos nobres sentimentos e desejos que habitam o mais profundo dos seres humanos.

1 Comentário para “Cuidar do uso das palavras”

  1. Eunice Homem de Mello disse:

    Comunicação é mesmo um tema apaixonante! Parabéns ao Pe. Edinei! Ao revelar, com sabedoria, a força da palavra, mostra-nos como as palavras nos revelam…

    Não saiu o crédito…

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