Com ênfase no primado da graça
Por ser a ação evangelizadora e pastoral, antes de tudo, concretização do desígnio salvífico de Deus na história, ela só será fecunda se for realizada em total dependência da graça. O Papa São João Paulo II falou deste princípio na Carta Novo Millennio Ineunte, alertando em relação ao risco de uma auto- suficiência pragmática que se fecha ao protagonismo da graça.
“Há uma tentação que sempre insidia qualquer caminho espiritual e também a ação pastoral: pensar que os resultados dependem da nossa capacidade de agir e programar. É certo que Deus nos pede uma real colaboração com a sua graça, convidando-nos por conseguinte a investir, no serviço pela causa do Reino, todos os nossos recursos de inteligência e de ação; mas ai de nós, se esquecermos que, « sem Cristo, nada podemos fazer » (cf. Jo 15,5)” (n. 38).
Sendo assim, é muito importante que todo o processo do Plano Diocesano de Evangelização e Pastoral (PDEP), seja regado pela oração de nossas comunidades. Também é importante a oração daqueles que se colocam mais diretamente envolvidos na execução dos projetos de cada prioridade. A oração não é um mero acessório do apostolado, ela é o diferencial que garante fecundidade à evangelização e a ação pastoral. Existe uma lei de proporcionalidade entre evangelização, ação pastoral e oração.
A missão de anunciar e atuar o Evangelho é complexa e exigente, por isso é necessário considerar que a urgência dos deveres apostólicos não podem jamais suplantar a necessidade primordial da oração.
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Através da oração o discípulo missionário, a exemplo de Cristo, supera toda forma de tentação e cansaço e encontra respostas para as muitas dificuldades que se apresentam à ação evangelizadora e pastoral. Aquilo que do ponto de vista humano é desalentador, através da oração não só se torna mais leve, como também passa a ser um meio de tornar a atividade eclesial mais fecunda.
As dificuldades tornam-se um convite para o exercício “da fé, da oração, do diálogo com Deus, para abrir o coração à onda da graça e deixar a palavra de Cristo passar por nós com toda a sua força. (…) Neste início de milênio, seja permitido ao Sucessor de Pedro convidar toda a Igreja a este ato de fé, que se exprime num renovado compromisso de oração” (NMI 38).
Também numa compreensão mais ampla do primado da graça, deve-se ter presente que o fruto de toda ação evangelizadora e pastoral depende, entre outras coisas do nível de experiência cristã do agente. Só é possível ao discípulo missionário desempenhar uma tarefa profética na Igreja e no mundo, na medida em que tenha feito a experiência de Deus, em Jesus Cristo. Por isso o documento de Aparecida insistiu muito na necessidade do encontro com Cristo. Mediante esta experiência de Deus, em Cristo, o discípulo missionário passa a viver sob o influxo da ação do Espírito Santo e se qualifica como um instrumento dócil nas mãos do Senhor.
A graça deve ser compreendida teologicamente em termos relacionais, pois ela não é outra coisa senão o próprio Deus atuando no homem. O dinamismo da graça possibilita a atuação de Deus no ser humano e, através dele, a sua ação salvífica nos outros. Por isso, é muito importante o cultivo de uma vida espiritual profunda que consiste em deixar-se conduzir pelo Espírito Santo (cf. Gl 5, 16). Esta dependência e abertura dócil e amorosa à ação divina é um testemunho eclesial eloquente e muito necessário hoje, pois a sociedade pós-moderna está fortemente marcada pela autossuficiência e negação da vocação transcendente do ser humano.
Pe. Djalma Lopes Siqueira
Vigário Geral da diocese e reitor do Propedêutico