Celam celebra 70 anos de comunhão, participação e missão em Assembleia realizada no Rio de Janeiro
O Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) deu início, na manhã desta terça-feira, à sua 40ª Assembleia Geral Ordinária. O encontro é realizado no Rio de Janeiro, por ocasião da celebração dos 70 anos da primeira Conferência do Episcopado no continente, em 1955, na então capital do Brasil.
A missa de abertura do encontro foi celebrada no Colégio Sagrado Coração de Maria, em Copacabana. Foi essa escola que acolheu, há 70 anos, o encontro com os bispos latino-americanos que deu início ao Conselho Episcopal do continente. O arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da CNBB, dom Jaime Spengler, presidiu a eucaristia.
Em sua homilia, dom Jaime recordou que a existência do conselho é “a realização de um sonho, um projeto eclesial de comunhão, participação e missão”. O presidente da CNBB e do Celam salientou o pioneirismo dos bispos do continente, “responsáveis por iniciativas vigorosas para a aplicação das orientações do Concílio Vaticano II”. Também recordou as Conferências do Episcopado do continente, que “indicaram caminhos, sinalizaram rotas, ofereceram orientações valiosas para a evangelização”, e inspiraram igrejas de outros continentes. Outro ponto de destaque foi a Assembleia Eclesial, em 2022, que “ofereceu indicações valiosas para o Sínodo de 2024” e “a participação ativa de tantos foi mais que importante”, sublinhou.
Após a missa, foi descerrada e abençoada uma placa comemorativa dos 70 anos da primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano.
Acolhida
As atividades da manhã continuaram com a sessão de abertura, na qual o arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), cardeal Orani João Tempesta, deu as boas-vindas aos participantes do encontro no “coração pulsante do Brasil”: “Acolho a todos com o coração repleto de alegria, gratidão e esperança”.
O cardeal também recordou o momento da realização daquela primeira conferência, aproveitando um Congresso Eucarístico Internacional sediado no Rio de Janeiro, e a carta apostólica Ad Ecclesiam Christi – sobre as necessidades da América Latina, enviada pelo Papa Pio XII para os bispos do continente.
Vocação Apostólica
O chamado à vocação apostólica feito por Pio XII, segundo dom Orani, não é apenas um legado, mas “um desafio contínuo”.
“Mais do que nunca, somos convidados a renovar nossa missão de evangelizar a partir dos sinais dos tempos e das realidades concretas dos nossos povos. Hoje, nesta 40ª Assembleia Geral Ordinária, somos convocados a fortalecer o Espírito de colegialidade e serviço entre os bispos e demais agentes pastorais, e discernir novos caminhos de comunhão, e buscar respostas concretas para renovar a presença evangelizadora da Igreja em nossa reunião”, disse o cardeal.
A história em cinco Conferências
O arcebispo emérito de Tegucigalpa, em Honduras, cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, que presidiu o Celam entre 1995-1999, recordou a história das cinco conferências gerais do episcopado latino-americano, com a proposta de “olhar ao passado para agradecer, para o presente para reconhecer e ao futuro, para projetar”.
A primeira conferência, no Rio de Janeiro, em 1955, ocorreu por ocasião do Congresso Eucarístico aqui realizado. “Da Eucaristia, nasce a comunhão. Assim nasceu o Conselho Episcopal Latino-Americano”, disse.
A segunda conferência surge da preparação para o Concílio Vaticano II. Logo após os anos de reuniões anteriores e em Roma, quando os bispos puderam se conhecer melhor, surgiu a segunda conferência, em Medellín, no ano de 1968, aberta pelo Papa Paulo VI, e com o tema “A Igreja na atual transformação da América Latina à luz do Concílio Vaticano II”.
Os documentos surgidos, segundo o cardeal Maradiaga, “frutificaram em um renascimento da Igreja em todo o continente”. Os anos seguintes forma marcados pela pastoral de conjunto e a Teologia da Libertação baseada na opção preferencial pelos pobres. O cardeal sublinhou que, atualmente, essa teologia é um princípio maduro da Doutrina Social da Igreja e que alguns aspectos precisaram passar por correção.
Mais tarde, em 1979, foi realizada a Conferência em Puebla, sob a presidência do arcebispo brasileiro, cardeal Aloísio Lorscheider. O tema foi “A Evangelização no presente e no futuro da América Latina”, sob a inspiração da Evangelli Nuntiandi. Segundo dom Oscar, o Documento de Puebla tem ainda hoje “plena vigência” no clima de confrontação e ideologização que vivemos e influenciou na temática do Sínodo sobre a sinodalidade.
Depois de Puebla, o desenvolvimento da Nova Evangelização. Em 1992, em Santo Domingo, a 4ª Conferência, com o lema “Nova Evangelização: promoção humana, cultura cristã”.
Essa conferência teve grande resistência, após o primeiro Congresso de Doutrina Social da Igreja, em 1991. “Nesses anos, houve grande adversários do Celam, que estiveram a ponto de fazer fracassar a quarta Conferência”, afirmou o cardeal, recordando a denúncia de que poderia haver um cisma na Igreja do continente e que havia a proposta de a Pontifícia Comissão para a América Latina substituísse o organismo continental. Um dos responsáveis por contornar a situação foi o então presidente da CNBB, dom Luciano Mendes de Almeida, “a quem devemos, em grande parte, se tenha chegado a um bom ponto do documento” da conferência. Também São João Paulo II foi lembrado pela motivação à conferência.
Em 2007, o Brasil novamente recebeu uma Conferência do Episcopado Latino Americano, em Aparecida (SP). A quinta edição do encontro foi aberto pelo Papa Bento XVI com o tema “Discípulos Missionários de Jesus Cristo: para que Nele nossos povos tenham vida”, com grande destaque à conversão pastoral e o discipulado missionário. “O clima fraterno e de grande liberdade, aos pés da mãe do céu, favoreceram uma grande participação e a produção de um documento tão rico pastoralmente, disse Maradiaga, lembrando que o então cardeal Jorge Mário Bergoglio, eleito anos depois ao pontificado, foi o coordenador da comissão de redação. Já como Papa, foi um dos grandes promotores do Documento de Aparecida. Após citar Francisco, dom Oscar foi interrompido por um aplauso.
Além das cinco conferências, tiveram destaque na partilha do cardeal Maradiaga a organização do Celam, que inspirou conferências episcopais e outros agrupamentos continentais de bispos, além das estruturações dos secretariados e dos centros de formação do organismo.
Sobre a inspiração do Celam para outros continentes, ganhou destaque a presença do arcebispo de Goa e Gamão, cardeal Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão. Ele preside a Conferência dos Bispos Católicos da Índia e a Federação das Conferências Episcopais Asiáticas, e participa da Assembleia para se aprofundar na organização do organismo continental.
A cerimônia de abertura foi concluída com uma homenagem aos presidentes do Celam, lembrando a dedicação deles e de todos que atuaram no conselho, e duas apresentações dos alunos do Colégio Sagrado Coração de Maria.
Desafios dos países
À tarde, as atividades da assembleia continuaram com as partilhas da situação socioeconômica e eclesial dos 22 países representados no Celam. Os secretários das Conferências Episcopais contaram o que mais preocupa os bispos em seus países e quais avanços são desejados para a sociedade e a Igreja.
Vários desafios foram apontados, como a polarização política, o narcotráfico, a violência, as crises democráticas, os desafios econômicos e as desigualdades sociais e a crise ecológica, além da formação sacerdotal, a diminuição de vocações e a falta de recursos para o trabalho pastoral. Sobre o Brasil, o secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, destacou que o cenário brasileiro não é isolado, “mas compartilha desafios comuns com o continente”
“A maior preocupação dos bispos do Brasil é a crise de futuro, vivemos um tempo em que as pessoas têm dificuldade de projetar a vida com horizontes amplos, as relações interpessoais são frágeis, as estruturas democráticas estão sob tensão. A violência, especialmente o feminicídio, as facções criminosas e a cultura do narcotráfico comprometem a dignidade da vida. A isso se soma a crise socioambiental”, elencou.
A Assembleia
A 40ª Assembleia Geral Ordinária do Celam segue até sexta-feira, no Centro de Estudos do Sumaré, no Rio de Janeiro. O encontro tem como objetivo fortalecer o espírito de colegialidade e de serviço dos bispos a povo, discernindo os sinais dos tempos e os caminhos de comunhão que renovam a presença e a missão evangelizadora da Igreja na América Latina e no Caribe, à luz dos 70 anos da primeira Conferência Geral do Episcopado Latino Americano.
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