Casa Bom Samaritano, em Brasília (DF), acolhe o primeiro grupo de 19 migrantes venezuelanos
Desde quarta-feira, 19 de maio, um grupo de 19 migrantes venezuelanos, sendo 5 famílias, foi acolhido na Casa Bom Samaritano, destinada a receber temporariamente migrantes e refugiados venezuelanos que estão na condição de abrigados em Boa Vista (RR) e que serão interiorizados a partir de oportunidades de trabalho na região do Distrito Federal. A inauguração do espaço, cedido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), aconteceu no dia 4 de fevereiro de 2021.
A iniciativa faz parte do projeto “Acolhidos por meio do trabalho”, implementado pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH)/Irmãs Scalabrinianas e financiado pelo Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM), do governo dos Estados Unidos, para fortalecer as ações da força tarefa humanitária Operação Acolhida, liderada pelo Governo Federal.
Segundo o coordenador do espaço, o colaborador da AVSI Brasil, Paulo Heider Santos Tavares, a chegada do grupo é um momento importante porque caracteriza a realização de um sonho concretizado com o trabalho dos parceiros.
“Estamos muito alegres e felizes. Temos certeza que nosso objetivo de colaborar para o processo de integração destas pessoas através do emprego e para que possam se enriquecer dentro da comunidade brasileira vai se realizar. Agradecemos a todos parceiros”, afirmou.
“Agora a casa não está mais vazia”, comemorou a diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos, irmã Rosita Milesi. Ela reforça que as organizações se empenharam para que as famílias encontrem na Casa Bom Samaritano um espírito de fraternidade e de atenção e possam encontrar apoio em seu processo de integração por meio do trabalho na sociedade brasileira. Segundo ela, as organizações parceiras estão há mais de um ano trabalhando para encontrar e organizar um local adequado, formar a equipe de trabalho e estruturar o projeto de acolhida dos migrantes vindos da Venezuela.
A Casa Bom Samaritano, de acordo a diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos, servirá como uma residência temporária para núcleos familiares e indivíduos em sistema rotativo de acolhida. Ela disse também que as famílias poderão permanecer na Casa por até três meses, tempo no qual serão interiorizados pelo trabalho. O imóvel, cedido pela CNBB, é localizado na região do Lago Sul, tem capacidade para acomodar até 94 pessoas simultaneamente e conta com uma área construída de mais de 3 mil metros quadrados.
“Não organizamos o projeto apenas do ponto de vista administrativo, mas o estruturamos como uma ação que faz parte da missão dada pelo Papa Francisco de promover integralmente os seres humanos que por razões diferentes deixam a sua terra em busca de melhores condições de vida. O grupo chegou ontem à noite e foi lindo ver a nossa equipe atuando. É uma alegria muito grande ver a satisfação, alegria e entusiasmo destas famílias por sentirem que finalmente estão entre irmãos”, disse.
Reconstrução de vidas e sonhos
O secretário-executivo de Campanhas da CNBB, padre Patriky Samuel Batista, foi até a Casa Bom Samaritano na manhã desta quinta-feira, 20 de maio, dar as boas vindas do grupo em nome da CNBB. Na acolhida, ele lembrou que o espaço é um gesto concreto da Campanha da Fraternidade de 2020 marcada pela figura do Bom Samaritano, expressa no ícone de Santa Dulce dos Pobres.
“Estamos, com esse projeto, dando um passo concreto rumo ao que o Santo Padre pede à Igreja no mundo inteiro como atitude que os cristãos devem ter em relação aos migrantes e refugiados: acolher, proteger, promover e integrar. Aqui as famílias encontrarão um abrigo a partir do qual poderão dar os próximos passos de reconstrução de suas vidas e sonhos”, disse.
A família do Richard Obinna Anyanwu, 47 anos, sua esposa Yulexis Angelica Valladares Materan, 27 anos, e os dois filhos Santiago Chidiebere Anyanwu, 2 anos e 3 meses, e Chison Goodluck Anyanwu Valladares, de 6 meses, integra o primeiro grupo acolhido na Casa Bom Samaritano. Com pouco mais de 18 anos, o nigeriano migrou para a Venezuela atrás de melhores condições de vida. A crise pela qual passa o país vizinho o obrigou mais uma vez, agora com a sua família, a tentar a vida no Brasil.
Ele conta que chegaram desesperados ao país, sem saber o que fazer, por Pacaraima, município brasileiro localizado no norte do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela. Após serem acolhidos pelos militares brasileiros que atuam na região foram encaminhados para um abrigo em Boa Vista. Na capital de Roraima, puderam fazer os primeiros cursos de língua portuguesa, desenvolvimento profissional e alimentação saudável.
“Agora estamos na Casa Bom Samaritano com a ajuda destas organizações para buscar uma vida melhor. Estamos agradecidos pela hospitalidade dos brasileiros. Desde que chegamos aqui estamos sendo muito bem acolhidos. Espero que consigamos um emprego. Eu necessito trabalhar para ficar independente e poder ajudar a cuidar da minha família”, disse.
A Naileth Del Valle Cordova Arevalo, 31 anos, seu esposo Daniel Maza, 44 anos, e as duas filhas, Danielle Rebeca Maza Cordova, 10 anos, e Danielle Rebeca Maza Cordova, 5 anos, também estão felizes em poder recomeçar uma vida nova em território brasileiro. “Estamos contentes, queremos trabalhar e colocar as nossas filhas para estudar. Agradecemos a todo o apoio que estas organizações estão nos oferecendo”, disse.
Interiorização dos migrantes no Brasil
A estratégia de interiorização do Governo Federal, que leva voluntariamente refugiados e migrantes venezuelanos do estado de Roraima e de Manaus para outras cidades no país, alcançou no último mês de março o total de 50.475 pessoas beneficiadas, três anos após o seu início em abril de 2018. Nesse período, 675 municípios acolheram os beneficiários.
O governo federal estima que cerca de 260 mil refugiados e migrantes venezuelanos vivem atualmente no Brasil. Assim, a estratégia de interiorização ajudou quase um a cada cinco venezuelanos no país a melhorar significativamente sua situação financeira, de moradia e de educação – enfim, sua qualidade de vida.
Uma pesquisa conduzida pelo ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) com 360 famílias venezuelanas interiorizadas revelou que 77% delas encontraram emprego algumas semanas após chegarem às cidades de destino (contra 7% com emprego antes da interiorização). A maioria já tinha renda suficiente para pagar aluguel, e todas as famílias tinham pelo menos uma criança na escola (contra 65% antes de serem interiorizadas).
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