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Artigos › 02/03/2020

Campanha da Fraternidade 2020: vencer o vírus da indiferença

A cada ano a Quaresma é enriquecida com a Campanha da Fraternidade, uma iniciativa da Igreja do Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que começou tímida, em 1962, na Diocese de Natal e, a partir de 1964, foi assumida em nível nacional.

O tema deste ano é a Vida como Dom e Compromisso. Ela é dom, porque Deus no-la deu gratuitamente, uma vez que nenhum de nós pediu para nascer. Como afirma o Texto-Base, citando São João Bosco: “Deus nos deu a vida de presente, e o que fazemos com ela é o nosso presente para Ele”. A vida é, também, compromisso, pois devemos cuidar da vida de todos e do planeta, nossa casa comum.

Para os cristãos católicos a Campanha da Fraternidade ajuda a caminhar na conversão quaresmal, que é muito mais do que somente deixar de fazer algumas coisas erradas. Esta conversão implica uma mudança de mentalidade e renovação interior, como nos diz o vocábulo grego metanoia (μετάνοια) utilizado no Novo Testamento e traduzido para o latim como conversão ou arrependimento. Esse caminho é facilitado pelas práticas externas da Quaresma, que são a esmola, o jejum e a oração.

Existe, hoje, um vírus tão letal quanto o Corona vírus, que é o da “indiferença”, pois ela conspira contra a vida de milhares de pessoas e agride a do nosso planeta.

Em Lampedusa (Itália), diante da tragédia humanitária dos refugiados, o Papa Francisco alertou o mundo sobre a sua existência, ao falar de uma globalização da indiferença, pois os países, como Pilatos no julgamento de Jesus, lavavam as mãos diante desta triste realidade, dizendo “não é problema meu, não tenho nada a ver com isto”.

É este vírus da indiferença que esta Campanha nos ajuda a combater, é esta a mudança de mentalidade que nos é proposta para a conversão quaresmal, a fim de que iniciemos uma verdadeira revolução do cuidado, deixando a bacia de Pilatos e assumindo a de Jesus, que é a do lava-pés.

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Existe um ditado que diz que “o que os olhos não veem, o coração não sente”. Ao contrário disto, o chamado desta Campanha é ter os olhos abertos para o drama das pessoas e de nossa casa comum, perceber a realidade com compaixão e entrar na lógica do cuidado.

Por fim, temos nesta Campanha o exemplo de Santa Dulce dos Pobres, como vem evidenciado no cartaz de divulgação, onde ela está na rua e ocupa o centro de um grupo de pessoas em situação de necessidade.

Esta mulher, frágil e humilde, com pequenos gestos foi realizando uma grande obra, no cuidado com os mais vulneráveis da Bahia. Poderia ter sido colocado neste cartaz um santo mais famoso e conhecido, como Madre Tereza de Calcutá, Santa Paulina, São Vicente de Paulo, São Francisco de Assis ou outros. Porém, foi colocada essa mulher, muito próxima de nós, como que indicando que está ao nosso alcance fazer o que ela fez. Basta vencer o vírus.

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Pe. Antonio Aparecido Alves.

Mestre em Ciências Sociais e Doutor em Teologia. Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte.

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