Ano da Misericórdia – misericordiosos como o Pai
No dia 8 de dezembro o Papa Francisco abriu, em Roma, a Porta da Misericórdia, dando início ao Ano Santo. Este gesto é muito rico de sentido. Além dos outros significados densos de simbolismo bíblico, ele expressa que o fiel passou para uma realidade mais intensa de graça. Após o gesto do Papa em Roma, cada bispo em sua diocese deveria realizar este rito em profunda consonância com o sucessor de Pedro. Na nossa diocese de São José dos Campos, Dom Cesar abriu a Porta Santa na Catedral de São Dimas, na quinta-feira, dia 17 de dezembro. Este mesmo Rito será feito no dia 22 de dezembro, na Igreja Nossa Senhora da Santíssima Trindade, em Jacareí. Quanto a conclusão do Ano Santo, será no final de 2016, no dia 20 de novembro, Festa de Cristo Rei.
Ele será um tempo especial para a Igreja, a fim de que ela possa haurir graças do Coração Misericordioso de Jesus e espalhá-las no mundo. Cristo como expressão do Deus invisível é a imagem do Pai das misericórdias. O seu ministério messiânico foi permeado de gestos de compaixão. “Em todas as circunstâncias, o que movia Jesus era apenas a misericórdia, com a qual lia no coração dos seus interlocutores e dava respostas às necessidades mais autênticas que tinham” (Papa Francisco – Misericordiae Vultus. n. 8).
Este deve ser também o caminho da Igreja neste início do terceiro milênio. Num mundo dilacerado pela lógica do mercado, que produz cada vez mais excluídos, a Igreja deve ser escola de compaixão. Neste sentido ela vive a misericórdia não só na perspectiva vertical, administrando a misericórdia divina aos homens, mas também na perspectiva horizontal ou seja, através dos seus membros ela é chamada a por em prática as obras de misericórdia.
Com atitude materna a Igreja deve estender a misericórdia a muitas categorias. O Papa Francisco convida a Igreja a dirigir o seu olhar solícito especialmente àqueles que estão nas periferias existenciais. “Neste Ano Santo, podemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimentos presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não tem voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos” (Papa Francisco – Misericordiae Vultus. n. 15).
Também aqueles que se sentem excluídos moral e espiritualmente, tem o direito de encontrar na Igreja um lugar de acolhimento e amor que os ajudem a fazer a experiência do amor de Deus. Toda a vida de Jesus foi um anúncio do amor misericordioso do Pai. A Igreja como continuadora da missão de Cristo não pode fechar o coração a pessoa alguma, por mais perdida que possa parecer. Cristo foi chamado de amigo dos publicanos e pecadores (conferir: Mateus 11,19) e também praticou a “comensalidade” com os que eram desprezados. Isto inspira a Igreja a dilatar sempre a sua ação evangelizadora em direção àqueles que são considerados moralmente perdidos. Isto não significa silêncio em relação ao apelo à conversão. É exatamente movido por este amor que acolhe, que a Igreja convida estas pessoas a refazerem sua existência, trilhando um caminho de libertação.
Nesta perspectiva horizontal da misericórdia, a Igreja deve estender a sua prática da misericórdia também em relação à natureza. Ela é chamada a resgatar a sua tradição de amor à criação. Isto não significa cair na ambiguidade de colocar em pé de igualdade a dignidade humana com a das outras criaturas, pois o ser humano é a única criatura querida por Deus por si mesma. Mas mantendo sempre em relevo a dignidade humana, como imagem e semelhança de Deus, a Igreja deve também afirmar o valor de toda criatura.
Pe. Djalma Lopes Siqueira
Vigário Geral da Diocese de São José dos Campos
Este ano, como já foi celebrado em nossa diocese, é o ano dedicado á misericórdia de Deus Pai que, através de seu Filho Jesus, derrama seu amor nos corações de cada pessoa que deseje ter uma profunda experiência desse amor. A Igreja, através do gesto simbólico da abertura da porta santa, demonstrou que Deus está com os braços abertos para acolher a todos que desejem ser acolhidos e amados. Seria muito oportuno se nossa diocese, num gesto de grande ardor missionário, empreendesse um grande mutirão missionário, tanto nas paróquias como, especialmente, fora das paróquias, para levar o amor misericordioso de Deus através do anúncio do Querigma, com o projeto de amor salvador e libertador de Deus em Jesus Cristo.