Agenda, sabão e sapatos
Em tempo de “ficar em casa”, agenda, sabão e sapatos receberam cuidados especiais. Um amigo um dia expressou para mim esta frase: “Devemos agendar nossas prioridades e não priorizar a agenda”. E não é que nesse tempo de quarentena eu (e muitos comigo) comecei a não usar a agenda? Tudo que está anotado nela já não faremos na sua integridade.
Lembro-me do filho que pedia um tempo para seus pais. Agora há tempo para os filhos… Penso nas atividades pastorais como são, muitas vezes, correria estéril, que não nos leva à evangelização e à construção do Reino. Correrias pastorais que foram apenas para satisfazer uma necessidade humana para “encher linguiça”. Não estou generalizando. Apenas refletindo sobre a necessidade de agirmos como Igreja naquilo que é essência: a prática do amor fraterno, o testemunho, a coerência de vida…
E o sabão? Ele existe há muito tempo. Mas agora não falta a “presença” dele em nossa vida diária. Em todo lugar e em todo momento possível ele é usado – e com orientação correta sobre sua eficácia. Muitos vírus e germes poderiam ser impedidos em sua transmissão se essa prática continuar em nossas atitudes cotidianas. Penso na necessidade de evitarmos transmitir o vírus do egoísmo, da indiferença e da desigualdade entre nós. Quanta saúde física e moral teríamos?! Na dimensão pessoal, depende de cada um de nós. Na dimensão social, depende de todos e de uma política pública de nossos políticos que favoreçam o bem comum.
Os sapatos também estão sendo objeto de atenção. Vi num condomínio (prédio/apartamentos) pessoas deixando seus calçados na entrada da porta. Tem sua razão, pois podemos levar ou trazer para nossas casas algum vírus da rua – sem exagero. Como seria bom se deixássemos “lá fora” o que nos atrapalha na vida familiar, eclesial e profissional? Mais ainda: e se deixássemos fora de nós tudo que é nocivo à liberdade e à alegria pessoais? O mundo seria melhor a partir de cada um, com equilíbrio e com vida humana verdadeira. Isso daria dinamismo para uma ótima convivência.
Não sejamos ingênuos quanto à vida social, porque muito depende de agentes com cargos políticos, em todos os níveis, para que a sociedade tenha saúde, também em todos os níveis. Cabe aqui uma consciência saudável de vida política. Isso praticamos nas urnas e no acompanhamento frequente dos atos dos políticos. É uma questão de cidadania. Mas nossa atitude pessoal é mais próxima de nós (rápida, de decisão pessoal e responsável).
Que aprendamos com esta crise mundial que estamos passando no cuidado conosco, com nossa família, com nossa Igreja e com a nossa sociedade. Esperemos que a humanidade se refaça, buscando vida com maior qualidade e vivendo a partir do que é essencial; e lutemos para que isso não demore. “Absolutizar” o que não é essencial é o nosso grande vício, que nesta quaresma/quarentena podemos penitenciar. Que a pessoa humana (social) esteja acima de qualquer coisa (economia), pois a vida é sagrada, querida por Deus… O “resto” é para apenas ajudar a humanidade a viver bem…
Saúde e paz em plenitude para você, leitor, hoje e sempre.
Pe. Ronildo Aparecido da Rosa
Pároco da Paróquia São Vicente de Paulo
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