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Artigos › 11/04/2016

A CNBB e a crise política

Estamos vivendo um tempo de incerteza política e econômica em nosso País, que atinge a todos os setores sociais, especialmente os membros mais vulneráveis da sociedade. Dentro deste quadro, a Nota do Conselho Permanente da CNBB sobre a situação atual do Brasil chama a atenção para as origens deste mal, isto é, a ausência de referências éticas e morais. É preciso, no entanto, dizer que na política não bastam a boa vontade e as virtudes privadas, mas é necessário um ordenamento institucional centrado no bem comum, que favoreça o acesso e o controle dos cidadãos sobre a coisa pública.

A resposta ética a esta crise, de acordo com a Nota, deve ser buscada fora dos interesses partidários e para além da lógica do mercado, pois o que está em jogo é a vida do povo, especialmente dos mais pobres.  Falar de ética no Estado, neste sentido, seria assegurar e ampliar os direitos sociais, reduzindo a desigualdade e a exclusão social. Qualquer discurso sobre ética na política deve ser submetido a este crivo, pois “a situação em que vivem os pobres é critério para medir a bondade, a justiça, a moralidade, enfim, a efetivação da ordem democrática. Os pobres são os juízes da vida democrática de uma nação” (CNBB, Doc. 42, n. 72).

A Nota do Conselho Permanente da CNBB pede, ainda, que se tenha neste momento político duas atitudes fundamentais: “discernimento” e “serenidade com responsabilidade”. Não se pode maniqueísticamente dividir a realidade entre bons e maus, colocando esses últimos em um único lado. Nós sabemos que a vida não é assim. Como atesta o evangelho, o joio e o trigo crescem juntos no cenário da história e a pressa em arrancar o primeiro pode levar junto o segundo. Por isso, a necessidade do discernimento, pois, como diz a sabedoria popular, é preciso cuidado para não jogar a água suja da bacia, com a criança dentro.

Em vista disto, os atores sociais que estão administrando essa crise, seja a Procuradoria Geral da República, quanto os que trabalham na Operação Lava Jato e os parlamentares que julgarão o pedido de impeachement da Presidente, têm o dever de se guiarem estritamente pelo espírito técnico dentro do marco jurídico definido pela Constituição, apesar da pressão da opinião pública, alimentada por interesses corporativos e pela mídia, por vezes parcial e seletiva. O momento exige seriedade com responsabilidade e a paixão não seria uma boa conselheira na situação atual.

Neste momento em que a razão se obscura, os ânimos estão exaltados e os nervos parecem estar à flor da pele, são necessários, portanto, o discernimento e a serenidade com responsabilidade. A democracia conquistada a duras penas nos últimos vinte anos é um valor a se preservar. Por isso, o respeito devido ao Estado de Direito, garantindo aos acusados amplo direito de defesa, até que, depois de julgados sejam, então, aí sim, condenados ou absolvidos.

Em outra Nota, em conjunto com outros organismos da sociedade civil, a CNBB fala da polarização política a que chegamos, no quadro de uma crescente radicalização. Isto engendra um tipo de pensamento único, onde quem não se alinha a ele é hostilizado e se torna vítima da intolerância política. Ora, a justa indignação ética da população pela corrupção não pode ser transformada em ódio contra um partido ou pessoas filiadas a ele ou de projeção dentro dele, assim como o País não pode ser dividido em duas torcidas opostas em dia de clássico de futebol.

A Igreja não pode ficar calada neste momento. Por isto, a CNBB comparece no cenário social, como já o fez em tantas outras vezes, para salvaguardar a dignidade da pessoa, especialmente a dos pobres, pois, como afirma o Concílio Vaticano II, esses são confiados à especial solicitude evangelizadora dos Bispos (CD 13). Não fazer isto seria uma traição ao espírito de Jesus.

Pe. Antonio Aparecido Alves
Pároco da Paróquia São Benedito, no Alto da Ponte,
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Gregoriana/Roma e
Doutor em Teologia pela PUC-Rio

1 Comentário para “A CNBB e a crise política”

  1. luigi disse:

    excelente reflexão, parabens.

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