O Primado da Graça
1. Um princípio irrenunciável da vida cristã
A Carta Novo Millennio Ineunte, escrita pelo Papa Beato João Paulo II é tida por muitos como um dos seus documentos mais ricos. Chegou a ser comparada com a Evangelii Nuntiandi de Paulo VI, considerada a carta magna do seu pontificado. O objetivo da Novo Millennio Ineunte foi de apresentar diretrizes fundamentais para a Igreja, na sua ação pastoral no início do terceiro milênio. Dentre as diretrizes que o Papa apresentou, está o primado da graça que é um elemento imprescindível de uma vida cristã profunda.
“No âmbito da programação que nos espera, apostar com a maior confiança numa pastoral que contemple o devido espaço para a oração pessoal e comunitária significa respeitar um princípio essencial da visão cristã da vida: o primado da graça” (NMI 38).
2. Elemento integrante do discipulado missionário
Para se viver o primado da graça é necessário cultivar uma consciência absoluta de que “sem Cristo, nada podemos fazer” (Jo 15,5). Isto nos deve fazer muito zelosos no sentido de se cultivar uma vida de oração. “É a oração que nos faz viver nesta verdade, recordando-nos constantemente o primado de Cristo e, consequentemente, o primado da vida interior e da santidade” (NMI 38).
Quando meditamos sobre a vida de Jesus, nos Evangelhos, vemos o quanto Ele priorizava momentos de profunda intimidade com o Pai. Vemos Jesus ao mesmo tempo em que se dedica à atividade messiânica junto às multidões ou formando os seus discípulos, encontra tempo, nas manhãs ou noites para se retirar para um lugar a parte e se colocar a sós com o Pai. Lucas é o evangelista que mais retrata esta dimensão tão profunda da vida de Jesus.
Os discípulos de Cristo, chamados a configurarem suas vidas com o Mestre, devem imitá-lo também na sua vida de oração. A alegria daquele que ama é estar com o amado. Após a Páscoa, a oração é a possibilidade dos discípulos entrarem numa relação de intimidade com o mestre, aprendendo as lições do seu coração e aprofundando os segredos da vida no Espírito.
3. Segredo para uma ação evangelizadora fecunda
Por ser a ação evangelizadora, antes de tudo, concretização do desígnio salvífico de Deus na história, ela só será fecunda se for realizada em total dependência da graça. Sem o primado da graça, a ação evangelizadora tende a se transformar num mero método e fica desprovida da força dinamizadora do Espírito Santo que é o agente principal da evangelização (cf. EN 75).
O Papa Francisco na Evangelii Gaudium convida os evangelizadores do nosso tempo a invocar incessantemente o Espírito Santo, pois sem o dinamismo da sua presença “a ação evangelizadora corre o risco de ficar vã e o anúncio, no fim das contas, carecer de alma. Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa Nova, não só com palavras, mas sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus” (EG 259).
Neste sentido, o Papa Beato João Paulo II falou da falta de consciência do primado da graça, como uma verdadeira “tentação que sempre insidia qualquer caminho espiritual e também a ação pastoral: pensar que os resultados dependem da nossa capacidade de agir e programar” (NMI 38).
4. A vivência do primado da graça neste tempo de vacância
Este tempo de vacância da diocese não significa paralisação da ação evangelizadora, pois a caminhada pastoral da diocese não para, visto que a presença do Ressuscitado e do seu Espírito é permanente nas comunidades, impulsionando sempre a ação evangelizadora.
Neste sentido é muito importante continuarmos incentivando a vida de oração nas comunidades, a fim de que toda a ação missionária e pastoral esteja regada pela oração. “A diocese, na sua pastoral de conjunto a paróquia e as comunidades menores (comunidades eclesiais de base e família) integrem em seus programas evangelizadores a oração pessoal e comunitária” (DP 952).
O princípio espiritual do primado da graça deve ser vivido em todos os âmbitos da vida eclesial. O lema de toda atividade eclesial deve ser “tudo com oração, nada sem oração”. Neste sentido a própria realidade da vacância da diocese deve ser vivenciada numa perspectiva de muita oração.
Já estamos há mais de oito meses em vacância na diocese. Tudo indica que o processo de nomeação do nosso bispo caminha numa fase já adiantada para sua definição. Por isso, é muito importante intensificarmos nossas orações nesta intenção, para que os que estão empenhados neste processo tenham muita sabedoria e discernimento espiritual para escolherem aquele que o Senhor deseja.
Padre Djalma Lopes de Siqueira
Administrador Diocesano