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Encontro das Águas sela compromisso do Muticom com uma comunicação transformadora

O 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação- Muticom foi encerrado na manhã deste domingo (28) no cenário grandioso da confluência dos rios Negro e Solimões, em Manaus (AM). Comunicadores e comunicadoras, agentes de pastorais, religiosos e religiosas, presbíteros e bispos finalizaram os quatro dias de intensas reflexões (25 a 28/09) sobre o tema “Comunicação e Ecologia Integral: transformação e sustentabilidade justa”.

A Diocese de São José dos Campos, foi representada por Bruno Andrade (jornalista da Diocese e coordenador diocesano da PASCOM) e Fernanda Albuquerque (jornalista da Paróquia Espírito Santo e vice-coordenadora diocesana da PASCOM). Ambos definiram o encontro como momento de virada de chave para o cuidado com a casa comum, uma missão de todos nós. 

A cerimônia de encerramento foi realizada a bordo de uma balsa, com capacidade de acomodar os mais de 300 participantes que saíram do Porto dos Pescadores rumo ao Encontro das Águas, o espetáculo natural onde as correntes de cores e temperaturas distintas dos rios correm lado a lado sem se misturar. A travessia da balsa serviu como uma metáfora para os participantes: a busca por uma comunicação transformadora que, como a união dos rios, deve gerar esperança na comunicação transformadora e comprometida com a Ecologia Integral.

Joga-me contra a injustiça em furacão de verdade.

A bordo, a emoção foi embalada pela poesia do poeta amazonense Chico da Silva. Artistas das comunidades como Brito, Beto, Suzana e Magno, das paróquias Nossa Senhora de Nazaré e Auxiliadora entoaram a canção “Amazonas Meu Amor”, enquanto a alegria era palpável nos rostos e olhares que contemplavam a beleza do rio. O som das músicas do poeta e as toadas dos bois Garantido e Caprichoso animaram a todos, até o encontro das águas.

No trajeto de cerca de uma hora, contudo, o rio revelou seu lado ferido. Foi possível avistar, na beira d’água, as marcas visíveis da exploração de recursos naturais e de também do seu povo mais empobrecido por grandes indústrias, portos e áreas sem a devida proteção. A Irmã Marines Cantelle sintetizou a dor da realidade: “Aqui é um lugar em que as pessoas sofrem muito com a exploração, de diversas formas”. O contraste entre a exploração e a vida, no entanto, era quebrado pela presença lúdica dos botos que pulavam ao redor da embarcação.

Sopra-me, vida em Teu Sopro, Paz inquieta e Esperança.

Após navegar pelas águas e assim experimentar o poder da natureza, criatura de Deus, que expressa em cada detalhe seu amor pela humanidade, pois deixa um traço de sagrado em tudo que criou, foi momento de chegar ao encontro das águas do rio Solimões e do rio Negro. Um espetáculo aos olhos: até os botos quiseram saudar os comunicadores e comunicadoras no coração da Amazônia. Assim começou a cerimônia de encerramento do 14º Muticom.

Com o chamamento do Espírito Santo, que veio sobre todos e todas que entoaram a prece: “Tu que sopras onde queres, Vento de Deus gerando vida, Sopra-me, sopra-me, Sopra-me, Sopro fecundo”. E assim, elementos de fé foram introduzidos no meio da embarcação: primeiro, a Sagrada Escritura, pois nela há vida, ensinamento, modelo de vivência e instrumento de mudança de comportamento. Depois, a entrada da Luz, do fogo, aceso em um ouriço da castanha-do-pará, chama que dá a vida e traz a paz, fogo que clareia as visões perante a indiferença e a destruição, para que se possa ter vida. Por fim, foram inseridos símbolos da Casa Comum, esteiras de palha com frases de destaque: Ecologia Integral, “Tudo está interligado” e a “Laudato Si’”. Plantas e cuias com água, símbolo do batismo, do compromisso, águas que limpam e que curam, água tão necessária para os viventes.

Leva-me em Boa Notícia sobre os telhados do medo

Então, houve a leitura do evangelho e uma breve orientação espiritual pelo cardeal arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner lembrou aos participantes que todos voltarão por caminhos diferentes, alguns pelas estradas, outros pelos rios, mas todos levarão a certeza da presença divina. “Tenhamos a certeza de que o Senhor nos acompanha, é Ele que nos acompanha mesmo quando achamos que Ele dorme”, afirmou. Para ele, assim como os amazônicos enfrentam o medo diante das águas agitadas, também os comunicadores e comunicadoras vivem suas próprias tempestades, especialmente diante das “intempéries” da sociedade atual. Mas reforçou com firmeza: “Ele não dorme, Ele está conosco”.

Aos pés do altar, em tom pastoral, o cardeal reiterou que é Cristo crucificado e ressuscitado quem dá sentido à missão dos comunicadores. “Porque é Ele também que anunciamos, é Ele o grande comunicador do Pai que nós desejamos comunicar”, disse. Diante de tantas “dificuldades e tantas agressões, tantas notícias falsas”, Dom Leonardo conclamou os participantes a se voltarem sempre a Jesus, para que sua presença oriente e ilumine cada gesto e cada palavra comunicada. “Aquilo que transmitimos seja esperança, seja consolo, seja samaritanidade, seja sempre motivo de elevação da dignidade da pessoa humana, mas também a dignidade de todos os seres”, declarou. E concluiu com fé: “O Senhor nos acompanhará sempre”, finalizou.

Faze-me todo janelas, Olhos abertos e abraço.

Assim, o cardeal convidou todos os presentes a assumirem um compromisso com uma comunicação transformadora e com a Igreja de Jesus. Pediu que, aqueles que assim desejassem, repetissem com ele em voz alta uma oração que resumia toda a essência debatida ao longo dos dias do evento. “Louvado sejas, meu Senhor”, assim começou, com o cântico de São Francisco de Assis sobre as criaturas, e continuou: “Como comunicadores e comunicadoras despertaremos para relações fraternas, reconhecendo que tudo está interligado”, e ainda: “Comunicaremos a paz para vivermos como irmãos e irmãs; ajudaremos a resgatar os abandonados e esquecidos que são a pupila de vossos olhos”, foi proclamado.

CLIQUE AQUI e leia todo o compromisso

Passa-me em torno das flores, Beijo de graça e ternura.

Dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, reforçou que, mais do que um ponto final, o evento representa um recomeço. “Estamos já, como disse o nosso arcebispo, terminando este encontro, mas retomando a missão.”

Segundo ele, a Comissão preparou uma mensagem especial para marcar esse momento de envio e que foi lida pelos assessores da comissão, Pe. Tiago e Osnilda Lima, a mensagem, voltada a todos os comunicadores e comunicadoras do Brasil, foi pensada especialmente para os participantes presentes no Muticom, mas também para todos os comunicadores e comunicadoras do Brasil.

CLIQUE AQUI e leia a carta final do 14º Muticom

A mensagem final do 14º Muticom, expressa o compromisso assumido por comunicadores e comunicadoras de todo o Brasil diante do desafio de unir comunicação e ecologia integral. O texto ressalta que a experiência no solo amazônico foi um verdadeiro encontro em torno de Jesus Cristo, o “comunicador por excelência do Pai”, promovendo unidade na diversidade.

Às vésperas da COP 30 e celebrando os 10 anos da encíclica Laudato Si’, a carta reforça que comunicar a partir do “Evangelho da Criação” é uma resposta urgente à crise socioambiental. O texto também destaca que ouvir o clamor dos povos da Amazônia, que é o clamor de toda a humanidade, deve inspirar os comunicadores a fazerem ecoar a Boa-nova com esperança e coragem, em todos os meios, sejam analógicos ou digitais. A mensagem se encerra com uma prece para que Maria, Mãe da Amazônia, e São Francisco de Assis inspirem a construção de um mundo justo, fraterno e sustentável.

Vento de Deus gerando vida, Sopra-me, sopra-me.

A sensação de dever cumprido e de inspiração era geral. Maysa Evelyn, de Parintins, resumiu o sentimento do grupo: “Renovador. Vamos voltar para casa cheios de ideias”, disse a comunicadora. O Muticom 2025 encerra-se, assim, com o compromisso de levar a Ecologia Integral e a transformação para todas as frentes de comunicação do país. Foram dias intensos, marcados por diálogos, encontros, novas amizades, debates e aprendizados, mas também por um tempo de recarregar o espírito para produzir uma comunicação que transforme a vida das pessoas e aprofunde a consciência coletiva no cuidado com a Casa Comum.

Sopra-me, Sopro fecundo.

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