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O desafio de ser comunicador de esperança

Sejam promotores de esperança. Sejam narradores de histórias do bem. O Papa Francisco lançou esse desafio aos comunicadores de todo o mundo, crentes e não crentes, por ocasião do Jubileu dedicado a eles. Aos comunicadores, portanto, não apenas aos jornalistas. Para o Papa, de fato, a comunicação não se limita à profissão, embora importante, do jornalismo. Sua visão da comunicação é de 360 graus: não se trata apenas da “produção de notícias”, mas de uma dimensão essencial do ser humano, que envolve coração e intelecto. É por isso que a comunicação da esperança, à qual Francisco se referiu neste Jubileu, torna-se um desafio urgente não apenas para os jornalistas, mas para todos aqueles que se preocupam em cuidar de uma humanidade cada vez mais ferida pela violência e pela injustiça.

Ao considerar o território da comunicação mais amplo do que o da informação, Francisco se liga idealmente àquele que, na esteira do Concílio, foi o promotor das Jornadas Mundiais das Comunicações Sociais: São Paulo VI. De fato, o Papa Montini – embora bem ciente do quanto a mídia influencia a vida das pessoas e da própria Igreja – queria que o evento anual fosse dedicado a todos os operadores da comunicação, não apenas aos profissionais da mídia. Assim como para seu amado predecessor, a comunicação para Francisco não é apenas um ato funcional. É a “matéria-prima” da existência humana, pois o homem é uma criatura amada por Deus, que se comunica com ele desde o início. De coração a coração. Toda comunicação humana está, portanto, inserida no círculo da comunicação divina.

De fato, desde o início de seu pontificado, Jorge Mario Bergoglio sempre enfatizou a importância da comunicação “com o coração”. Nas últimas mensagens para os Dias das Comunicações Sociais, ele repetiu essa fórmula: ouvir, falar, ver, mas sempre com o coração. Também em sua mensagem para a jornada de 2024, dedicada à Inteligência Artificial, ele quis enfatizar que, mesmo que as máquinas avancem em seu desenvolvimento tecnológico, nada pode substituir um coração humano que sente compaixão por seus semelhantes. Afinal, na Bíblia, quando se escreve “coração”, não estamos nos referindo apenas a um órgão, uma parte, mas ao centro do ser humano, o lugar onde nascem as emoções, os sonhos e os medos. Portanto, o coração é o todo do homem, não uma parte.

Na sua primeira Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, Francisco apontou o Bom Samaritano como o modelo do bom comunicador. A grande força desse exemplo, escreveu ele, é o “poder da proximidade”, ou seja, saber como se aproximar dos outros, especialmente daqueles que sofrem, sem preconceitos. E, portanto, assumir riscos. A comunicação que gera esperança, diz-nos agora o Papa com um apelo ao compromisso, não pode se limitar à transmissão de informações, mas deve ser capaz de entrar em uma relação profunda com o próximo, levando uma palavra de consolo e esperança. Em resumo, não basta comunicar a verdade, disse ele aos jornalistas de todo o mundo na Sala Paulo VI, é preciso também ser verdadeiro.

Mas o que o Papa quer dizer quando fala de esperança? Em primeiro lugar, ela não é uma ilusão para nos fazer sentir bem ou um anestésico para nos impedir de sofrer. Tampouco é uma visão otimista. A esperança, que para um cristão tem o rosto e o coração de Jesus, nos dá direção, nos faz olhar para cima com confiança em direção ao que ainda não podemos ver. Citando Václav Havel: o otimista acha que tudo vai dar certo; aquele que tem esperança, por outro lado, sabe que – mesmo que tudo não esteja dando certo – tudo tem um significado. Uma direção, de fato. A esperança, para o Papa Francisco, é um dom que vem de Deus. Mas também é uma tarefa, como Madeleine Delbrêl apontou, que nos chama a assumir o que é descartado. Portanto, a esperança cristã – como o Pontífice lembrou com paixão na missa da Noite de Natal, imediatamente após abrir a Porta Santa em São Pedro – nos deixa inquietos, nos sacode de nossa preguiça, quebra nossas convicções confortáveis. É uma virtude “arriscada”. É um ato de responsabilidade para com os outros.

Então, o que os comunicadores, a começar por aqueles de inspiração cristã, podem fazer por essa caminhada de esperança, da qual, como nos diria Charles Peguy, não podemos prescindir se quisermos viver plenamente nossa aventura como cristãos? Em sua Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais deste ano jubilar, o Papa Francisco destaca como, em um mundo marcado pela desinformação, a comunicação deve voltar a ser um canal pelo qual transita a esperança. No Angelus do último domingo (26/01), saudando os comunicadores presentes na Praça, pediu-lhes que fossem “narradores de esperança”. E no dia seguinte, reunido com os responsáveis da comunicação das Conferências Episcopais de diferentes países, acrescentou uma peça a esse mosaico ao dizer que “todo cristão é chamado a ver e contar as histórias do bem que o mau jornalismo pretende apagar dando espaço apenas ao mal”.

comunicação da esperança, para o Papa, é exatamente isso: buscar e contar histórias do bem. Colocar no centro das atenções as experiências de esperança vividas todos os dias por pessoas comuns, por aqueles santos ao lado dos quais ele nos falou tantas vezes nos últimos anos. Em uma época que parece se esquecer dos últimos, o Papa nos convida a dar voz justamente àqueles que não desistem e trazem à tona aquelas centelhas de luz que brilham até mesmo nos cantos mais escuros da humanidade. O Papa nos exorta a procurar essas pepitas de esperança, mesmo que estejam incrustadas na lama. Esse é um compromisso para o Ano Santo, mas que deve continuar depois. Porque, como ele disse uma vez, “toda história é grande e digna, e mesmo que seja feia, se a dignidade estiver escondida, ela sempre pode emergir”.

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