Sínodo dos Bispos
O Sínodo dos Bispos se encerrou no final de outubro de 2024. Foram duas etapas de muita oração, reflexão, discussões de temas e “acolhimento no Espírito”. Coloco a disposição de todos e todas a Saudação final que o Papa Francisco fez no encerramento dos trabalhos em Roma. Agora se inicia a fase mais importante: a colocação em prática em todas as Igrejas locais das indicações pastorais do Sínodo sobre a Sinodalidade. Boa leitura a todos os interessados e atentos à voz da Igreja e do Papa.
Diz o Papa:
“Queridos irmãos e irmãs, com o Documento Final recolhemos o fruto de anos, pelo menos três, nos quais nos colocámos à escuta do Povo de Deus para compreender melhor como ser “Igreja sinodal”, à escuta do Espírito Santo, neste tempo. As referências bíblicas que abrem cada capítulo, organizam a mensagem cruzando-a com os gestos e as palavras do Senhor Ressuscitado, que nos chama a ser testemunhas do seu Evangelho mais com a vida do que com as palavras.
O Documento que votámos é um tríplice dom:
- Para mim, Bispo de Roma (ao convocar a Igreja de Deus em Sínodo, estava consciente de que precisava de vós, Bispos e testemunhas do caminho sinodal: obrigado!). Também o bispo de Roma, recordo-me a mim mesmo com frequência e a vós, precisa de praticar a escuta, ou melhor, quer praticar a escuta, para poder responder à Palavra que lhe repete todos os dias: «Confirma os teus irmãos e irmãs… Apascenta as minhas ovelhas».
A minha tarefa, bem o sabeis, é guardar e promover – como nos ensina São Basílio – a harmonia que o Espírito continua a difundir na Igreja de Deus, nas relações entre as Igrejas, apesar de todos os cansaços, tensões e divisões que marcam o seu caminho rumo à plena manifestação do Reino de Deus, que a visão do Profeta Isaías nos convida a imaginar como um banquete preparado por Deus para todos os povos. Todos, na esperança de que não falte ninguém. Todos! Ninguém fique de fora! Todos! E a palavra-chave é esta: a harmonia, que é obra do Espírito; a Sua primeira manifestação forte, na manhã de Pentecostes, é harmonizar todas aquelas diferenças, todas aquelas línguas, todas aquelas coisas… Harmonia! E é isso que o Concílio Vaticano II ensina quando diz que a Igreja é “como sacramento”: ela é sinal e instrumento da espera de Deus, que já preparou a mesa e está a aguardar. A sua Graça, por meio de seu Espírito, sussurra palavras de amor no coração de cada um. A nós, cabe-nos amplificar a voz desse sussurro, sem obstruí-la; abrir portas, sem erguer muros. Quanto mal causam os homens e mulheres da Igreja quando erguem muros! Não nos devemos comportar como “dispensadores da Graça” que se apropriam do tesouro, amarrando as mãos do Deus misericordioso. Lembrai-vos de que começamos esta Assembleia sinodal pedindo perdão, sentindo vergonha, reconhecendo que somos todos “misericordiados”.
Há um poema de Madeleine Delbrêl, a mística das periferias, que exortava: «acima de tudo, não sejas rígido» (a rigidez é um pecado que tantas vezes afeta clérigos, consagrados e consagradas); leio-vos alguns de seus versos que são uma oração. Ela diz assim:
Porque penso que talvez já te tenhas cansado
de pessoas que falam, sempre, sobre servir-te com ar de líder,
conhecer-te com ar de professor,
alcançar-te com regras desportivas,
amar-te como se ama num casamento envelhecido…
Faz-nos viver a nossa vida,
não como um jogo de xadrez, em que todos os movimentos são calculados,
não como uma partida em que tudo é difícil,
não como um teorema que nos faz quebrar a cabeça,
mas como uma festa sem fim em que se renove o encontro contigo,
como um baile,
como uma dança,
entre os braços da tua graça,
na música que enche o universo de amor
Esses versos podem tornar-se a música de fundo com a qual podemos acolher o Documento Final. E agora, à luz do que emergiu a partir do caminho sinodal, há e haverá decisões a serem tomadas. Neste tempo de guerras, devemos ser testemunhas da paz, aprendendo também a dar forma real ao convívio das diferenças.
Por isso, não tenho intenção de publicar uma “exortação apostólica”. É suficiente aquilo que aprovámos. No Documento há já indicações muito concretas que podem servir de guia para a missão das igrejas, nos diversos continentes, nos diversos contextos: por isso, coloco-o imediatamente à disposição de todos. Por isto, disse que seja publicado. Quero, deste modo, reconhecer o valor do caminho sinodal realizado, que através deste Documento entrego ao santo povo fiel de Deus. Sobre alguns aspetos da vida da Igreja indicados no Documento, bem como sobre os temas confiados aos dez “Grupos de Estudo”, que devem trabalhar com liberdade para me apresentarem propostas, é necessário tempo para chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja. Por isso, continuarei a escutar os Bispos e as Igrejas que lhes estão confiadas.
Não se trata de adiar indefinidamente as decisões. É o que corresponde ao estilo sinodal com que deve ser exercido também o ministério petrino: escutar, convocar, discernir, decidir e avaliar. E nestes passos, são necessárias as pausas, os silêncios e a oração. É um estilo que estamos a aprender juntos, um pouco de cada vez. O Espírito Santo chama-nos e sustenta-nos nesta aprendizagem, que devemos compreender como um processo de conversão. A Secretaria Geral do Sínodo e todos os Dicastérios da Cúria ajudar-me-ão nesta tarefa.
- O Documento é um dom para todo o Povo fiel de Deus, na variedade das suas expressões. É evidente que nem todos o lerão: sereis sobretudo vós, juntamente com muitos outros, que tornareis acessível o seu conteúdo nas Igrejas locais. O texto, sem o testemunho da experiência vivida, perderia muito do seu valor. 3. Queridos irmãos e irmãs, aquilo que vivenciamos é um dom que não podemos guardar para nós mesmos. O impulso que vem desta experiência, da qual o Documento é um reflexo, dá-nos a coragem de testemunhar que é possível caminhar juntos na diversidade, sem condenar-nos uns aos outros.
Vimos de todas as partes do mundo, marcados pela violência, pela pobreza, pela indiferença. Juntos, com a esperança que não desilude, unidos no amor de Deus difundido nos nossos corações, podemos não só sonhar com a paz, mas empenharmo-nos com todas as nossas forças para que, mesmo sem falar muito de sinodalidade, a paz se realize através de processos de escuta, de diálogo e de reconciliação. A igreja sinodal para a missão precisa, agora, que as palavras partilhadas sejam acompanhadas de atos. Este é o caminho! Tudo isto é um dom do Espírito Santo: é Ele que faz harmonia; é Ele que é harmonia. São Basílio tem uma teologia muito bela sobre isso. Se podeis, lede o tratado de São Basílio sobre o Espírito Santo, que é a harmonia. Irmãos e irmãs, que a harmonia continue mesmo quando sairmos desta sala, e que o Sopro do Ressuscitado nos ajude a partilhar os dons que recebemos.
E lembrem-se – são novamente as palavras de Madeleine Delbrêl – que “há lugares onde o Espírito sopra, mas há um Espírito que sopra em todos os lugares”. Obrigado a todos vós, agradecemo-nos uns aos outros. Agradeço o Cardeal Grech, Secretário (do Sínodo); o Cardeal Hollerich, pelo trabalho feito; os dois secretários, Ir. Nathalie e D. San Martín, que fizestes bem; e os dois “rapazes caprichosos”, Pe. Costa e Pe. Battocchio, que nos ajudaram tanto; saúdo todos estes que trabalharam “nos bastidores”, que ficam por detrás, e que sem eles não poderíamos ter feito tudo isto. Muito obrigado! Que o Senhor vos abençoe! E rezemos uns pelos outros. Obrigado!”
Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB
Bispo Diocesano
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