O Santo Padre destacou que o Jubileu sempre representou na vida da Igreja um acontecimento de grande relevância espiritual, eclesial e social. Desde que Bonifácio VIII, em 1300, instituiu o primeiro Ano Santo, o fiel e santo povo de Deus viveu esta celebração como um dom especial da graça, caraterizado pelo perdão dos pecados e, em particular, pela indulgência – expressão plena da misericórdia de Deus.
Preocupado que o Jubileu de 2025 seja preparado da melhor maneira possível, o Pontífice confiou a responsabilidade de preparar e coordenar o evento ao arcebispo Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
Confira abaixo a entrevista da agência Vatican News com o arcebispo Rino Fisichella.
O Papa descreve o próximo Ano Santo como “um momento de renascimento”. Será um Jubileu encarnado em tempos de pós-pandemia?
Fisichella: Não podemos nos esquecer de que este, ao contrário do Jubileu de 2016, é um Jubileu ordinário e, na história da Igreja, os Anos Santos ordinários foram muitas vezes encarnados em eventos históricos contemporâneos. Pensemos no Jubileu dos anos 50, quando Pio XII quis reconstruir um clima de confiança depois da Segunda Guerra Mundial, ou no Jubileu de 1975, que Paulo VI o imaginou como um momento de profunda unidade dentro da Igreja, depois das tensões pós-conciliares. Pensemos então no Jubileu do ano 2000, que representou a entrada da Igreja no terceiro milênio de sua história. Hoje, o Papa Francisco nos diz explicitamente que vivemos – e ainda estamos vivendo – meses de fragilidade e medo, nos quais tocamos com nossas próprias mãos a incerteza e infelizmente também a morte. Por isso, devemos olhar para o futuro e como construir os próximos anos.
Francisco o define como um “dom da graça”, mas o que significa um ano jubilar para o povo de Deus?
Fisichella: Acredito que devemos focalizar na própria natureza do Jubileu. Esse prazo, que ocorre a cada 25 anos, lembra aquela estabilidade nas Sagradas Escrituras do Livro do Levítico. É o tempo da conversão, do descanso, o tempo em que se entra numa relação mais íntima com Deus, consigo mesmo e com a criação. Este sempre foi o Ano Santo. Se pensarmos que nas indicações dadas por Levítico – um dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento – encontramos explicitamente escrito que os homens, a terra e os animais terão que descansar, as propriedades retornarão aos proprietários originais. O Jubileu é um ato de justiça e é um pouco como quando o agricultor vira os torrões de terra para semear novamente. Aqui o Jubileu é precisamente isto: uma renovação da nossa vida para poder semear algo que nos faça recuperar a confiança e nos permita reconstruir as relações interpessoais.
Francisco espera que o próximo Ano Jubilar também seja celebrado como uma ocasião para “contemplar a beleza da criação e cuidar da nossa casa comum”. Isso também caracterizará o desenrolar deste Ano Santo?
Fisichella: Eu realmente acho que sim. Esses são os temas muito queridos ao Papa Francisco e ilustrados em suas encíclicas Laudato si e Fratelli tutti. Nesse sentido, a dimensão da peregrinação é o que se exige. O Jubileu deve ser preparado e vivido à luz da peregrinação, ou seja, do “caminhar a pé”. Isso significa, mais uma vez, sublinhar o contato do homem com a natureza, com o que o circunda. A história das peregrinações nos ensina que sempre foram momentos de grande força espiritual, porque na peregrinação o homem entra profundamente em si mesmo. São momentos de silêncio, de oração, mas também de esforço em que se procura a ajuda de outros peregrinos, mas em que se contempla a beleza da natureza. Portanto, a dimensão da peregrinação favorece de certa forma a contemplação. E pelo caminho chega-se à Porta Santa, para cruzar o seu limiar e assim encarnar, através deste sinal, o significado profundo do que representa o Jubileu.
O Jubileu de 2025 será uma ocasião para acolher muitos peregrinos de todo o mundo em Roma após a pandemia. Então, do ponto de vista logístico, uma oportunidade de relançamento para a cidade?
Fisichella: Certamente, mas não apenas para a capital. Os peregrinos virão principalmente a Roma, mas depois de Roma – como se sabe – irão também para outras grandes cidades italianas que são metas culturais e artísticas, metas de experiências religiosas. Assim, se Roma é a primeira a se preparar para o acolhimento, com o Jubileu, de alguma forma, o mundo inteiro é posto em movimento. Não nos esqueçamos de que estes anos de pandemia tiveram um sério impacto nas viagens, nas viagens ferroviárias, aéreas e marítimas. Não só no setor do turismo, mas também nas viagens de estudo e trabalho, tudo parou. Portanto, este Jubileu para Roma, para a Itália e para o mundo constitui um autêntico despertar. Uma oportunidade para retomar a vida de sempre, a do cotidiano, mas também para redescobrir os ritmos de encontro entre as pessoas. Claro que Roma deve ser a primeira a estar pronta para o acolhimento.
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