Um conjunto de iniciativas fortalece a participação nas eleições 2022 e reforça a política como expressão da caridade
Aproximam as eleições gerais no Brasil em 2022 agendadas para o próximo dia 2 de outubro, quando acontece o primeiro turno, e 30 de outubro, em caso de um segundo turno. Nesses dias, serão eleitos o presidente, o vice-presidente, senadores e deputados federais, bem como governadores e deputados estaduais.
Esse ano, algumas iniciativas foram desenvolvidas pelas Comissões, Organismos e Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na linha de qualificar a cidadania e a participação dos católicos no processo político eleitoral, tendo em vista o amadurecimento da escolha de representantes que vão influir na elaboração de leis e na proposição e execução de políticas públicas que determinarão a vida dos brasileiros e brasileiras a partir de janeiro de 2023.
Em artigo recente, o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor de Oliveira Azevedo, associou estas iniciativas à “Política melhor”, expressão cunhada pelo Papa Francisco em sua Carta Encíclica Fratelli Tutti, que aponta para a importância de qualificar a política.
O presidente da CNBB destaca que há, na Igreja no Brasil, um conjunto de esforços e investimentos para encantar a política – isto é, fazer dela, sempre mais, um serviço alicerçado na qualificada cidadania, promovendo dinâmicas que garantam justiça e igualdade, uma compreensão que articule as diferenças como riquezas na democracia. Nesta direção, dom Walmor defende a possibilidade de se fazer da política um instrumento para a promoção de valores inegociáveis, como por exemplo a defesa da vida, em todas as suas etapas.
O arcebispo de Belo Horizonte (MG) defende que a política genuína é expressão da caridade e busca a promoção do bem comum. “Assim, a formação política promovida pela Igreja é apartidária, sem vínculo com candidatos ou ideologias, respeita a autonomia e liberdade de cada pessoa na definição do voto. Trata-se de uma contribuição para que a fé, adequadamente vivida na sua dimensão místico-profética, ilumine escolhas conscientes, capazes de promover mais justiça, solidariedade e paz”, disse. O arcebispo defende ainda a participação dos leigos na vida política como forma de resgatar o nobre sentido do exercício da função da política como caridade.
Projeto Encantar a Política
Uma das inciativas em curso é o projeto “Encantar a Política” lançado em abril deste ano por um conjunto de forças da Igreja. Além da elaboração de uma cartilha de estudo, que servirá de subsídio, o projeto organizou um curso sobre planejamento de campanha, já iniciado e com fila de espera; e a realizou de um seminário nacional, de 13 a 15 de maio, em Brasília, com o objetivo de capacitar multiplicadores e parceiros, para que todos os estados brasileiros sejam atingidos.
São parceiros na realização do projeto, as comissões episcopais para o Laicato e Ação Sociotransformadora da CNBB, o Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (Cefep), a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), o Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a 6ª Semana Social Brasileira, o Conselho Nacional do Laicato do Brasil e outras organizações.
De acordo com o presidente da Comissão Episcopal para o Laicato da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e bispo da diocese de Tocantinópolis (GO), dom Giovane Pereira de Melo, a iniciativa vai para além das eleições 2022. “Este é um projeto de formação política permanente, que nós desejamos que contribua durante as próximas eleições”, disse.
O projeto retoma, nos subsídios elaborados, questões centrais das encíclicas do Papa Francisco – Laudato Sí, Fratelli Tutti e da exortação pós-sinodal Evangelii Gaudium, que tratam, entre outros temas, da alegria do Evangelho, do cuidado com a Casa Comum (meio ambiente) e abordam a Política como uma decorrência ética do mandamento do amor.
Mas por que Encantar a Política? Segundo o doutor em Direitos Humanos, Ciências Sociais e coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, Robson Sávio Reis Souza, é preciso sim reencantar a política no Brasil, pois a mesma passou por um processo de criminalização.
De acordo com o pesquisador, a partir de 2013, ocorreu um sistemático ataque contra todo o sistema político, principalmente partidário. O pesquisador ressalta que esse processo de criminalização da política produziu uma aversão da politica por parte da população, com aumento do absenteísmo eleitoral, votos brancos, nulos e abstenções.
Com isso, conforme Robson, fortaleceu-se a ideia de que qualquer pessoa que ocupa um cargo público é corrupta e acabou redundando numa apropriação dos espaços políticos por pessoas eleitas com o discurso da antipolítica. “Observamos nos parlamentos, da câmara de vereadores até o Congresso Nacional, uma geração de políticos que não têm nenhum compromisso com os princípios basilares da democracia, do Estado de direito; com a defesa de igualdade, da dignidade humana, justiça e paz social”, refletiu.
Campanha “Eu voto pela Amazônia”
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), Organismo vinculado a CNBB, em maio deste ano, a Campanha #EuVotoPelaAmazonia, com o objetivo de ajudar os cristãos e a sociedade em geral a refletir sobre a importância de eleger políticos e governos comprometidos com a Ecologia Integral, a agroecologia, a justiça socioambiental, o bem-viver e os direitos dos povos e de seus territórios.
A Campanha vendo sendo mobilizada desde maio com término previsto agora setembro e está desenvolvendo várias ações de conscientização como rodas de conversa sobre a Amazônia e eleições, reflexões, vídeos, materiais para redes sociais e roteiro de celebrações para as comunidades de dentro e de fora da Amazônia. Foi realizada, também, uma Vígilia no Dia da Amazônia, comemorado em 5 de setembro.
De acordo com o arcebispo de Porto Velho (RO) e secretário da REPAM, dom Roque Paloschi, as eleições são um espaço fundamental para o exercício da cidadania e o momento durante o qual o povo decide os rumos de sua história e salvaguarda a democracia. “Para isso, é importante uma educação integral de todos nós, povo brasileiro. Educação que ajude a fazer escolhas conscientes e pelo bem da coletividade.
Papo de jovem: Juventude & Política
Durante o mês de agosto, a Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB convidou as juventudes do Brasil para a série especial “Papo de Jovem: Juventude & Política”. Os temas que abordados: Sistema Político Brasileiro; Compromisso com a Verdade; Amizade Social e Divisão; Igreja e Política; e Cidadania e Protagonismo.
O objetivo é, em ano eleitoral, proporcionar aos jovens um aprofundamento sobre política e, ao mesmo tempo, uma reflexão se seus direitos como cidadão são reconhecidos. Semanalmente, no site e nas redes sociais do Jovens Conectados, está sendo disponibilizado um vídeo e um subsídio “Encontros” sobre o tema. O primeiro episódio foi divulgado em 1º de agosto.
O bispo de Valença (RJ) e presidente da Comissão, dom Nelson Francelino, salienta a importância dos jovens serem protagonistas da mudança em uma sociedade desencantadora para as juventudes, como a qual vivemos. “Nossa juventude é chamada a sair e se aprofundar no tema das políticas públicas, que chama toda a sociedade para resolver, dialogar e para aprofundar determinadas situações. É muito importante nesse período eleitoral não nos omitir, mas sair com ideias claras em sintonia com o Evangelho e missão da nossa juventude católica, que se compromete com a justiça e com a vida”, diz o bispo.
Curso on-line “Fake News, Religião e Política”
De 8 a 12 de agosto foi realizado o curso on-line “Fake News, Religião e Política” com a formação de 200 lideranças católicas de todo o país. Tendo em vista o aumento substancial da disseminação de notícias falsas, o objetivo do curso foi “oferecer uma formação aos agentes da Pascom, de outras pastorais, movimentos e organismos da Igreja para que desenvolvam a habilidade de checagem de notícias, exerçam a atitude cristã de propagação da verdade e formem uma rede de checadores de notícias no âmbito eclesial”.
O curso foi oferecido pela Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, a Assessoria de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Pastoral da Comunicação (Pascom-Brasil), em parceria com os Jovens Conectados, com a Bereia – Informação e Checagem de Notícias e com a PUC Minas, por meios de seus núcleos Anima, Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) e Núcleo de Estudos em Comunicação e Teologia (Nect).
O bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, considera que “estamos assustados com diversas situações de nosso tempo, presentes no mundo e, é claro, também no Brasil. Dentre elas, a disseminação de notícias falsas, as chamadas fake news”.
Segundo dom Joel, trata-se de um fenômeno assustador, que, visando a fragilização das pessoas e da sociedade, deve ser identificado, compreendido e rejeitado com toda veemência. Para o secretário geral da CNBB, o compromisso com a verdade é uma exigência cristã, sem dúvida. “Diz respeito, entretanto, a todas as pessoas, independentemente da crença que possua, pois, quando abrimos mão da verdade, abrimos igualmente mão de nossa própria condição humana”, defende.
Cartilha de Orientação Política inspirada na Fratelli Tutti
Como já é uma tradição no regional Sul 2 da CNBB´, este ano, tendo em vista as Eleições 2022, o regional preparou a publicação: “Cartilha de Orientação Política 2022”, subsídio apartidário que trata sobre política na sua essência, sem posicionamento partidário ou ideológico.
A publicação reforça a posição da Igreja Católica e da CNBB, que não se identificam com nenhum partido ou ideologia política, mas são comprometidas com a democracia e o bem comum, com o objetivo de que todos tenham condições de viver com dignidade, desde a sua concepção até o seu fim natural.
Os valores de uma autêntica política, como a busca do bem-comum, que visa garantir vida digna a todos, são comuns também ao Evangelho e a Doutrina Social da Igreja. Sendo assim, como define o Papa Francisco, a política é muito nobre e é uma das mais altas formas de se viver a caridade. Por isso, a Igreja é um espaço aberto para acolher a todos, independente das opções político-partidárias, para um incansável diálogo sempre em vista do bem-comum.
Podcasts: “A política melhor”
Todos os temas da cartilha foram aprofundados por meio de uma série de podcasts, intitulada: “A política melhor”. Com o apoio da Pascom Brasil, da Signis Brasil e da Rede Católica de Rádio, semanalmente, a partir do dia 28 de abril, foram publicadas entrevistas, nas quais foram aprofundados os temas da cartilha.
Ao todo são 20 episódios, publicados semanalmente às quintas-feiras, para os quais foram convidados especialistas e peritos para abordar os temas da cartilha. O episódio de estreia foi com o tema “A Igreja Católica e a Política”, abordado pelo secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado.
Outros episódios abordaram temas como “A importância do voto”, “A importância do TSE e dos TREs”, “O sistema eleitoral brasileiro”, “A política em favor da vida integral”, “Ameaças à Democracia: Fake News”, “Votar no Brasil: a urna eletrônica é segura?”, “Participação das mulheres, jovens e leigos na política”, entre outros.
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