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A Voz do Pastor › 29/05/2020

O Espírito Santo e a Igreja

A Constituição Dogmática “Lumem Gentium”, do Concílio Ecumênico Vaticano II, quando fala da Igreja, apresenta a presença do Espírito Santo na realidade eclesial.

Diz-nos o Concílio: “consumada a obra que o Pai confiou ao Filho para Ele cumprir na terra (cfr. Jo. 17,4), foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes, para que santificasse continuamente a Igreja e deste modo os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito (cf. Ef. 2,18). Ele é o Espírito de vida, ou a fonte de água que jorra para a vida eterna (cf. Jo. 4,14; 7, 38-39); por quem o Pai vivifica os homens mortos pelo pecado, até que ressuscite em Cristo os seus corpos mortais (cf. Rom. 8, 10-11). O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá testemunho da adoção de filhos (cf. Gál. 4,6; Rom. 8, 15-16. 26).

A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cf. Jo. 16,13) e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos (cf. Ef. 4, 11-12; 1 Cor. 12,4; Gál. 5,22). Pela força do Evangelho rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente e leva-a à união perfeita com o seu Esposo. Porque o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: «Vem» (cf Apoc. 22,17)! Assim a Igreja toda aparece como «um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”

O filho de Deus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte e ressurreição, remiu o homem e transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2 Cor. 5,17). Pois, comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos os Seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o Seu Corpo. É nesse corpo que a vida de Cristo se difunde nos que creem, unidos de modo misterioso e real, por meio dos sacramentos, a Cristo padecente e glorioso.

Com efeito, pelo Batismo somos assimilados a Cristo; «todos nós fomos batizados no mesmo Espírito, para formarmos um só corpo» (1 Cor. 12,13). Por este rito sagrado é representada e realizada a união com a morte e ressurreição de Cristo: «fomos sepultados, pois, com Ele, por meio do Batismo, na morte»; se, porém, «nos tornamos com Ele um mesmo ser orgânico por morte semelhante à Sua, por semelhante ressurreição o seremos também (Rom. 6, 4-5).

Ao participar realmente do corpo do Senhor, na fração do Pão Eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós. «Porque há um só pão, nós, que somos muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos do único pão» (1 Cor. 10,17). E deste modo nos tornamos todos membros desse corpo (cfr. 1 Cor. 12,27), sendo individualmente membros uns dos outros» (Rom. 12,5). E assim como todos os membros do corpo humano, apesar de serem muitos, formam um só corpo, assim também os fiéis em Cristo (cf. 1 Cor. 12,12). Também na edificação do Corpo de Cristo existe diversidade de membros e de funções. É um mesmo Espírito que distribui os seus vários dons segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios para utilidade da Igreja (cfr. 1 Cor. 12, 1-11).

Entre estes dons, sobressai a graça dos Apóstolos, a cuja autoridade o mesmo Espírito submeteu também os carismáticos (cf 1 Cor. 14). O mesmo Espírito, unificando o corpo por si e pela sua força e pela coesão interna dos membros, produz e promove a caridade entre os fiéis. Daí que, se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se algum membro recebe honras, todos se, alegram (cf. 1 Cor. 12,26).

A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus invisível e n’Ele foram criadas todas as coisas. Ele existe antes de todas as coisas e todas n’Ele subsistem. Ele é a cabeça do corpo que é a Igreja. É o princípio, o primogênito de entre os mortos, de modo que em todas as coisas tenha o primado (cf. Col. 1, 15-18).

Pela grandeza do Seu poder domina em todas as coisas celestes e terrestres e, devido à Sua supereminente perfeição e ação, enche todo o corpo das riquezas da Sua glória (cf. Ef. 1, 18-23). Todos os membros se devem conformar com Ele, até que Cristo se forme neles (cf. Gál. 4,19). Por isso, somos assumidos nos mistérios da Sua vida, configurados com Ele, com Ele mortos e ressuscitados, até que reinemos com Ele (cf. Fil. 3,21; 2 Tim. 2,11; Ef. 2,6; Col. 2,12; etc.).

Ainda peregrinos na terra, seguindo as Suas pegadas na tribulação e na perseguição, associamo-nos nos seus sofrimentos como o corpo à cabeça, sofrendo com Ele, para com Ele sermos glorificados (cf. Rom. 8,17).

Cristo ama a Igreja como esposa, fazendo-se modelo do homem que ama sua mulher como o próprio corpo (cf. Ef. 5, 25-28); e a Igreja, por sua vez, é sujeita à sua cabeça (ib. 23-24). «Porque n’Ele habita corporalmente toda a plenitude da natureza divina» (Col. 2,9), enche a Igreja, que é o Seu corpo e plenitude, com os dons divinos (cfr. Ef. 1, 22-23), para que ela se dilate e alcance a plenitude de Deus (cfr. Ef. 3,19)” (LG 4 a 8).

O Espírito Santo é, pois, a força dos profetas, dos apóstolos e dos mártires: “Eu estou cheio de força com o espírito do Senhor, espírito de justiça e de coragem”, exclama Miquéias (Mq 3,8) e Paulo diz: “Deus, na verdade, concedeu-nos um Espírito, não de timidez, mas de força” (2Tm 1,7).

Falando dos cristãos que eram obrigados a lutar com as feras na arena, Tertuliano chama ao Espírito Santo: “O treinador dos mártires” e Cirilo de Jerusalém, por seu lado escreve: “Os mártires dão o seu testemunho graças à força do Espírito Santo”.

Nestes tempos difíceis que estamos vivendo, de pandemia, injustiças, de tanta falta de verdade e de ética, de negociatas com a vida das pessoas, fica bem recordar a presença do Espírito Santo no coração daqueles que são de Deus, para que permaneçam firmes na verdade, na justiça e no compromisso com os irmãos e irmãs.

E só possui, de verdade, o Espírito Santo quem tem intimidade com Deus. São Basílio nos diz que: “é o Espírito Santo quem cria a intimidade com Deus”. Isso aparece claro na Carta aos Efésios: “É por meio dele [Cristo] que, uns e outros, podemos apresentar-nos ao Pai num só Espírito. Portanto já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas sois concidadãos dos santos e familiares de Deus… É Nele que também vós, juntamente com os outros, sois integrados na construção para formardes a morada de Deus por meio do Espírito (Ef 2, 18-22).

Peçamos insistentemente para que o Espírito Santo habite em nós e assim possamos ser pessoas tementes a Deus, possamos ser verdadeiros em nosso agir e em nosso pensar. Possamos ser de Deus em tudo e em todas as situações, como nos diz São João, em sua primeira carta.

É certo que quem é conduzido pelo Espírito Santo de Deus não realiza as obras do mal, nem do espírito do mal: paixões desordenadas, roubos, desvios, mentiras, falcatruas, enganações, perversidades etc. Quem é conduzido pelo Espírito Santo, tem compromissos com: a justiça, a verdade, a caridade, o amor, a misericórdia, a vida santa, os bons costumes, a solidariedade… Tudo que é de Deus e que remete a Deus.

Façamos nossas as palavras do Santo Papa Paulo VI em sua oração ao Espírito Santo, proposta em sua Carta Apostólica “Ecclesiam Suam”:

“Ó Espírito Santo,
dai-me um coração grande,
aberto à vossa silenciosa e forte palavra inspiradora,
fechado a todas as ambições mesquinhas,
alheio a qualquer desprezível competição humana,
compenetrado do sentido da santa Igreja!
Um coração grande,
desejoso de se tornar semelhante,
ao coração do Senhor Jesus!
Um coração grande e forte
para amar a todos, para servir a todos, para sofrer por todos!
Um coração grande e forte
para superar todas as provações,
todo tédio, todo cansaço, toda desilusão, toda ofensa!
Um coração grande e forte,
constante até o sacrifício, quando for necessário!
Um coração cuja felicidade
é palpitar com o coração de Cristo
e cumprir humilde, fiel e radicalmente, a vontade do Pai.
Amém.”

Feliz Solenidade de Pentecostes, presença do Espírito Santo na vida da Igreja e em nossa vida.

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Dom José Valmor Cesar Teixeira, SDB

Bispo Diocesano de São José dos Campos

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