A COVID-19 e a Bíblia
Em situações difíceis e misteriosas que afligem o ser humano, como a atual ameaça do Coronavírus, um grande desejo que há em todos – depois da solução para esse mal, é claro! –, é encontrar o porquê de sua existência.
Nem sempre é possível dar uma resposta satisfatória a essa pergunta. Há, certamente, muitos fatores que contribuíram para que estejamos passando pela pandemia atual. Deixemos que os pesquisadores e cientistas ocupem-se da tarefa de explicar a origem desse novo vírus, tão ameaçador. Para nós, o mais importante é contribuir para que ele não se dissemine e tirar algumas lições das dificuldades que esse tempo tem-nos apresentado.
Infelizmente, em momentos como este, não faltam os que se acham intérpretes dos grandes mistérios da vida e que apresentam-se, sobretudo nas redes sociais, com o intuito de ajudar, mas, de fato, confundem as pessoas.
Esses pseudo-profetas buscam a explicação para a existência do mal em nível sobrenatural, fundamentados, na maioria das vezes, na Bíblia, desde uma leitura fundamentalista e forçada. Com isso surgem outras perguntas em muitos: “É verdade que tudo isso está escrito na Bíblia?”; “Quais as passagens bíblicas que anunciam que isto aconteceria?”
Podemos responder, sem medo de errar, que a Bíblia não fala da COVID-19 e nem de nenhuma outra desgraça dos tempos atuais. Alguns argumentos dessa afirmação são os seguintes:
1. Bíblia não é um livro que narra os acontecimentos futuros e menos ainda as desgraças que acontecem ao longo da história da humanidade. Ela é um conjunto de escritos, inspirados por Deus, que registram a experiência de fé de um povo (os judeus), num longo período de, pelo menos, 2000 anos. Essa experiência diz respeito ao modo como Deus foi se dando a conhecer a esse povo e à resposta que foi sendo dada à revelação divina, constituída de acertos e de erros. A relação de Deus com os judeus se dá na sua história concreta (em determinada época e lugar), com todas as suas características. Por isso, essa narrativa fala de lutas pela sobrevivência (busca de terra fértil, de lugares com água), de catástrofes naturais (secas, inundações), de doenças (lepra, peste), de vitórias e conquistas em disputas por territórios, de traições, de conspirações políticas etc. Junto com os fatos narrados há também a maneira como eram interpretados, válida para aquele contexto e época, mas não para hoje.
2. As Sagradas Escrituras são textos inspirados por Deus para animar o povo, de ontem e de hoje, em sua difícil caminhada e alertá-lo para a fidelidade n’Aquele, em quem “vivemos, nos movemos e existimos” (cf. At 17,28). Mesmo quando a Bíblia fala de acontecimentos negativos e catástrofes naturais, refere-se a fatos ocorridos naquele tempo. Dentro de uma mentalidade antiga, ainda não iluminada pela plenitude da Revelação que está em Jesus Cristo, os autores bíblicos interpretam estes fatos como castigos divinos. Porém, nem nestes casos, a Bíblia está ameaçando, mas fazendo refletir que o agir humano, se não for de acordo com o projeto divino, termina em destruição e sofrimento do indivíduo, da comunidade e da sociedade.
3. Como Palavra de Deus, a Bíblia é um livro que infunde esperança e gera vida nova. Não se presta, portanto, a ser um compêndio de anúncios de desgraças. Jesus Cristo deixou claro, por palavras e gestos que Deus ama e salva o mundo (cf. Jo 3,16-17).
Sem pretender ser exaustivos em nossa reflexão, com esses poucos argumentos – esperamos que convincentes, dentro de uma experiência de fé –, quisemos mostrar que não podemos ler a Bíblia de modo fundamentalista, esperando que ela confirme o que pensamos ou explique o que é misterioso para nós.
O momento atual não deve ser de querer encontrar fundamentação bíblica para explicar o que estamos vivendo, mas de buscar nas Sagradas Escrituras a sabedoria e a esperança que animaram tantas pessoas em tempos de dificuldades e em situações semelhantes ou piores do que a nossa. A Bíblia é um livro sempre atual, porque transmite a Palavra de Deus, viva e eficaz.
As belas e profundas palavras do Papa Francisco, pronunciadas em Roma, no último dia 27 de março, nasceram de um texto bíblico presente em Mc 4,35-41. Foram palavras de ânimo destinadas a gerar confiança e esperança em Deus, que neste momento, encontra-se no barco de nossa história, agitado pela crise do Coronavírus, no qual estamos todos nós, cheios de medo e preocupação. Tais palavras serviram para encorajar-nos na certeza de que o Senhor do universo é nosso refúgio e porto seguro. Deus caminha com a humanidade ferida e ameaçada pela COVID-19, do mesmo modo como caminhou com o povo escolhido, ao longo de toda a Bíblia.
Pe. Edinei Evaldo Batista
Reitor do Seminário Diocesano Santa Teresinha. Mestre em Filosofia Sistemática.
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Sábias palavras do nosso professor da Faculdade Católica. Se me permite, concordo com as palavras do Prof. Ednei. Acrescentaria também se me permite, sem que esteja na Biblia, esta situação que estamos vivendo, deveríamos aproveitar para refletirmos o quanto nós humanos somos pequenos perante a Deus e a natureza que Ele criou. Um simples vírus prostrou a humanidade inteira pegando todos nós desprevenidos. O homem pode entender a natureza e até domina-la mas deve aproveitar a experiência e o sofrimento para o seu aprimoramento diante de Deus.
Eu achei lindo eu chorei ❤
Sabias e esclarecedoras palavras. Devemos encarar esta pandemia com um questionamento, ” O que devo mudar dentro de mim para agradar a Deus”?