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Notícias da Diocese › 15/06/2018

A consciência ambiental transformada em atitude

A proposta para o Dia Mundial do Meio Ambiente desse ano (comemorado sempre no dia 5 de junho) é acabar, ou ao menos diminuir, com a poluição plástica no planeta. Todos os anos, 8 milhões de toneladas de plástico entram nos oceanos, ameaçando a vida marinha e humana e destruindo os ecossistemas naturais. Entidades dialogam com o Estado e governos para ajudá-los a reconsiderar o uso de plástico, gerar soluções e ajudar a aumentar a conscientização.

Uma questão simples, e de fácil alcance de todos é a separação do lixo reciclável dentro de casa. Uma atitude barata e concreta e também de grande representação na tarefa de preservar a casa comum e ainda ajudar quem extrai dessa fonte, renda para o sustento da família.

Você já pensou no quanto teria ajudado na preservação do planeta com o lixo reciclável destinado incorretamente? Ou até mesmo, no valor financeiro que isso poderia ter retornado para você? Esse foi o pensamento do pároco da Paróquia Nossa Senhora do Paraíso, no bairro Jardim Paraíso, em Jacareí.

Da crise surgem novas oportunidades. Uma decisão de grande relevância para algumas paróquias, muitas vezes, é na hora de aprovar o projeto de reforma. Seja na igreja matriz, ou em comunidades que pertençam ao território paroquial. De onde virá o recurso financeiro para sustentar a execução?

Essa era a pergunta que o atual pároco da Paróquia Nossa Senhora do Paraíso, Pe. Tiago de Jesus Crucificado, se fazia no ano de 2016. O padre conta que eram duas situações: o desejo de fazer a reforma, mas a impossibilidade de a comunidade conseguir colaborar financeiramente pois grande parte estava desempregada.

O pároco, então, convoca um grupo de pessoas para partilhar uma ideia com eles: iniciar uma campanha de arrecadação de material reciclável na paróquia. Uns acreditaram de imediato e outros ficaram em dúvida se daria certo.

“O primeiro passo era mostrar para a comunidade a importância de compartilhar do material reciclado para o sucesso desse projeto (a obra da igreja matriz)”, lembra o padre.

No segundo semestre de 2016, deu-se início as obras da reforma da igreja matriz.

Os novos vitrais da igreja matriz são frutos do recurso financeiro gerado com a arrecadação de material reciclado.

Conscientização. Aos poucos toda a comunidade já estava adepta ao novo costume: levar para a igreja tudo reciclável que antes ia para o lixo.

Uma das questões trabalhadas também pelo idealizador da campanha, Pe. Tiago, foi conscientizar os paroquianos de que ao trazerem para a igreja o material reciclado, ele estará colaborando com a mesma dignidade de um dizimista que coloca sua oferta na missa. “Esse foi o ponto de partida. A pessoa passa a enxergar essa importância que ela tem para a comunidade. Tudo o que foi doado seria revertido em prol da reforma da igreja”, destaca o padre.

Uma atitude tão simples que contagiou o coração das pessoas! Aos poucos, todos foram vendo o resultado pois o recurso financeiro estava sendo investido na reforma da igreja matriz.

A ideia foi apresentada a todo Conselho de Pastoral. Todas as pastorais e movimentos abraçaram a ideia. Com essa iniciativa, criou esse hábito na comunidade. As pessoas param o carro na porta da igreja, abrem o porta-malas e descem com a sacola de material para doação.

Crianças da catequese, jovens da crisma também abraçaram e colaboram com a doação de materiais. Atingimos todas as faixas etárias.

Hoje, a paróquia já instalou o primeiro conjunto de vitrais, construiu o altar de Nossa Senhora do Paraíso, que não existia, e efetivou uma série de melhorias na estrutura predial. Tudo isso, fruto do dízimo e, sobretudo, do projeto de reciclagem.

Atitude que contagia. A mobilização foi tão grande que condomínios da redondeza já têm o compromisso de separar o reciclável e doar para o projeto da paróquia. “Em pouco mais de um ano de trabalho, já conseguimos recolher no território da paróquia e também de condomínios que enxergaram a seriedade do projeto, cerca de 25 toneladas de material reciclável”, lembra padre Tiago. “É uma alegria muito grande, pois nossa estrutura é pequena. Não somos uma usina de reciclagem, mas já conseguimos dar um avanço grande nesse sentido,” completa.

Capela Dom Bosco é um dos locais de entrega dos materiais trazidos pelos paroquianos.

Sustentabilidade x geração de renda. Todo o material recebido é levado para um local próximo à igreja matriz onde é feita a separação e armazenamento dos itens antes de serem destinados às empresas especializadas em reciclagem. Outra vertente dessa iniciativa é a oportunidade de trabalho dada a alguns voluntários, que antes estavam desempregados, e hoje já recebem uma espécie de bolsa auxílio pelo trabalho prestado.

É o caso de Claudia Barros, que é diarista e é uma das voluntárias no projeto. “Eu já trabalhava com reciclagem na rua e muitas pessoas enxergam como ‘lixo’. É preciso ter essa consciência para que, cada vez mais, nós tenhamos o hábito de separar o lixo e colaborar com a geração de renda de várias famílias”, avalia a voluntária.

Jefferson Rodrigues é Casa de Assis, entidade parceira da paróquia, e há 3 meses faz parte da equipe do projeto de reciclagem. Ele integrou o grupo a pedido do padre e vê nessa iniciativa uma forma de se ressocializar novamente, ser valorizado pela sociedade.

“Tivemos a preocupação de nos voltarmos para a Casa de Assis. Eles são grandes protagonistas direto nesse projeto de ressocializar pessoas excluídas, colocadas de lado pela sociedade. O objetivo é fazer eles participarem e se sintam importantes na comunidade”, ressalta o padre. A parceria abriu portas para outra iniciativa pois foram descobertos talentos entre os assistidos pela Casa de Assis, “alguns marceneiros, serralheiros, mas por envolvimento com drogas foram esquecidos pela comunidade e agora vivem novamente a experiência da dignidade”.

A missão continua. Um projeto a longo prazo da comunidade é transformar a atividade realizada hoje em uma cooperativa de reciclagem. “Para isso temos um longo caminho a percorrer. Um dos desafios é cessar o preconceito existente em mexer com ‘lixo’. Pessoas ainda enxergam isso como a última classe de trabalho. Mas com relação a isso já avançamos”, avalia o padre.

O processo de profissionalização das pessoas, capacitação técnica, até tornar-se uma cooperativa demanda um certo tempo e um bom planejamento. Mas tudo está se encaminhando para isso.

O presidente nacional da Fundação Internacional dos padres jesuítas esteve na paróquia no ano passado e ficou admirado com o resultado financeiro e sustentável do projeto. Com isso, já tramita uma ação de intenção para transformar em uma unidade do “Fé e Alegria” (Organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que promove no Brasil processos educativos integrais, inclusivos e de qualidade e ações de promoção social).

Hoje o projeto já caminha por si só. Ganhou a confiança das pessoas e conseguiu mostrar que com atitude é possível tornar um sonho em realidade. E o mais importante, fazendo com que os pilar social, ambiental e econômica da sustentabilidade caminhem lado a lado!

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