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Palavra do Pastor › 09/03/2012

Quaresma 2012

Estamos vivendo a Quaresma, que nos oferece a oportunidade de refletir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Neste ano, ao Papa Bento XVI escolheu como tema de sua mensagem para este tempo quaresmal a afirmação da Carta aos Hebreus: “Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hb 10, 24).  Lembra o Santo Padre que “esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor ‘com um coração sincero, com a plena segurança da fé’’ (v. 22), de conservarmos firmemente ‘a profissão da nossa esperança’ (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, ‘o amor e as boas obras’ (v. 24)”. O v. 24, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.

Num primeiro momento, o Papa reflete sobre o convite: prestar atenção. Ele diz: “o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela ‘esfera privada’. Também hoje Deus nos pede para sermos o ‘guarda’ dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o fato de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego [outro eu], infinitamente amado pelo Senhor”.

Ensina o Santo Padre que a “atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é ‘bom e faz o bem’ (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão”.

O bem espiritual do outro inclui também a correção fraterna. Diz o Papa: “E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro”. Ele lembra que a “tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de ‘corrigir os que erram’. É importante recuperar esta dimensão do amor cristão”.

Num segundo momento, o Santo Padre chama a atenção para o do dom da reciprocidade. Primeiro alerta: “o fato de sermos o ‘guarda’ dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual”.  Depois chama a atenção: “os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social”.

Num terceiro momento, o Papa reflete sobre a expressão “para nos estimularmos ao amor e as boas obras”, dizendo: “esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efetivo sempre maior, ‘como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia’ (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus”.

Desejo que esta mensagem do Santo Padre ajude a todos e cada um de nós a viver melhor esta Quaresma, preparando-nos assim para celebrar a Páscoa do Senhor.

Dom Moacir Silva
Bispo Diocesano

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