Entrevista com o jornalista Helcio Costa
[dropcap]E[/dropcap]m 2017, o Jornal Expressão chega à marca dos 25 anos de circulação na Diocese de São José dos Campos. Uma agenda comemorativa está sendo preparada para celebrar esse ano jubilar, inclusive, um Conselho de Leitores será criado para favorecer ainda mais a participação do público com o que é veiculado no JE. Mas você sabe pra quê serve e como funciona esse conselho? Conversamos com Helcio Costa, jornalista que instituiu esse núcleo em um dos veículos de maior relevância de nossa região.
Jornal Expressão: O que é um conselho de leitores?
Helcio Costa: O Conselho de Leitores é um dos instrumentos usados para dar voz aos leitores, ao público consumidor de informação, frente aos responsáveis pela condução editorial de um veículo de comunicação. Ele é o leitor participando da condução editorial do veículo, tendo voz ativa, conversando diretamente com quem decide o que é notícia e o que não é notícia dentro de um jornal. Funciona como uma linha direta entre os leitores e o comando de redação de um jornal. No país, essa experiência tem como base as diretrizes da ANJ (Associação Nacional de Jornais), organismo que reúne representantes de quase 100 jornais brasileiros de grande e médio porte. A ANJ listou 10 mecanismos de transparência de um veículo frente a seu público, entre eles o Conselho de Leitores. Jornais como “Zero Hora” e “Gazeta do Povo”, líderes de mercado no Rio Grande do Sul e Paraná, têm conselhos há décadas e fazem bom uso deles. Na região do Vale do Paraíba, dois jornais tiveram conselhos, “ValeParaibano” e “O Vale”. Hoje, infelizmente, não existe nenhum conselho desse tipo em atividade na região.
Jornal Expressão: Como é a estrutura desse conselho?
Helcio Costa: A estrutura é bastante simples: o conselho é integrado por pessoas selecionadas pelo veículo com base no perfil de seus leitores, levando em conta sexo, idade, classe social, profissão, nível de escolaridade, CEP, entre outros itens. Por exemplo, se um jornal tem, no universo de leitores, 40% de mulheres e 60% de homens, esse equilíbrio é replicado no conselho. Dessa forma, são selecionados de 10 a 12 leitores (esse número varia de acordo com o veículo), mais 4 suplentes, para integrar o Conselho de Leitores, grupo que tem um mandato de 12 meses, renovável por igual período.
Basicamente se estabelece um pacto entre jornal e conselheiros.
Os conselheiros se comprometem a ler o produto com periodicidade e a analisar seu conteúdo, e o veículo se compromete a disponibilizar o conteúdo do jornal, impresso ou eletrônico, a cada integrante do conselho.
Jornal Expressão: De onde surgiu a ideia de trazer os leitores para dialogar e participar do jornal do qual esteve à frente?
Helcio Costa: Os dois Conselhos de Leitores que existiram na região foram criados por mim quando editor-chefe do “ValeParaibano” e “O Vale”. Tive a ideia ao estudar exemplos de jornais regionais de sucesso no país, como os já citados “ZH” e “Gazeta do Povo”, além de outros, como o “Correio Braziliense” e “O Povo”, de Brasília e Ceará, respectivamente. Todos, à época, mantinham conselhos. Depois, a ANJ criou seu decálogo de transparência, isto é, listou práticas de transparência que poderiam ser adotadas por veículos de comunicação frente ao mercado leitor. Unindo as duas pontas, decidi, com a anuência da direção do jornal, apostar nessa ideia. O primeiro conselho, do “ValeParaibano”, foi criado em 2006.
Jornal Expressão: Como agir para conseguir uma gestão participativa junto ao grupo de conselheiros?
Helcio Costa: O grupo precisa ter segurança de que sua opinião, seu ponto de vista, tem importância para o veículo, e de que será ouvido. Para isso, ele tem que ter liberdade de opinião seja para apontar falhas, cobrar melhorias no produto, calibrar coberturas, seja para elogiar, quando necessário.
Nos dois jornais regionais que dirigi, o funcionamento do conselho era simples.
Partia de uma reunião mensal, aos sábados, entre o comando de Redação (editores, repórteres especiais, etc) e o Conselho de Leitores. Nesta reunião se fazia um balanço das edições de um determinado período, com críticas e sugestões. O conselho era também convidado a participar de coberturas especiais (como debates dos candidatos a prefeito, por exemplo) e tinha um canal livre de expressão no site do jornal, um blog, onde textos de análise das edições eram postados diretamente por seus integrantes, sem intermediação da redação.
Diversas ideias dos conselheiros foram adotadas pelos jornais, de campanhas de coleta seletiva de resíduos em parques de São José, em parceria com a Urbam, a campanha contra a violência, por exemplo, além de melhorias no dia a dia das publicações.
Jornal Expressão: Qual a importância em ouvir o leitor? Isso ajuda a aumentar a interação e a proximidade com o veículo?
Helcio Costa: O leitor sabe muito mais o que espera de um jornal, de um veículo, do que qualquer jornalista, por mais experiente que ele seja. Isso não é uma frase de efeito, é a mais pura verdade.
Multiplique isso pelo número de leitores e você terá infinitas visões sobre o mesmo produto. Ouvir esse grupo, ou um microcosmo desse grupo, amplia a visão que o comando de uma redação tem sobre o produto, ajuda a entender para quem você escreve. Do lado da redação, é um exercício interessante –e democrático– colocar seu trabalho sob escrutínio direto do seu cliente, seu consumidor. É um grupo de pesquisa qualitativa, reunido mensalmente, com a missão de ajudar você a melhorar seu produto. É um ganho considerável.
Do lado do leitor, a figura do conselho cria um pertencimento importante, uma sensação salutar de participação no produto. O leitor passa a tratar o jornal, cada vez mais, como o “seu” jornal, criando um elo forte público-veículo. Não é isso que todas as empresas, instituições almejam?