Papa Francisco: o sofrimento dos refugiados é responsabilidade de todos
Rádio Vaticano
A Praça S. Pedro acolheu mais de 25 mil fiéis, entre os quais inúmeros brasileiros, para a Audiência Geral desta quarta-feira (26/10) com o Papa Francisco.
Em sua catequese, o Pontífice deu sequência à reflexão sobre as obras corporais de misericórdia. Na semana passada, falou sobre dar de comer e de beber. Desta vez, comentou outras duas: era estrangeiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes.
“A crise econômica, os conflitos armados e as mudanças climáticas obrigam tantas pessoas a emigrar. Todavia, as migrações não são um fenômeno novo, mas pertencem à história da humanidade. É falta de memória histórica pensar que são características dos nossos anos”, disse o Papa, citando como exemplo episódios bíblicos, como o de Abraão, do povo de Israel e da própria família de Jesus. “A história da humanidade é história de migrações: em todas as latitudes, não há povo que não tenha conhecido o fenômeno migratório.”
Crise econômica gera muros e barreiras
Hoje, lamentou o Papa, o contexto de crise econômica favorece atitudes de fechamento e não de acolhimento. Em algumas partes do mundo, surgem muros e barreiras. O instinto egoísta ofusca o trabalho de quem se esforça em assistir os migrantes. Mas o fechamento não é uma solução; pelo contrário, favorece os tráficos criminosos. A única via de solução é a da solidariedade, à qual os cristãos são chamados com particular urgência.
“É um compromisso que envolve todo mundo, ninguém está excluído. As dioceses, as paróquias, os institutos de vida consagrada, as associações e os movimentos são chamados a acolher os irmãos e as irmãs que fogem da guerra, da fome, da violência e de condições de vida desumanas. Todos juntos somos uma grande força de amparo para quem perdeu a pátria, a família, o trabalho e a dignidade.”
A lição da senhora com o migrante no taxi
O Papa então contou aos fiéis um fato ocorrido poucos dias atrás, de um refugiado que procurava o caminho para atravessar a Porta Santa. Uma senhora ofereceu ajuda e parou um taxi para que acompanhasse o rapaz. No início, o taxista não queria que o migrante entrasse no carro, pois estava descalço e cheirava mal. Ao final acabou cedendo e, no caminho, ouviu a história de dor e sofrimento que o refugiado contou à senhora. Esta, quando quis pagar a corrida, ouviu do taxista que era ele quem deveria pagá-la, pois esta história havia mudado o seu coração. Esta senhora conhecia a dor de um migrante, porque tinha sangue armênio e conhecia o sofrimento do seu povo. “Pensem nessa história e pensem no que podem fazer pelos refugiados.”
Vestir os nus é restituir dignidade
Na sequência, o Papa comentou a outra obra corporal de misericórdia: vestir os nus. “Do que se trata senão restituir a dignidade a quem a perdeu?”, questionou o Pontífice. “Pensemos também nas mulheres vítimas do tráfico lançadas nas ruas ou a outros, demasiados modos de usar o corpo humano como mercadoria, até mesmo de crianças e adolescentes. Do mesmo modo, não ter um trabalho, uma casa, um salário justo, ou ser discriminado pela raça ou pela fé são todas formas de “nudez” diante das quais, como cristãos, somos chamados a estar atentos e prontos à ação.
E esta foi exortação final de Francisco:
“Queridos irmãos e irmãs, não caiamos na armadilha de nos fecharmos em nós mesmos, indiferentes às necessidades dos irmãos e preocupados somente com os nossos interesses. É precisamente na medida em que nos abrimos aos outros que a vida se torna fecunda, as sociedades reconquistam a paz e as pessoas recuperam sua plena dignidade. E não se esqueçam daquela senhora, daquele migrante e do taxista do qual o migrante mudou a alma.”